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Ciência e Espiritualidade - Parte 2

por Acid em Espiritualidade
Atualizado em 24/06/2005 12:07:20


Continuação do artigo "Jung e a Nova Era", de David Tacey:

Jung reconheceria na Nova Era uma confusão fundamental entre o ego (self pessoal) e a alma (ou o Self no sentido junguiano mais amplo). Na verdadeira prática religiosa, é a alma que encontra remissão e libertação, pois esta é a parte imortal da pessoa. Paradoxalmente, a salvação da alma é ao mesmo tempo uma mortificação do ego, daí a formulação: "quem quer que perca sua vida por minha causa a encontrará" (Mateus 16:25). No passado, a necessária mortificação do ego foi confundida com a mortificação do corpo, da sexualidade e do feminino, e isto surgiu amplamente a partir da cisão, na psique ocidental, entre o espírito e a matéria. Mas hoje, com nosso conhecimento psicológico maior, ficamos mais próximos do mistério cristão percebendo que é o ego é que precisa ser deslocado de modo que a salvação possa tomar lugar. Na Nova Era, não há verdadeira separação entre o ego e a alma transpessoal; assim, o primeiro estágio na verdadeira consciência religiosa não é adquirido; ou, em vez disso, um processo religioso é conduzido e em cada ponto desta jornada a vida espiritual é contaminada com os desejos e ânsias do ego. Neste caminho a jornada espiritual é corrompida, e degenera em uma viagem de ego (egotrip). À medida em que a alma é libertada de seus grilhões e é elevada a uma realidade maior, o ego quer viajar junto com ela, e o êxtase da libertação do espírito é um êxtase que o ego quer para si. De maneira similar, o faminto ego da Nova Era espia a grandeza e poder de Deus, e se identifica com aquele poder, vendo Deus como algum "recurso sobrenatural não-represado" que pode ser utilizado para a "expansão de potencial humano". Esta é uma fantasia prometéica selvagem e sem limites, e a Nova Era efetivamente acredita no mais fundo de seu coração que o homem pode se tornar (Nota-se que o conceito de Deus aqui é o de alguém com um poder infinito, aquele Deus do imaginário popular. Infelizmente muita gente \'grande\' no estudo esotérico acha que pode canalizar todos os recursos Divinos e deixá-lo no comando do ego, quando na verdade, se você quer se \'tornar DEUS\', vai ter de deixar de ser homem (seja ele no sentido físico, astral ou mental). ) Deus(*). Jung provavelmente classificaria isto como uma espiritualidade psicótica, uma espiritualidade em que o ego tem sido grotescamente inflado a proporções divinas. O papel secundário do ego não foi compreendido, e há uma profunda confusão psicológica e teológica sobre o significado da vida e o papel da humanidade em servir o divino. Intelectualmente, o homem da Nova Era desposa uma filosofia sonhadora, paradisíaca, mas atualmente e de fato ele está cheio de queixas e amargura, porque nada parece caminhar direito. A "perda do ego", que deveria estar ocorrendo conscientemente, cai no inconsciente e, como qualquer coisa inconsciente, está projetada para fora, sobre outros e o (E aparece aquela paranóia do \'Eu estou certo e você está errado\' que infesta várias doutrinas e religiões. Esse raciocínio é usado pra explicar o porque do sofrimento (afinal, se eles estão no caminho certo, como podem as coisas dar errado? Assim, são criados os inimigos, o Satã, para que a pessoa evite analisar sua própria conduta, e sim procurar inimigos em algo externo) e esse pensamento encontra abrigo na mente de muitos espíritas e evangélicos: tudo é encosto, tudo é espírito obsessor, atrapalhando a vida (embora nem Kardec nem Jesus tenham incentivado esse tipo de abordagem vivencial).) mundo(*).

