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Agora que voltei para casa - Capítulo 34

por Angela Li Volsi em Espiritualidade
Atualizado em 30/12/2004 16:20:24


A impressão que eu tenho é de que, para chegar a me ‘re-conhecer’, preciso desconstruir todo um arcabouço que levei a vida inteira para levantar, com a finalidade inconsciente de me esconder de mim mesma e dos outros. Isto não parece absurdo?
Mais absurdo ainda é ter passado a vida inteira procurando respostas que não só estavam refletidas em todas as teorias que avidamente persegui, mas na verdade só faziam ecoar as respostas que desde sempre carreguei dentro de mim mesma.

Toda a diferença entre o que ouvi até aqui e entendi só com a cabeça, admirando a originalidade das idéias, e o trabalho nos grupos de S., é que nestes grupos o brilho intelectual, as palavras bonitas, têm uma cotação muito baixa. O que se valoriza, o que se estimula o tempo todo é a capacidade de sentir, e de expressar o que sentimos.
O que venho descobrindo parece um ovo de Colombo, mas é um giro de 180 graus sobre as antigas crenças cartesianas: só podemos dizer que “somos” quando sentimos. O trabalho, em última análise, resume-se a isto: exercer o ser.
Trata-se agora de arregaçar as mangas e nos empenhar em pôr em prática o efeito de cada descoberta sobre nós mesmos. No trabalho com os grupos, somos constantemente incitados a praticar os “exercícios”, que nada mais são do que a passagem da teoria à prática do auto-reconhecimento.

Há uma pergunta que sempre me fiz cuja resposta sempre me intrigou. A pergunta é: “Por que só posso ser feliz se os outros me aprovam”?
Só recentemente, na minha provecta idade, cheguei à brilhante conclusão de que sempre confundi “amar” com “admirar”. Sempre achei que era impossível amar alguém sem admirá-lo(a).
Isso me valeu uma primeira, preocupante indagação sobre quem realmente amei, ou quem admirei em toda minha vida, indagação essa que ainda não foi totalmente resolvida.
Esta confusão lança uma nova luz sobre minha relação comigo mesma. Se eu só posso me amar se me admirar, isso explica a constante cobrança e busca da perfeição, obviamente nunca satisfeitas.
Mas, voltando à minha pergunta, só agora vim entender que ela encerra um erro de base.
Nunca vou ser feliz se depender da aprovação dos outros. Só posso ser feliz se me aprovar em primeiro lugar, mas só isso também não vai ser suficiente, vai ser preciso aprender a me amar, e isso implica em primeiro lugar aprender a me perdoar e a me aceitar como sou.
Quantas vezes ouvi S. dizer a mim mesma ou a outros: “Se você mesmo não gosta de si, como pode esperar que alguém estranho, que não o conhece, se apaixone por você? Trate antes de demonstrar seu amor por si mesmo, fazendo tudo para tornar sua vida feliz”.

Outras frases que ouvi repetir inúmeras vezes só agora começam a fazer sentido: “Seja seu primeiro ouvinte”; “Seja seu melhor amigo”; “A pessoa mais difícil que a vida colocou no seu caminho é você mesmo”.
Porque só agora essas frases que cansei de ouvir, de ler, de ver repetidas nos ensinamentos de tantos mestres que conheci, fazem sentido e me parecem maravilhosamente novas? Porque só agora estou experimentando a deliciosa sensação de liberdade que me dá acreditar nelas, mas não com a mente, e sim procurando vivenciá-las de verdade.
Eu sei que é muito fácil falar, mas daí a obter resultados concretos vai uma grande diferença. O trabalho é árduo, saber que eu sou a única responsável pelo meu bem e pelo meu mal provoca-me uma espécie de vertigem. Ao mesmo tempo, parece-me uma conquista incalculável ter certeza de que, assim como consegui me aprisionar, também posso me libertar.
Deste novo ângulo de visão, relembrando todos os grupos de que tenho participado, chamam-me a atenção algumas constantes que se repetem, e que estão na base da infelicidade geral.
A primeira, a mais forte, é a dificuldade que quase todos temos de lidar com os afetos familiares. Por uma razão ou por outra, quase todos temos questões não resolvidas com pelo menos um membro da família. Não será este um excelente laboratório que a vida nos ofereceu para nos ajudar a localizar a tal questão individual que viemos trabalhar nesta vida?

Por experiência própria, sei que o que faz mais estragos na auto-realização de todos nós é a distorção com que enxergamos nosso próprio valor. Em geral, quanto mais exigentes e autocríticos, mais temos tendência a nos desvalorizar e a exagerar as deficiências, invalidando qualidades às vezes notáveis.
A suposta timidez nada mais é do que uma forma de orgulho, que nos impede de nos colocarmos, de medo de um eventual insucesso, que a maioria das vezes é injustificado.
É assim que venho assistindo à queda sucessiva de minhas antigas crenças.
De todas, a verdade mais dura de aceitar foi constatar minha arrogância em não me perdoar por ter errado nas escolhas mais importantes de minha vida, que não por acaso eram aquelas que envolviam meus sentimentos mais básicos.
É como se eu me considerasse tão infalível que o fato de ter errado merecesse uma punição exemplar.
Não vou desfiar aqui todo o rosário de meus “mea culpa”.
Se estou compartilhando todas essas descobertas, que a muitos certamente parecerão pueris, não é por achar que estou fazendo alguma revelação extraordinária.
Também não gostaria de passar, sem querer, a imagem de alguém que já encontrou a solução de todos os seus problemas.

Continuo me considerando uma eterna aprendiz de mim mesma. O que faz toda a diferença é que agora sinto a suficiente confiança para me entregar ao prazer da descoberta, sem falsas expectativas e sem inúteis cobranças.
Acima de tudo, quero declarar o quanto sou agradecida a todas as situações e a todas as pessoas que permitiram me aproximar um pouco mais de minha verdadeira essência.

Uma das poucas certezas que tenho é de que só me desviei de mim mesma quando não confiei suficientemente na vida. Essa ‘des-confiança’, que jogou muitas vezes sua sombra sobre minhas decisões, foi meu verdadeiro “pecado”. Todas as vezes que traí a voz de meu coração, e me adiantei em tomar providências comandadas pela razão, provoquei um desequilíbrio que a vida, em sua amorosidade, certamente me teria poupado.


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clube Angela Li Volsi é colaboradora nesta seção porque sua história foi selecionada como um grande depoimento de um ser humano que descobriu os caminhos da medicina alternativa como forma de curar as feridas emocionais e físicas. Através de capítulos semanais você vai acompanhar a trajetória desta mulher que, como todos nós, está buscando...
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