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O perigo dos pequenos pensamentos negativos

por Bel Cesar em Espiritualidade
Atualizado em 24/03/2006 10:54:17


Como é verdadeiro o fato de que basta seguirmos um ínfimo pensamento negativo para desencadearmos uma série de dúvidas e frustrações! Nossos pequenos pensamentos negativos são como um vírus, que rapidamente se multiplica e cresce, causando-nos febre e mal-estar.

É preciso manter nossa mente sob uma lente de aumento de microscópio.

Como são tantos os pensamentos que fluem em nossa mente, na maioria das vezes não nos damos conta do quanto somos invadidos por atitudes mentais destrutivas. É como a gripe: na maioria das vezes, só percebemos que estamos gripados quando começamos a nos sentir mal. Mas assim como é possível reverter um processo gripal se soubermos identificar seus menores sintomas, podemos reverter a mente negativa ao aprender a identificá-la assim que ela surgir.

Lama Gangchen Rinpoche nos ensina a reconhecer os menores sinais de mudança de nossa mente nas diversas expressões de rosto: elas refletem as nuanças de cada forma-pensamento. Para tanto, ele nos estimula a usar nossa capacidade de manter a atenção como um espelho. Isto é, se estivéssemos vendo nossa imagem 24 horas refletida num espelho, ficaríamos surpresos ao ver quantas de nossas expressões faciais não são tão belas quanto aquelas que tentamos fazer quando nos olhamos no espelho rapidamente para nos arrumar.

“Se não queremos mais ter faces feias, temos que começar por admitir que costumamos fazê-las”, alertou Lama Gangchen Rinpoche em seus ensinamentos.

Mas, por que fazemos faces feias? Rinpoche nos lembra que estas faces expressam nossa fome e sede interior que se agravam à medida que não fazemos nada para saciá-las! Costumamos perder mais tempo nos lamentando da fome do que gerando recursos para supri-la. Isso ocorre porque conhecemos pouco os alimentos da alma. O que torna nossa mente sutil satisfeita?

São atitudes que nutrem nosso corpo e mente sutil: orar, recitar mantras, fazer visualizações criativas, assim como mover o corpo com gestos pacíficos. Temos que admitir que nossas atitudes habituais não nos nutrem verdadeiramente, pois são o resultado de uma mente pequena que quer apenas se proteger, se defender. Mas possuímos também uma mente grande, que busca naturalmente por evolução.

Thomas Moore, em seu livro O que são almas gêmeas (Ed. Ediouro), comenta que por mais verdadeiros que sejam os problemas da vida prática, eles nunca são idênticos às preocupações da alma. Por isso, escreve: “Para nos devotarmos à alma, talvez seja preciso soltar outros vínculos, e para permitir que a alma expresse sua própria intencionalidade e propósitos, talvez tenhamos que abrir mão de antigos valores e expectativas”.

De fato, as exigências da alma podem nos parecer paradoxais. Por exemplo, quem não conhece o desejo de querer se libertar das atitudes baseadas no apego, como o ciúme? Apesar da alma não querer viver sob a tensão do controle, nossa mente pequena encontra apenas segurança quando controla tudo e todos...

Por isso, sentir a satisfação interior é uma tarefa difícil demais para uma mente pequena!

Lama Gangchen nos ensina a diferenciar as atitudes mentais entre uma pequena e uma grande mente. Quanto estamos sob os ditames da mente pequena, dizemo-nos: “Eu não sei... eu não quero... eu não posso”... Mas quando atuamos com nossa mente grande, proclamamos sem dificuldade: “OK, eu posso lidar com esta situação, seja ela agradável ou não”.

A mente grande não rejeita nenhuma experiência da vida. Afinal, ela não está contaminada por atitudes covardes ou indulgentes. Se passarmos a observar honestamente quantas situações podemos enfrentar se não seguirmos nossa mente pequena, ficaremos surpresos e felizes em notar que podemos fazer muito mais do que estamos habituados.

Temos que admitir que as atitudes mentais de uma mente pequena não nos nutrem verdadeiramente, pois são o resultado da insegurança. Uma mente pequena diz que não sabe, mesmo antes de se questionar. Diz que não quer, sem ter consultado seus desejo mais profundos. Baseadas na carência, são atitudes que buscam se defender sem até mesmo terem sido atacadas. Uma mente pequena é tendencialmente competitiva. Apesar de ser uma mente baseada na crença de ser excluída e solitária, não busca por união. Já a mente grande busca naturalmente evoluir, unir, comungar.

A mente pequena nutre o sofrimento, enquanto que a mente grande sabe como absorvê-lo. O sofrimento perde sua força ao passo que é reconhecido pela mente grande. Por isso, os mestres budistas nos incentivam a dialogar com o nosso sofrimento. Lama Gangchen nos fala: “Deixe a sua sabedoria conversar com a sua ignorância. Dê tempo e espaço para sua sabedoria de expressar. Ela não deve ficar oprimida pela ignorância”.

A agitação interior é um reflexo do movimento de uma mente pequena. Se nos determinarmos a não segui-la e, cultivarmos uma atitude de calma e a atenção, já estaremos manifestando naturalmente nossa mente grande!



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bel
Bel Cesar é psicóloga, pratica a psicoterapia sob a perspectiva do Budismo Tibetano desde 1990. Dedica-se ao tratamento do estresse traumático com os métodos de S.E.® - Somatic Experiencing (Experiência Somática) e de EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento através de Movimentos Oculares). Desde 1991, dedica-se ao acompanhamento daqueles que enfrentam a morte. É também autora dos livros `Viagem Interior ao Tibete´ e `Morrer não se improvisa´, `O livro das Emoções´, `Mania de Sofrer´, `O sutil desequilíbrio do estresse´ em parceria com o psiquiatra Dr. Sergio Klepacz e `O Grande Amor - um objetivo de vida´ em parceria com Lama Michel Rinpoche. Todos editados pela Editora Gaia.
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