Muitos esotéricos se gabam de dizer que abandonaram o ego, e consequentemente, as coisas da Terra, em favor de um estilo de vida mais pontuadamente relacionado com a realidade da alma. Entretanto, o ego não foi "largado", e por definição não pode ser largado; foi meramente (con)fundido com a vida da alma. Este é o cenário psicológico para o notório problema do egotismo desenfreado, emocionalidade, cisões e competitividade que infestam os grupos, cultos, seitas, ashrams, clubes, sociedades e comunidades da Nova Era. Embora todos estes grupos trabalhem em sentido à transcendência do ego em favor da alma, são freqüentemente destruídos por um egotismo secreto, escuro e maléfico, que corrói os altos ideais e eventualmente causa o colapso da edificação toda. Os devotos declaram que são "nada" perante o divino, ou sem valor diante do carismático professor, mas no pano de fundo há ferozes manobras por privilégios e lugares especiais, por poder e influência dentro do grupo. Nem pode o impulso sexual ser suprimido por uma "intensa devoção" ao etéreo e interesses paradisíacos. O que é negligenciado ou rejeitado volta para nos visitar, e usualmente volta com considerável violência, de modo tal que o ashram local da Nova Era pode acabar como um covil de iniqüidade e perversões das mais diversas (obviamente justificadas com um conteúdo "espiritual"). Jung concordaria que há uma necessidade maior por autoconhecimento na religião ocidental, e que encontramos suficientemente demasiada "fé cega" no cristianismo, com muitas pessoas adotando crenças e doutrinas sem testar estes preceitos contra a experiência. Jung tolera muito do aparato espiritual da Nova Era: sua ênfase sobre diversidade e pluralismo, sobre sabedorias pré e pós-cristãs, sobre meditação, introspecção, e experiência pessoal direta. Entretanto, a menos que a atitude correta seja adotada, o aparato e as tecnologias de auto-ajuda são mais do que inúteis: são positivamente perigosas. Seria melhor que o homem da Nova Era fechasse sua seita suburbana e voltasse para a igreja ou sinagoga para aprender as lições da humildade e da modéstia. Não pode haver transformação espiritual alguma a menos que ego e alma estejam firmemente diferenciados.

Uroboros Em seu desejo de substituir o dualismo ocidental com um novo holismo, a Nova Era tomou um rumo que muitos chamariam de "junguiano". Entretanto, Jung contrasta fortemente dois diferentes tipos ou modelos de totalidade:
O primeiro é o que ele chama de totalidade pré-consciente, a totalidade do universo primordial e amorfo, indiferenciado como uma sopa, e que existiria antes da própria consciência. Nela os pares de opostos estão fundidos (não porque foram unidos em uma totalidade maior, mas porque ainda não foram diferenciados uns de outros). Tudo é "um" porque os "muitos", e os conflitantes pares de opostos que constituem os muitos, ainda não foram trazidos à existência. Jung identifica esta totalidade original com o arquétipo da Grande Mãe, e estes que procuram o incestuoso "retorno à mãe" estão dispostos a idealizar esta condição primeva. Neumann desenvolveu a hipótese de Jung da "grande roda" chamando a este símbolo o Uroboros, ou a serpente que morde o próprio rabo.Mandala Em contraste, Jung postulou (e defendeu) um segundo tipo de totalidade, a Totalidade Consciente, na qual os pares de opostos, separados pelo advento de uma consciência polarizada e unilateral, tornam-se novamente juntos em uma unidade relativa. Esta totalidade, ele sentiu, é o objetivo e ponto-final da (Se a primeira totalidade pode ser comparada com o Éden ou o Paraíso, a segunda totalidade, recuperada, pode ser comparada com a Nova Jerusalém de Blake. Se a primeira totalidade é infantil, e ligada com o sentimento oceânico de Freud, a segunda é um estado mais elevado de consciência, governada não pela Mãe, mas pelo arquétipo do Self. Jung e especialmente Neumann sentiram que era crucial diferenciar entre estes dois tipos de totalidade porque, enquanto a totalidade original pode representar a meta de uma consciência fraca e exausta que desistiu do esforço da vida e quer voltar para o \'berço\', a segunda totalidade representa uma consciência que está avançando a alma do mundo (anima mundi) pela recusa em permitir que os pares de opostos se distanciem.) realização consciente(*). O foco dela é de que a integridade e identidade dos opostos está mantida e respeitada. Totalidade consciente não é um caos semelhante a uma sopa, mas uma unidade claramente diferenciada na qual todas as diferenças e distinções básicas têm sido honradas, vividas e reconciliadas: "Sem a experiência dos opostos não há experiência de totalidade", dizia Jung, que viu na Mandala oriental um "círculo mágico" no qual são preservadas a integridade das formas de vida, das estruturas geométricas e das figuras sagradas, como símbolo da totalidade diferenciada que ele tanto admirava.

