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Intimidade consigo mesmo

por Bel Cesar em Espiritualidade
Atualizado em 26/03/2004 16:06:58


Você já se pegou sonhando em ser outra pessoa, vivendo em outro lugar? Quando nos distanciamos de nossa realidade, distanciamo-nos de nós mesmos. Então, é hora de perguntar: por que está tão difícil levar adiante a vida?

Aceitar estar nesta vida, com este corpo. A falta de contato conosco cria a sensação de solidão e isolamento. O prazer de estar consigo mesmo cria a disponibilidade para estar com o outro. Uma pessoa chata é aquela que não consegue estar consigo mesma e espera que o outro a tolere!

Se pararmos para observar o que pensamos sobre nós mesmos, iremos nos dar conta do quanto nossa auto-avaliação possui o poder de nos aproximar ou nos distanciar de nós mesmos. Para termos uma relação saudável, próxima e direta com nós mesmos, precisamos parar de nos auto-rejeitar.

Quando estamos bem, sentimo-nos confortáveis em nosso corpo: a respiração flui, a barriga está relaxada e as costas estão naturalmente eretas. Quando negamos a nós mesmos, nosso corpo reage, expressando dor. Podemos pensar que estamos bem, mas se nosso estômago começar a doer, irá revelar nossa ansiedade e confusão emocional.

Portanto, se tivermos um relacionamento superficial com nossas emoções, poderemos momentaneamente negar nossos sentimentos, mas nosso corpo irá revelar que estamos, na realidade, nos abandonando.

São muitas as vezes em que dizemos o que não sentimos verdadeiramente. Isso ocorre porque não sentimos o que pensamos! Reconhecer que não estamos sentindo o que deveríamos sentir ou gostaríamos de estar sentindo é um desafio interior que devemos enfrentar.

No entanto, na maioria das vezes buscamos pensar algo justamente como um mecanismo de defesa para não sentir nossos sentimentos. Isto é, em simplesmente senti-los sem julgá-los como ruins ou bom. Senti-los com a intenção de conhecê-los. Sermos abertos para com nossos sentimentos demanda sinceridade e compaixão.

Não basta querer não pensar em algo para deixar de senti-lo. Os sentimentos não desaparecem só porque são indesejáveis. Aliás, pensar e sentir são duas funções que precisam estar harmonizadas entre si. Podemos pensar em nossas emoções, mas será necessário senti-las para que elas possam fluir. No entanto, não são os sentimentos em si que nos proporcionam sabedoria, mas sim o processo de abrirmo-nos a eles.

John Ruskan, em seu livro Purificação Emocional (Ed. Rocco), escreve sobre a importância de saber entrar em contato com nossos sentimentos sem a intenção de analisá-los imediatamente: “Lembre-se de que você não está entrando no sentimento com a intenção de analisá-lo e compreendê-lo. Não tente compreender porque o evento ocorreu, o porquê de suas ações ou sentimentos, o que há de aprender com o evento, etc... Essas compreensões virão espontaneamente como resultado da integração que a experiência direta trará. Por enquanto, limite-se a experimentar plenamente os sentimentos do evento. Se você persistir em tentar analisar, a integração será inibida”.

Portanto, o segredo está em confiar que você obterá o que necessita saber de uma experiência no ato de acolhê-la. Ou seja, podemos nos propor sentir o que rejeitamos como processo de autoconhecimento e não como um sentença de condenação.

Não podemos nos obrigar a sentir nossos sentimentos. Não há necessidade de forçar nada.
O objetivo é integrar as diferentes partes de nossa mente e criar intimidade, isto é, proximidade com a própria mente. E não necessariamente analisá-la. Enquanto a análise estiver contaminada do hábito da auto-acusação, é melhor mantê-la de fora.

A chave é manter uma relação direta consigo mesmo. Pois só assim poderemos apreciar a energia fluida e agradável que existe naturalmente dentro de nós.

Ser sincero com você mesmo é um ato de coragem. Pois o autoconhecimento nos leva a tomar decisões ousadas e irreversíveis. Lembro-me certa vez quando consegui assumir conscientemente algo que precisaria de muita coragem para reconhecer o que, de fato, estava sentindo. Entrei no meu quarto, apaguei a luz, deitei na cama, cobri meu rosto com a coberta, e perguntei a mim mesma: o que você quer fazer nesta situação?

Apesar de saber que já conhecia a resposta, ter agido assim fez com que eu me aproximasse da decisão. Não havia mais como negar a mim mesma. Depois que escutamos o que queremos, não dá mais para fugir. Pelo menos de nós mesmos. Podemos estrategicamente continuar fingindo para o mundo algo que ainda não estamos prontos para expressar, mas internamente não podemos nos enganar.

Quando finalmente relaxamos, comunicamo-nos com nosso mundo interior sem mais rodeios e rompemos as barreiras das palavras, permitindo que a nossa mente e o corpo se unam. Aos poucos, percebemos que é possível relaxar em nossa própria energia. Quando o corpo e a mente estão unidos, participamos plenamente do mundo e podemos nos comunicar com ele num nível ainda mais amplo e sutil.

Quanto mais transparência houver dentro e fora de nós, melhor será. Ocorrerão menos interferências negativas, pois aquele que não teme ser autêntico está em harmonia com o mundo à sua volta. Pois está conectado com o mundo, aberto e interessado em interagir.


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bel
Bel Cesar é psicóloga, pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano desde 1990. Dedica-se ao tratamento do estresse traumático com os métodos de S.E.® - Somatic Experiencing (Experiência Somática) e de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares). Desde 1991, dedica-se ao acompanhamento daqueles que enfrentam a morte. É também autora dos livros `Viagem Interior ao Tibete´ e `Morrer não se improvisa´, `O livro das Emoções´, `Mania de Sofrer´, `O sutil desequilíbrio do estresse´ em parceria com o psiquiatra Dr. Sergio Klepacz e `O Grande Amor - um objetivo de vida´ em parceria com Lama Michel Rinpoche. Todos editados pela Editora Gaia.
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