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O Zahir e outras histórias...

por Adília Belotti em Espiritualidade
Atualizado em 22/07/2005 12:06:58


Já faz algumas horas que estou a cata de informações. E o que me deixa perplexa não são as palavras, são os números. O Zahir, novo livro de Paulo Coelho: 8 milhões de exemplares, lançamento previsto em 83 países até novembro, já traduzido para 42 idiomas. Ainda bem, penso, que não sou especialista em literatura. A escala planetária destes números deve intimidar mesmo o mais feroz dos críticos. E, de fato, à medida em que navegava nas páginas sobre O Mago e suas obras, mais eu vislumbrava ameaçadoras ambigüidades no convite já não tão inocente do IGLer para que eu escrevesse um artigo sobre o livro.

Tudo porque, embora trabalhe há anos escrevendo sobre espiritualidade e religião, nunca havia lido nada de Paulo Coelho. E, as primeiras páginas de Zahir quase me fizeram desistir. Tive que enxotar pra fora das páginas do livro a minha arrogância, parar de procurar os intrincados arabescos das histórias tradicionais e as belas metáforas, esquecer os tratados sobre filosofia da Nova Era, e mergulhar de cabeça no desafio do Mago: o que afinal nesta história vai conseguir fascinar e seduzir tanta gente?

Nenhuma resposta fácil para a pergunta. Mas desenterro uma pista no comentário de outro fenômeno editorial planetário, o italiano Umberto Eco, e que também está lançando um novo livro, “A misteriosa chama da Rainha Loana”. O sucesso pode ser explicado pelo fato de que os autores desses best-sellers levam tudo isso a sério, e ainda pelo fato de que as pessoas são sedentas por mistérios. Em O Pêndulo de Foucault, eu cito a frase de G. K. Chesterton: "Quando os homens não acreditam mais em Deus, isso não se deve ao fato de eles não acreditarem em mais nada, e sim ao fato de eles acreditarem em tudo".

Os homens têm necessidade de mistério. É exatamente assim que começa O Zahir.
Um escritor rico e famoso está às voltas com o mistério do desaparecimento de sua mulher Esther, jornalista e correspondente de guerra no Iraque. É esta figura feminina que dança, onipresente em todas as páginas do livro. Ela é O Zahir, uma expressão árabe que significa “algo que uma vez tocado ou visto jamais é esquecido – e vai ocupando nosso pensamento até nos levar à loucura”. A palavra, Paulo Coelho tirou da Enciclopédia do Fantástico, do escritor argentino, Jorge Luís Borges.

A trama vai sendo costurada com as respostas que o personagem sem nome que conta a história vai dando à obsessão da busca pela mulher desaparecida. Um caminho iniciático que começa em Paris e vai terminar nas áridas estepes do Cazaquistão. Entre uma revelação e outra, Paulo Coelho, o escritor, vai surgindo por trás de seu alterego, falando de seu ofício, do glamour e das exigências da profissão. E aprendo que ele sempre refaz sua biografia em cada um dos livros que escreve.

Percebo que gosto do desenho de Esther. Uma combinação improvável de mulher, entre sacerdotisa e Indiana Jones, que faz chacoalhar o universo movido a aparências e a trocas de favores no qual o marido escritor circula, com suas formidáveis exigências e poderosas intuições.

Ao longo do livro, reconheço, aqui e ali, os temas universais pescados de antigas tradições. Tengri, o deus do céu azul dos turcos e mongóis. Danças circulares que conduzem ao êxtase. Histórias antigas, sacudidas da poeira, capazes de mexer com a imaginação de gente que vive muito longe das estepes e das imensidões desertas, em cidades barulhentas e monótonos subúrbios.

Fico pensando que, além de mistérios, os homens gostam de histórias. E têm uma saudade impossível dos tempos em que se ficava em volta do fogo exorcizando o medo e o espanto com relatos exemplares, cujos detalhes emprestavam significado ao cotidiano e ajudavam a construir a identidade de cada aldeia, de cada povo. Tramas muitas vezes cifradas, incompreensíveis para os "estrangeiros" porque continham os segredos de um jeito único de estar no mundo. Mas que falavam despudoradamente de realidades universais... e tinham o poder de chamar os deuses para sentar também em volta do fogo...

Paulo Coelho é mestre na arte de recontar estas velhas histórias, despindo-as das suas circunstâncias e oferecendo-as, em toda sua moderna simplicidade, como inspiração para milhões de leitores. Com certeza, para gente faminta de significados e de mistérios como nós, isto já é muito... ou o bastante!


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adilia
Adília Belotti é jornalista e mãe de quatro filhos e também é colunista do Somos Todos UM.
Sou apaixonada por livros, pelas idéias, pelas pessoas, não necessariamente nesta ordem...
Em 2006 lançou seu primeiro livro Toques da Alma.
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