A Nova Era advoga um retorno à Mãe do Mundo, e sua ânsia por unidade é a ânsia do infante pela unidade com a mãe. A Nova Era não se vê como herdeira da cultura ou da história do Ocidente, e não está interessada em "completar" esta história, mas meramente em suprimi-la. A Nova Era não afirma o passado, mas quer começar tudo de novo, construir um futuro mais brilhante, menos trágico, e está cansada do embate dos opostos que constitui tanto de nossa história.
Jung argumentaria que não se pode falar de totalidade até que a escuridão ou "sombra" da natureza humana tenha sido maduramente aceita e integrada. Eis aqui onde a Nova Era trai seu infantilismo e sua fingida "totalidade", porque o lado escuro da natureza humana é quase sistematicamente ignorado. A Nova Era está voando da escuridão e da realidade do mal, vendo a escuridão meramente como a (Fosse isso verdadeiro, um padre, um médium, ou um bispo reconhecidamente bons, nunca seriam tentados a errar. Até Jesus e Buda foram tentados, até eles enfrentaram o dual! A escuridão é a inteligência a serviço do ego (que não deixa de ser uma ignorância). Ninguém faz o mal pelo mal, e sim pelos interesses, que podem ser elaborados (como ganância, ou ciúme) ou simplesmente pelo prazer de estar no controle, de ter poder de ser juiz e carrasco) ausência de luz(*).

A era cristã promoveu uma ética de perfeição em sua ênfase sobre a figura de Jesus Cristo, mas uma era genuinamente nova ou vindoura estará, para Jung, baseada sobre uma ética da totalidade, cujo foco não será Jesus, mas o Espírito Santo: "O Espírito Santo é uma reconciliação de opostos, e daí a resposta ao sofrimento no Ente Supremo que Cristo personifica". Uma Nova Era do Espírito, de acordo com Jung, apresentará não a segunda vinda de um Cristo humano, mas "a revelação do Espírito Santo a partir do próprio homem". A Era Vindoura não destruirá o Cristianismo, substituindo-o com paganismo, mas transcenderá o Cristianismo histórico substituindo a imitação de Cristo pela experiência direta e vivente do Espírito Santo. O próprio Cristo insinuou (João 16:7-13) que o Espírito Santo ou Confortador viria depois dele, não apenas para derramar as línguas do Pentecostes sobre seus discípulos, mas para impregnar toda a humanidade com o "espírito da verdade". Para Jung, portanto, uma compreensão correta da totalidade é essencial não apenas para nossa saúde psicológica pessoal, nosso bem-estar moral e ético, e nosso senso humano de sentido da vida, mas é o padrão pelo qual participamos na auto-evolução do divino. É por isto que Jung insiste através de seus escritos que nós devemos manter a tensão entre os opostos e nos movermos adiante; não devemos relaxar a tensão de modo que os opostos percam sua definição e retornem ao uroboros primevo (a tal sopa primordial): "Sem oposição não há fluxo de energia, não há vitalidade. A falta de oposição leva a vida a uma estagnação onde quer que tal falta alcance". Jung não era um guru da Nova Era que pregava profundo (Muita gente confunde \'estar Zen\' com aquele estado da preguiça, de letargia, sonolência. Zen é um estado de atenção extrema, mas com tranquilidade, com serenidade, com a mente aquietada, que é o que realmente possibilita uma atenção a todas as coisas circundantes.) relaxamento(*) e a dissolução do estresse, mas pelo contrário, ele implorava aos outros para permanecerem conscientes de divisões, fortalecer isso, e manter os opostos em relação dinâmica. Somente então poderá a "função transcendente", que em metapsicologia junguiana seria o Confortador ou Paracleto, vir em nosso auxílio e tornar suportável a carga que estamos carregando.

Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quer vir após mim,
(Do grego aparneomai, que também significa abster-se, que eu considero uma melhor tradução, e que dá um sentido de \'deixe de ser tão você, de ser tão centrado e egoísta!\' à frase.) negue-se(*) a si mesmo, tome a sua (Do grego stauros, que passou à posteridade como cruz, graças à Jesus, mas tem no seu sentido original trave, estaca, poste. Ou seja, cada um que carregue seu fardo.) cruz(*), e siga-me.
(Mateus 16:24)




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acid
Acid é uma pessoa legal e escreve o Blog www.saindodamatrix.com.br
"Não sou tão careta quanto pareço. Nem tão culto.
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