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Aloha! O Paraíso é aqui...

por Adília Belotti em Espiritualidade
Atualizado em 01/04/2005 12:45:49


Existem lugares que a gente nem precisa visitar. Lugares que por alguma razão ocuparam um espacinho da nossa alma, de tal forma que podemos quase tocá-los com a imaginação. Para mim, desde menina, um destes lugares mágicos é o Havaí. E não é apenas o fascínio que despertam aquelas formidáveis ondas, embora eu sempre tenha me perguntado que tipo de povo conseguiria conviver com um oceano assim poderoso... Como conseguem dormir sabendo que lá fora, no quintal, a Natureza exibe seus poderes de forma tão extraordinária? E quando chove, meu Deus, e aquele colosso cinza-chumbo ruge sua fúria na porta da sua cabana?

Não, embora fascinantes, as ondas poderosas do Havaí são só parte da imagem de paraíso que está tatuada em mim. O Havaí da minha imaginação é feito de selvas pontilhadas de orquídeas, frescas e verdes, onde o sol cai em chuva pela copa das árvores e, mais do que tudo por uma palavra: aloha!. Sim, para mim, apaixonada por palavras, aloha tem uma quentura carinhosa que nunca me preocupei em explicar... até a semana passada..

Aloha! aloha! A culpa foi do livro que recebi, As receitas do prazer, escrito por um psicólogo americano especializado em psicoimunologia. Logo de cara, ele define: “aloha tem muitos significados, entre eles amor, sopro sagrado, olá, adeus, mas a palavra também contém os fundamentos filosóficos da vida na Polinésia”. Segundo o Dr. Paul Pearsall, autor do livro, a gente da Polinésia fez coincidir cada letra da palavra com a qual saúdam os estrangeiros com um princípio ou uma lição.

E com ela construíram uma espécie de equação de vida mais ou menos assim: A=Ahouni: paciência, que se expressa na perseverança;
L=Lokahi: unidade com a terra expressa harmoniosamente;
O=Olu’Olu: concordância, que se expressa na afabilidade;
H=Há’aha’a: humildade, que se expressa na modéstia e na discrição;
A=Akahai: gentileza, que se expressa na ternura.

Tudo isto está lá, a cada vez que você pronuncia... ALOHA!

Aloha, Havaí, Polinésia... Os povos que moram no rendado de ilhas agrupadas entre a pontinha da Ásia e a Austrália estão lá há quase 30 mil anos. E embora as ilhas sejam tão coloridas culturalmente quanto numerosas, os estudiosos conseguem chegar a padrões comuns, que se revelam através dos mitos antigos, de muito antes da chegada das grandes religiões, como o islamismo, o budismo, o cristianismo. Estes mitos falam da escuridão primordial que foi dando espaço à luz. Falam dos primeiros pais da criação, de seus filhos e de heróis humanos que compartilhavam com os deuses o poder e a autoridade espiritual, chamado MANA. O mana é o que mantém vivos os valores e preserva a harmonia dos povos polinésios. É o poder de saber a vontade dos deuses e de prever seus volúveis desejos. De curar e de compreender a mágica do mundo. Está presente nos cantos, nas danças, nos rituais, na reverência aos antepassados. E se, num primeiro momento foi privilégio de uma rede supercomplexa e hierarquizada de sacerdotes e xamãs, aos poucos foi se diluindo, diluindo, feito água preciosa, a ponto de fazer o historiador das religiões Mircea Eliade falar em mediunidade coletiva dos povos da região.

Depois de dar alguma consistência aos meus conhecimentos sobre o paraíso da minha infância e embalada no ritmo marinho das melodias havaianas que consegui na Internet, voltei ao livro do Dr. Pearsall. “Diferentemente do ideal de vida ocidental (no qual cada pessoa é ensinada a bastar-se a si mesma e buscar sua realização pessoal) e do ideal de vida oriental (que enfatiza a busca da iluminação), a cultura polinésia ou oceânica ensina que a base de uma vida alegre e saudável consiste em partilhar com outras pessoas o que essa vida tem de sagrado e prazeiroso”, propõe o autor logo na primeira página. E é pelos caminhos desta subversão total que ele vai nos levando, páginas afora. Mas e se for mesmo possível? E se este tempo todo tivermos sido enganados e o caminho para a felicidade for mesmo o bem ou o sorriso do outro?

“Pesquisas atuais indicam que aqueles que dão mais acabam ganhando mais em termos de saúde e de cura mais efetiva. (...) O prazer saudável advém de querer o que se possui, ter e conseguir apenas o que se necessita, ajudando os outros a terem o que necessitam, obter menos para permitir que os outros obtenham mais e estar sempre pronto para ajudar as outras pessoas”. Pronto, você, como eu, aprendeu a vida toda que precisava amar ao próximo como a si mesmo? Esqueça. O mundo do futuro pede de suas criaturas um outro tipo de adaptação: precisamos aprender a colaborar, a compartilhar, a doar. Em resumo: a extrair nossa felicidade da felicidade do outro. Esta é nossa garantia, não só de sobreviver como espécie, mas de viver de forma mais saudável e plena como indivíduos.

Aliás, o próprio conceito de felicidade é reconstruído. De acordo com a interpretação polinésia-psicológica do dr. Pearsall, a busca da felicidade só nos torna mais e mais infelizes. Nossa verdadeira meta deveria ser perseguir a harmonia e o equilíbrio. Na prática, isto quer dizer que a infelicidade é tão natural quanto a felicidade e que “ela contribui para conferir significado e intensidade à felicidade”. O prazer e o sentido da vida nascem de outra fonte. Do equilíbrio entre amar, trabalhar, divertir-se e curar. Assim, simplesmente. E como não estamos acostumados, estes conceitos assombram, deslumbram, fazem mesmo sonhar com outros jeitos de estar no mundo, mais simples, mais compassivos. E se fosse mesmo possível?

Ewehe i ka uauma i akea. Abra o peito para que ele seja espaçoso, pede o Dr. Pearsall, garantindo que esta união tão sui generis da mais moderna psicologia com as antigas práticas espirituais destes povos coloridos de tanto mar, funciona, sim. E se fosse mesmo possível?
E como estamos falando de ilhas e de gente acostumada a deslizar sem medo por entre ondas fenomenais, nada mais natural que o psicólogo criar uma cartilha de bem-viver chamada Dez Caminhos do Navegador Contente que vou compartilhar agora com você:

1. Pense em você como um navegador singrando os oceanos da vida e não como um general lutando para viver;
2. Queira o que você já tem, em vez de almejar o que você quer ter;
3. Quando sua vida ficar muito estressante, em vez de lutar ou fugir, siga a corrente: mae e holo ana (acompanhe o fluxo), dizem os havaianos;
4. Procure possuir menos em vez de mais;
5. Procure fazer menos;
6. Diga “não” em vez de “sim” às oportunidades;
7. Desista de controlar;
8. Pense menos em vencer;
9. Pense menos sobre o tempo;
10. Pense mais na sua família e faça mais, muito mais por ela.


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adilia
Adília Belotti é jornalista e mãe de quatro filhos e também é colunista do Somos Todos UM.
Sou apaixonada por livros, pelas idéias, pelas pessoas, não necessariamente nesta ordem...
Em 2006 lançou seu primeiro livro Toques da Alma.
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