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Xavantes

por Saul Brandalise Jr. em Espiritualidade
Atualizado em 23/12/2002 11:55:43


Quando sai de MACHU PICCHU, dois anos atrás, tinha a nítida sensação de que ainda faltava mais alguma coisa para realizar junto aos índios. Um dia, recentemente, conheci Ana Maria e senti o retorno de algo inacabado. Ana dedica parte de seu tempo aos índios Xavantes do Mato Grosso. Aquilo bastou para que as emoções de Machu Picchu retornassem.

Tudo ficou evidentemente claro quando me foi revelado o significado da palavra XAVANTE: aquele que tem a chave dos Andes. Neste momento o desejo de ir ter com os índios aumentou e passou de vontade à obstinação. Fui, com destino ao Moto Grosso, no momento em que o Brasil buscava seu penta-campeonato. Minha intuição determinava que eu deveria ir numa aldeia falar com o Cacique e o Pajé. Mas, qual seria esta aldeia?

Aqui estava a chave do meu problema. Nesta primeira viagem tudo, absolutamente tudo, dava errado. Quebramos o espelho retrovisor do Motor Home, em seguida na chegada de Barra do Garças (MT) estourou o para brisa esquerdo. Foram necessários três dias para que outro chegasse. Quando este estava em cima do caminhão da transportadora esta foi assaltada... Todo esse transtorno fez com que nós perdêssemos a conexão com os índios que deveriam estar em Água Boa (MT). Só restou, desta forma, o retorno para casa. Mas, uma coisa ficou clara. Não eram aqueles os índios que eu deveria encontrar. Minha busca não era para qualquer Xavante. Tinha que ser alguém especial...

A vida é assim mesmo. Precisamos saber entender o que está em torno dos nossos obstáculos. Sempre existe uma razão. Nada do que nos acontece é pelo acaso. Sempre considerando esta verdade, deixei de lado a tristeza e continuei minha busca. Ela foi parar na entrada da Serra do Roncador no Mato Grosso.

Nesta mesma viagem conheci o Maurinho. Ele é o Guardião da Serra do Roncador. Um dia, em sonho, recebeu uma mensagem. Precisava guardar os “portais” desta Serra. Escolheu viver no começo dela. Gastou todas as suas economias e comprou um pedaço de terra. Da janela de sua casa se pode avistar o Portal de Entrada da Serra do Roncador.

Ele deu testemunho a minha intuição dizendo:
- Saul, se tudo deu errado é porque os Índios deveriam ser outros. Vou te apresentar o Robertinho, Filho do Cacique e Pajé Zacharias.
Marcamos nova viagem e nesta o Universo atuou fortemente.

Mais uma vez o destino se apresentou com rara perfeição.

Decidimos, nesta viagem, pernoitar no Sitio do Mauro, na entrada do principal Portal da Serra do Roncador. Este local é especial. A energia que circunda esta região está acima de nossa capacidade humana de entendimento. Só se sabe sentir. É daquelas sensações em que não encontramos palavras adequadas para expressa-las. Só se sente. Só se vive e só se entende sentindo...

Acordamos cedo e nos dirigimos à Nova Xavantina. Lá Oscar, o Cacique da aldeia Serra Verde, da reserva Couto Magalhães nos aguardava. Passamos em um supermercado e compramos alguns gêneros de primeira necessidade como também fumo em corda e alguns refrigerantes. Fomos alertados para não revelarmos que aquilo se destinava aos Índios. Em seguida adentramos na reserva indígena.
No meio do caminho encontramos o caminhão (se é que se pode dar este nome àquele veículo) da Funai que estava sendo dirigido pelo Robertinho, filho do Pajé Zacharias e irmão do Cacique Oscar. Robertinho retornou à Aldeia conosco juntamente com seu irmão que decidimos chamar de Pajé por estar sendo iniciado pelo pai Zacharias para substituí-lo.

Depois de noventa quilômetros de uma estrada terrível, chegamos no que restava da aldeia. Ela estava se transferindo para um local cinco quilômetros mata adentro. Serrado adentro, seguimos a pé, carregando os mantimentos nos ombros. Mauro nos acompanhava pois ele já havia, quando pequeno, morado na aldeia e conhecia o Índio Zacharias.

No antigo local da aldeia apenas uma Oca estava em pé e habitada. Ela pertencia ao sogro de Oscar.
Quando o vi, sabia que se tratava de uma pessoa especial. Ficou segurando minha mão, após o cumprimento e não a largava. Com dificuldades lhe expliquei que logo retornaríamos. Fez o mesmo com meu filho Jean. Seus olhos ficaram marejados e não conseguiu esconder a felicidade em nos ver.

Com os Xavantes é evidente que temos que refletir sobre a frase dita por Carl Jung:

QUEM OLHA PARA FORA SONHA, QUEM OLHA PARA DENTRO ACORDA.

Procurarmos entender as razões de nossa existência é o entendimento que nos deixa mais fortes frente às adversidades que a vida nos reserva. Nossa fé, sem este entendimento, fica debilitada. Por mais que tentemos, a dificuldade de fé pura é grande e difícil de ser aplicada.

Quando eu descobri o significado da palavra INDIO, junção de outras duas, pude entender mais os porquês de minhas buscas.

IN+DIO ou seja EM+DEUS.
Totalmente ligado a Deus.

Várias “coincidências” nesta viagem e neste encontro com os Xavantes me fizeram refletir. Uma delas foi quando um deles se aproximou de mim e disse:

Há várias luas eu sabia que você viria. Agora é o momento certo. Você é um branco diferente. Os outros vieram matando, com mentiras, traições e nos enganando.

Foi assim nosso primeiro encontro. Ele não sabia o que havia ocorrido comigo na primeira viagem nem eu tinha revelado aos Xavantes as minhas dificuldades.

Robertinho foi especial. Faz curso superior de História em Barra do Garças (MT) e pretende cuidar para que as tradições dos Xavantes sejam mantidas. Nos identificamos de imediato. Era ele que eu precisava encontrar. Sei disso. Revelou o significado do meu nome em Xavante. A modéstia me impede de tornar público. Existem verdades que nós devemos manter conosco pois fazem parte de nosso altar individual e exclusivo.

Com os Índios, mais uma vez, percebi que existem valores que nós apreciamos e que, na realidade, nada valem. Luxo e conforto são coisas com as quais eles não se preocupam. Verdade, respeito e fraternidade são seus lenitivos. A felicidade está diretamente relacionada com a nossa capacidade de não guardarmos mágoas, sabermos perdoar – sentir o perdão é importante – e sabermos separar desejos de amor.
Entendermos que a individualidade de cada ser, respeitando as nossas DIFERENÇAS, torna nossa vida mais compreensível.

Obrigado, irmãos Xavantes pela lição de vida.

Nos veremos, em breve.
Um beijo na sua alma.


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saul
Saul Brandalise Jr. é colaborador do Site, autor do livro: O Despertar da Consciência da editora Theus, onde mostra através das narrativas de suas experiências como extrair lições de vida e entusiasmo de cada obstáculo que se encontra ao longo de uma vida.
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