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O Natal e os ciclos

por Adília Belotti em Espiritualidade
Atualizado em 13/12/2007 16:20:15


So this is Christmas
And what have you done?
Another year over
And a new one just begun
Jonh Lennon

(Então é Natal
E o que você fez?
Mais um ano que termina
E um novo que está apenas começando).


Já é Natal, de novo. E para nós, a festa tão aparentada no tempo com o final do ano, sempre tem um quê de despedida... e de recomeço. Quando começo a sentir no ar o perfume das madressilvas e das damas da noite está na hora de iniciar a contagem regressiva até o Natal e falta um pulinho para o ano, mais uma vez, “acabar”.

Durante muitos séculos, muitos mesmo, os homens imaginavam o tempo como sendo cíclico. Vivendo ao sabor dos começos e recomeços das estações, eles experimentavam a vida como ondas do mar, sempre acontecendo, sempre da mesma forma, e sempre absurdamente diferente.

Esta idéia de um tempo cíclico, os povos antigos expressavam nas formas circulares das rosáceas das catedrais, da roda, dos 12 signos do Zodíaco, das mandalas. Não é nada por acaso que os relógios sejam, em geral, redondos. O centro destes círculos abriga o imutável, aquilo que de certa forma escapa à passagem do tempo, Deus, quem sabe...

Em todos estes círculos que a imaginação humana criou está a mesmíssima certeza: não dá para saber onde tudo começa nem onde vai acabar e entre o início e o final das coisas não cabe nem um instante...

A era cristã trouxe consigo a idéia de um tempo linear. E tão estranha era esta idéia que até hoje não nos acostumamos inteiramente com ela. O tempo, de círculo virou flecha, e nós ficamos ali, órfãos, com a nossa angústia. Nada disso...

Contra tudo e contra todos, atravessamos os últimos séculos preservando a certeza de que o tempo não foge à regra da Natureza de nascimento, morte e renovação. E continuamos a construir nossos círculos, internamente ou nem tanto assim... Afinal, na prática, o menino Jesus nasce, de verdade e de coração todos os Natais. Isto de “vamos lembrar”, “vamos rememorar” está certo, é claro, mas a alma da gente desconfia. No fundo, sabemos que todos os anos, de alguma forma, temos a possibilidade de fazer nascer o pequeno Jesus em nós. Todos os anos têm alguma coisa que acaba no Natal e outra que começa. Não é só lembrança não, nem história. É coisa de vida mesmo!

Existem autores que ressaltam a semelhança entre as etapas da vida de Cristo e a dos antigos deuses agrários, que morriam no inverno e ressuscitavam na primavera. O belo Adônis grego, por exemplo, passava metade do ano com Perséfone, no submundo, e renascia a cada primavera para encontrar Afrodite, a grande-mãe, deusa do amor e da vida. E a mitologia guarda vários outros deuses que morriam e ressuscitavam para simbolizar as forças vitais que emergiam das entranhas da terra: Dionísio, também grego; Tammuz, da Suméria; Osíris, do Egito. Belas histórias, que guardam alguns segredos, mesmo para nossos sentidos modernos...

Penso que este clima de fim e de recomeço exige de nós uma espécie de pausa para um balanço da vida. Os judeus fazem isto no seu Yom Kippur ou Dia do Perdão, uma espécie de acerto de contas consigo mesmos, com os outros e com seu Deus.

E quer melhor época para iniciarmos uma nova tradição e fazermos nossa contabilidade de alma do que o Natal? Começaríamos acertando nossas dívidas e resistindo aos apelos do consumo para fazer outras. Depois, passaríamos um bom tempo fazendo o exercício do perdão. Incluiríamos todos aqueles que de qualquer forma foram injustos conosco ou tenham, ainda que sem querer, nos prejudicado. Para alguns, a gente daria um pequeno telefonema, faria as pazes, reataria velhas amizades. Outros seriam perdoados apenas em nosso coração que isto já é mais do que o bastante. Em seguida, viria o momento de perdoar a nós mesmos, por nossas pequenas faltas e pelas grandes. Pelas nossas omissões e pela nossa humanidade. E finalmente, no Dia de Natal ou no dia de Ano Novo, você escolhe, faríamos nossa reconciliação simbólica com Deus. Fizemos o melhor possível, mas não o bastante. Fomos bons parceiros, mas nem tanto. Que se há de fazer? Ano que vem, com certeza e, é claro, se Ele quiser, faremos ainda melhor. Este acerto há de ter momentos duros, difíceis, não é coisinha assim banal. Os judeus chamam os dias que reservam a isto de Dias Tremendos. Acertos de contas são assim mesmo...

Mas depois, de alma lavada, fresquinhos em folha, perfumados e vestidos de festa, poderíamos esperar o nascimento do Menino Jesus, que vem trazendo sua Luz. Mais uma vez...

O resto da letra da música do Jonh Lennon

And so this is Christmas (E então é Natal)
I hope you have fun (Espero que vocês se divirtam)
The near and the dear one (Quem está perto e quem é querido)
The old and the young (Quem é velho e quem é novo)

A very Merry Christmas (Um Natal muito alegre)
And a happy New Year (E um Ano-Novo feliz)
Let’s hope it is a good one (Esperamos que seja um bom ano)
Without any fear (E sem medo)

And so this is Christmas (Então é Natal)
For weak and for strong (Para os fracos e os fortes)
For rich ones and poor ones (Para os ricos e os pobres)
The world is so wrong (O mundo é tão errado)

And so Happy Christmas (Então Feliz Natal)
For black and for whites (Para negros e brancos)
For yellows and red ones (Para amarelos e vermelhos)
Let’s stop all the fight (Vamos parar de brigar)


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adilia
Adília Belotti é jornalista e mãe de quatro filhos e também é colunista do Somos Todos UM.
Sou apaixonada por livros, pelas idéias, pelas pessoas, não necessariamente nesta ordem...
Em 2006 lançou seu primeiro livro Toques da Alma.
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