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O Caixeiro Viajante

por Jaime Benedetti em Espiritualidade
Atualizado em 20/11/2003 11:44:47


Histórias de Vidas Passadas
Canalizada por: Maria Silvia Orlovas

Eu era um Caixeiro Viajante e na minha bagagem eu carregava as mais diferente ervas, algumas poucas especiarias misturadas a outras ervas, sem muito valor. Eu sempre fui um comerciante, então eu aprendi a misturar as coisas boas com as coisas ruins, e assim equilibrar o valor. Eu sempre soube trabalhar com muitas coisas ao mesmo tempo. Eu sempre tive muita habilidade de lidar com pessoas diferentes, com situações diferentes. Eu sempre fui muito bom nos meus relacionamentos comerciais. Eu aprendi isso com a vida, porque fui criado por uma mãe que logo cedo me abandonou. Eu não tive pai, meu pai nunca assumiu a paternidade. Eu senti muito essa ausência de família e sempre admirei quem tinha família e na verdade eu nunca consegui constituir uma, ter filhos, criar raízes. O meu maior desejo era criar raízes, fazer a coisas crescerem, progredirem, eu nunca consegui isso completamente, realizar esse sonho. Eu sei que por esta necessidade da vida, esse confronto que a vida colocou para mim, eu aprendi a lidar com as coisas materiais, com as pessoas, com os sentimentos delas.

Então, assim que eu perdi a minha mãe, eu me juntei a uma trupe de ciganos. Eles eram passantes, eles não eram pessoas que eu conhecesse, eu não tinha intimidade com eles, eu não era ninguém, eu era um empregadinho, alguém que ficava lá no meio dessa trupe de ciganos e com eles eu aprendi a lidar com o comércio, eu limpei armas, eu troquei rodas de carroça, eu fiz serviços muito, muito pesados, serviços que não eram adequados para um rapazinho jovem, franzino como eu era; mas havia uma sopa boa. Todo o final de tarde as mulheres se reuniam e cantando e brigando como era hábito daquela turma, elas preparavam aquele caldo quente e eu enchia a minha barriga e aquele sentimento, aquela satisfação de ter a barriga cheia, de ter uma comida quente, preparada por uma mulher era algo extremamente prazeroso e eu até hoje associo carinho, afeto e amor!

A alimentação é importante para mim, uma mesa bonita, eu fico feliz de ver uma mesa bonita, uma sopa preparada para mim, um carinho para mim! Eu sou extremamente carente deste tipo de atenção feminina e ai, eu que não tive mãe, eu que não tive família, eu recebi deste povo tudo isso, mas eu sabia que aquilo era um empréstimo, que eu estava com aquele grupo de ciganos por empréstimo, eu sabia que não iria durar a minha vida inteira e eles me aceitaram bem, apesar de eu não ser ninguém, eu era tão pequeno, eu era tão garoto, eu era tão insignificante mesmo, que eu poderia até ser um filho de um deles e eles me tratavam muito bem, com muito carinho, mas eu não aceitei ficar com eles, não eram eles que não me aceitaram. Na verdade eu queria seguir um rumo, eu tinha a idéia de que eu poderia criar a minha vida, mas estar com eles me fortaleceu uma veia para o comércio, uma atividade assim, uma força que eu tinha para estar com as pessoas, para negociar com as pessoas, para falar de prazo, para falar de dinheiro, para falar de sonhos, para estar ali e eu fiz isso!

Quando eu fiquei jovem eu poderia ter me casado inclusive, com alguma das moças daquela tribo, mas é gozado, eu não sentia que fizesse parte daquele grupo, eu não sentia que eles me respeitariam. É isso! Eu acho que eu tinha aquela sensação de que para eles eu seria sempre uma espécie de faz tudo e eu não era um escravo, porque eu era tão bem tratado, mas eu não seria igual a eles e por este sentimento, eu não quis me unir a ninguém! Eram moças lindas as moças da minha tribo, da tribo deles, mas eu não tenho o direito de me apaixonar por uma delas, porque eu não queria ser diferente de ninguém, eu achei que ia ser tratado com inferioridade, eu seria inferior a eles, eu não podia ser inferior a eles, eu não podia ser inferior, eu queria construir a minha vida num lugar onde eu fosse igual a qualquer outra pessoa, eu queria me desprender deste complexo de inferioridade, eles não me colocaram este complexo, eu sei muito bem que esse grupo de pessoas eu só tenho agradecimentos, mas eu me sentia assim!

