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Alegria: uma criança dentro de nós

por Maria Guida em Espiritualidade
Atualizado em 08/09/2003 11:09:03


Quando entrei para a Fraternidade Branca, Jacira, a mulher que me apresentou aos Mestres Ascensionados, me falou muito sobre a existência dos Elementais. Ela me disse que as flores eram moradas das fadas, que as Salamandras despertam quando acendemos o fogo, que a fertilidade do solo é mantida pelos Duendes, que o movimento das águas é a dança das Ondinas.

Depois de nossa conversa, um estranho sentimento tomou conta de mim. Era como se, por um passe de mágica, eu tivesse retornado à minha mais tenra infância. Lembrei dos anos que passei na casa de meu avô materno. E de como o mundo ficava diferente nos dias de chuva.

Ninguém nunca entendeu direito porque eu, uma criança chorona e melancólica, pulava tanto, sorria e batia palmas quando chovia. Ou porque eu ficava horas, quietinha, esperando ansiosa a chuva começar a cair. Tempestades e chuvas, sempre tiveram, e têm ainda, um significado profundo e diferente para mim. Porque foi durante uma tarde de chuva que os olhos do meu dom se abriram, espontaneamente, pela primeira vez.

E eu vi.

Os seres eram transparentes, com cores muito claras e brilhantes. Eles cintilavam.
Se naquela época eu tivesse visto os filmes da Disney, ou os desenhos animados da televisão, poderia dizer que minha imaginação de criança estava sendo influenciada por eles. Mas isso aconteceu nos anos cinqüenta. Éramos muito pobres. Não tínhamos acesso ao cinema, nem à televisão.

Eu via minúsculos cavalos brancos com asas, que bem mais tarde soube chamarem-se unicórnios. Eu via pequenas mulheres, em lindos vestidos, com jóias e asas de libélula, esvoaçando no meio da chuva. Corolas de flores coloridas e pequenas taças de cristal se formavam e se desfaziam no lugar onde os pingos caíam no chão.

A chuva era a minha alegria. E ainda é.

Voltando ao dia em que conheci a Fraternidade, depois de ouvir o que Jacira me disse, voltei para casa. Enquanto tomava banho, uma enorme alegria me invadiu. Tal como quando criança, eu pulava, sorria e batia palmas, debaixo do chuveiro, dizendo em voz alta, a mim mesma:
Era tudo verdade! Era tudo verdade!

Lembrei do que sentia quando - aos doze anos - sob os olhos embasbacados de papai e mamãe, decidi fazer canteiros de feijões e violetas no quintal. Eles eram a minha alegria.

Quando eu encontrei Jacira, e a Fraternidade Branca, essa alegria voltou a me visitar.
Na meditação, chamas de um alaranjado vivo começaram a surgir, dançando diante de meus olhos abertos. A mulher triste que eu era quando entrei em contato com os ensinamentos de Saint Germain, de repente queria tecer e dançar.
Eu ria. Era um riso solto e aberto, como só quando era menina conseguia expressar.

Um dia minha mãe me mandou uma caixa pelo correio. Dentro da caixa estavam meus boletins e outras coisas de colégio. Medalhas e diplomas de bom comportamento, e minhas fotos de bebê.
O contato com tudo aquilo foi uma benção e um desafio. A benção foi revelar o quanto daquela criaturinha pura, doce e cheia de curiosidade ainda havia bem no fundo da mulher séria, dura, e exageradamente responsável na qual me transformei.
O desafio passou a ser entrar em contato com aquela criança, faze-la confiar em mim, e por fim, mostrar ao mundo que ela ainda estava lá.

Num dia triste de maio, Isabel Telles, com suas Imagens Mentais, me mostrou o caminho para começar.
Ainda não consegui vencer completamente o desafio. Poucos percebem esta busca, e são poucas as pessoas a quem eu mostro meu tesouro infantil.
O abandono e o riso da criança que mora em mim só aparece se estou em contato com gente amiga, aquelas a quem amo e confio.

Mas, volta e meia, essa garota surge, inesperadamente, no meio da rua, ou diante de gente que eu acabei de conhecer.
Gosto disso. Gosto do estar com meu olhar desarmado, da certeza que sinto, muitas vezes, de que não preciso me proteger tanto, de que posso transitar pela vida, e ser aceita com todos os meus atributos - qualidades e defeitos - solta como uma criança que brinca, como se o mundo fosse um parque, ou um quintal. E que também não faz mal se eu não for aceita.

Um homem que eu conheço, um grande amigo, me disse recentemente que depois dos cinqüenta, a gente decide, novamente, como no nascimento, se quer viver ou morrer.
A maturidade nos obriga ao exercício do renascimento.

Estou no limiar dessa conquista. Uma parte de mim agoniza, e com certeza vai morrer. Não me importo. Já coloquei na bagagem da Maria Guida que parte e se desprende de mim, todas as coisas de que não preciso mais.

Mas a pequena e doce criança, a que gosta da chuva e tem olhos para ver o invisível vai ficar comigo.
Quero que ela viva, cresça, olhe para o mundo através dos meus olhos míopes, com seus olhos brilhantes e felizes se encantando com tudo o que vê.

Quero que ela cresça, que tome conta do meu mundo, que se aproprie de todo o conhecimento que acumulei nesses cinqüenta anos, e com ele faça uma festa, para mim e para todos os caminham comigo na direção da Luz.

E peço a vocês, que têm pacientemente acompanhado parte da minha caminhada, que também procurem sua criança interior. Busquem pelas melhores memórias da infância, pelo encantamento das pequenas descobertas, percebam o som do riso que tinham, lembrem a limpidez do olhar.

Esta criança está lá, e sempre aparece quando estamos felizes. Seja qual for o nome que ela tenha, esqueçam, isso não é importante. Ela é uma chama alaranjada e quente, que deixa nossas faces coradas e nossos olhos brilhantes.

Ela se chama alegria e é resultado da união entre o raio amarelo da sabedoria e o raio rubi da devoção, dois dos sete grandes atributos de Deus.
Não é preciso ser sábio ou devoto para ser alegre, mas sem alegria, certamente não é possível alcançar sabedoria ou devoção.

Nossas crianças interiores sabem disso melhor do que nós, e esperam, pacientemente, no fundo de nossos olhos e corações, a nossa permissão para rir e brincar.
Quando um de nós consegue fazer isso, todos os outros se sentem mais animados a tentar.

E, acho que agora, todos já sabem muito bem o porquê.

Afinal, sempre, e de novo, porque Somos Todos UM.


* Elementais: Forças sutis energéticas; formas da Natureza que agem nos planos de funcionamento do universo. Pertencem aos 4 elementos da Natureza: terra, água, fogo e ar.



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