Então eu ganhei o mundo! Eles me deram o cavalo, me deram roupas, me beijaram, me abraçaram e quantas vezes eu me arrependi de ter sido tão orgulhoso e de não ter ficado com eles, quantas vezes eu me culpei de não ter visto naquelas pessoas a minha família, porque na medida em que envelheci, que eu me enveredei por tantos outros caminhos, eu percebi que eles me trataram como igual, mas dai não tinha o que fazer. Como eu ia procurar no mundo de meu Deus aquele grupo. Como eu ia achar, e depois muitos anos, eu sei que poderia até ter encontrado, eu sabia os caminhos que eles fariam, eu sabia os roteiros, mas o que eu iria falar! Eu fui muito prejudicado pelo meu orgulho, eu me vi muito prejudicado por esta besteira de não querer ser igual aos outros, de me defender, de me resguardar! Isso foi tudo ridículo na minha vida, foi ridículo, porque eu poderia ter sido muito mais feliz se eu não tivesse sido esta besta orgulhosa que eu fui!

Eu tive muitas mulheres, eu me realizei como homem, sexualmente, mas eu sonhava com aqueles cabelos negros, eu sonhava com aqueles olhos profundos, eu sonhava com aqueles cabelos que eu podia por a mão e segurá-los nas minhas mãos, eu sonhava com uma declaração de amor que eu poderia ter feito àquela moça tão bonita, àquela cigana! Não tive coragem, eu me achei inferior a ela e isso doeu tanto que nos separou e em todas as outras mulheres que eu tive, eu tentei encontrar a maciez daquela pele que eu nunca toquei, o viço, o perfume daqueles cabelos que eu nunca pude aspirar, a família que ela podia ter me dado e não me deu porque eu não ousei pedir, eu não ousei estar com ela! Eu sabia que ela tinha constituído outra família, criado a sua história e sabia que aquele amor era um amor juvenil, era um amor puro, era um amor até da minha parte completamente desinteressado, mas eu nunca ousei viver os meus sonhos porque eu nunca me achei merecedor!Eu tenho medo de mim, muito desejo de melhorar a minha vida, de mostrar que eu tenho valor e eu sei que hoje eu venho dizer isso para mim mesmo, que isso só será capaz quando eu acreditar em mim, quando eu acreditar nos meus próprios sonhos, na minha força, na minha alma, na minha fé, quando eu for capaz de olhar no espelho e ver ali refletida a minha própria luz!
Deus, porque que eu sou tão difícil comigo mesmo, porque que eu sou tão resistente ao meu coração, pelas minhas boas intenções, porque tenho tanta dificuldade em reconhecer a minha luz, porque que eu tenho tanta dificuldade em ver as coisas boas que eu tenho dentro de mim e sei que hoje na minha vida, ninguém me cobra, sou eu que me cobro, eu me cobro todos os erros, todos os pequenos males, as minhas incapacidades!

Deus é tão generoso para mim! Deus me coloca sempre tantas chances de ser feliz, fato é que eu me tornei um Caixeiro Viajante e eu andava por aquelas estradas conhecendo sempre todos os caminhos, sem nunca ter ousado parar, sem nunca ter ousado casar, sem nunca ter ousado constituir uma família, ter filhos, coisas que a minha alma queria tanto, minha alma sempre quis escrever histórias e eu me nego a isso, há muito tempo!
Hoje eu venho nesse caminho de libertação! Eu sei que eu estou mais próximo da minha luz, mais próximo do ponto de encontro do meu coração! Eu sei que o meu caminho é o caminho de aceitação e não é aceitar as dificuldades da vida como eu já pensei que deveria ser! É aceitar a minha luz! Reconhecer as coisas boas que eu tenho dentro de mim! Reconhecer que a minha mão é quente! Reconhecer que o meu abraço é sincero! Reconhecer que a minha alma é Luz, que o meu peito é leve! Eu preciso muito trabalhar no reconhecimento das minhas forças, das minhas capacidades! Eu quero muito receber este presente de mim mesmo, pois eu sei que este presente será infinitamente maior do que qualquer outro presente que o mundo, que Deus ou alguma pessoa possa me dar!

Meu maior presente será eu me reconhecer!



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jaime
Jaime Benedetti é uma pessoa comum como você e esta foi a maneira
que ele encontrou de falar a todo mundo
daquilo que considera muito importante. A Vida!
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