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O pai, a filha imatura e o pseudo-pretendente

por Luís Vasconcellos em Psicologia
Atualizado em 07/08/2001 17:33:52


Apelido:

Sonhadora

Idade:

45

Estado Civil:

Casada

Sexo:

Feminino

Filhos:

Um – com idade de 6 anos

Profissão:

Analista de sistemas

Formação:

superior completo

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Descrição do sonho:
Eu estava chegando de carro (meu carro) em um pátio de estacionamento grande, que me parecia ser de um supermercado, de dia. Estava bem vazio, e eu iria estacionar meu carro lá para esperar meu pai que viria me encontrar para juntos irmos à casa dele em Angra dos Reis. Quando olhei para o lado onde estaria o suposto supermercado, vi uma pessoa (Sydney) (com quem mantenho uma amizade estreita e um relacionamento que já chegou a ser íntimo), sentado, lendo um jornal ao lado de uma piscina. No sonho eu sabia que se tratava do sítio dele em Goiás (o sítio ainda não existe, mas está em construção e ele havia me dito isso um dia antes e me mostrado umas fotos do local, que por sinal não tem piscina, mas sim um lago).
{me senti feliz em vê-lo, e ao mesmo tempo achei melhor não falar com ele por estar com meu pai (não se conhecem), e porque sentia que ele não gostaria de falar comigo naquele momento}

comecei a olhar o lugar, ja fora do carro, mas sempre olhava para o Sydney, procurando ver se estava ainda lá, e se havia me visto. Neste momento comecei a olhar um canto onde havia coisas , objetos (não me lembro quais, mas acho que eram sucatas), e por ali fiquei durante um tempo, encontrei meu filho (ele tem 6 anos), mas não me lembro de ter falado com ele, apenas disse que iríamos a Angra dos Reis. Depois disso, resolvi chamar a atenção do meu pai para o tal amigo. Falei pra ele "que aquela pessoa era um amigo meu, que eu ja havia falado dele, que era o sujeito que um dia teria me perguntado sobre casas pra alugar em Angra, que ja havia morado na Rússia (meu pai fala russo e gosta muito da Rússia) e sentia que ele gostaria que eu apresentasse meu amigo. Andamos até perto da piscina, onde apresentei meu pai ao meu amigo, conversaram um pouco em russo (não entendo o idioma), e meu pai comentou comigo que ele (Sydney) falava muito bem o russo. Nesta hora reparei que meu pai usava um chapéu tipicamente russo, e Sydney comentou comigo: nossa ele não parece ser brasileiro, fala bem o idioma e tem cara de russo. Depois disso fomos (os três) para frente de umas vitrines (não me lembro o que havia lá), e de lá saímos, eu e Sydney, de mãos dadas , embora com medo de sermos "descobertos"...
{me sentia feliz de estar com ele, mas tinha medo de ser vista num momento de maior intimidade com essa pessoa.}

Enquanto meu pai continuava no lugar das vitrines, eu e Sydney passeávamos a pé por lá, “escondendo", ou tentando esconder o fato de estarmos de mãos dadas. Neste momento percebi que ele usava um brinco (como uma pequena bolinha) na orelha esquerda, o que me causou espanto, e perguntei porque havia colocado aquilo, e ele respondeu que achava legal, diferente... Foi quando abriu uns botões de sua própria camisa e me mostrou a região entre seu ombro e seu peito: estava forrada de brincos iguais ao da orelha, assim como cravejado (havia centenas deles) no peito, todos prateados. Achei muito estranho, falei pra ele que era estranho, e que nunca tinha visto alguém usar isso! Ele não comentou nada e seguimos caminhando.
{Nada especial, apenas a estranheza do fato e ainda o medo de ser pega com ele ali, de mãos dadas caminhando...( ele tb é uma pessoa casada) }

caminhamos até que eu perguntei para onde estávamos indo, e ele disse que gostaria de estar mais intimamente comigo, em algum lugar mais discreto, e eu sugeri que fossemos até a empresa em que eu trabalho e que seria próxima dali. Ele sugeriu que fossemos até uma igreja (!) próxima, mas eu nao via nenhuma. Acabamos tendo que descer um barranco imenso, coberto por tábuas. A gente ia descendo e eu sentia que aquilo era muito perigoso, pois estava com partes estragadas, despregadas e poderíamos cair de uma altura enorme. Conseguimos chegar no final dessa descida com ajuda de um homem desconhecido, que cobrava (pouco) pelo acesso a esse local. Qdo chegamos la embaixo, havia algo como uma parede, na verdade esse lugar não chegava a nenhum outro lugar. Lá, deitamos e nos abraçamos, e nos beijamos e senti que dali pra frente, devido o clima, partiríamos para uma relação sexual, que na verdade não chegou a acontecer de forma completa, apenas parcialmente.
{me sentia muito bem, ja sem medo, mas achava que aquele lugar era demais público pra tanta intimidade. Senti que queria ficar ali, estava bom, mas sabia que tinha que voltar, pois meu pai me esperava. }

Depois disso só me lembro que ficamos por mais tempo ali, e eu procurava olhar nas paredes dessa descida, se via alguém nas janelas ou coisa assim. Estava extremamente feliz, mas sentindo que gostaria de estar num lugar mais apropriado, e não queria voltar. O sonho acabou assim.

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Identifique os personagens que participaram do sonho:
meu pai e outras pessoas desconhecidas que passavam pelo local

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Destes persongens, quais são conhecidos? Como vai a relação pessoal:
pai: tenho uma relaçao distante, com pouca intimidade e nenhuma afetividade, tivemos uma relacao de amizade muito estreita e com intimidade. Hoje estamos um pouco afastados, por vontade dele (ele se sente culpado)

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Descreva o momento ou fase que está vivendo:
Estou numa fase de questionamento na vida, mas em geral muito calma, passiva. Me realizo como mae, amo meu filho e sei que meu casamento está numa fase "muito fria", embora tenhamos muito respeito um pelo outro. Nos gostamos, mas ambos achamos que poderíamos nos abrir mais e ter mais amizade dentro do casamento. Profissionalmente: nao trabalho com o que gosto, o trabalho nao me realiza nem um pouco, mas é uma excelente fonte de renda, porisso nao abro mao.

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Com que aspectos da sua vida atual este sonho pode estar relacionado?
Com estar triste pelo afastamento do pai, sem entender ao certo seus sentimentos.


Comunicação do psicólogo para o sonhador:

22/06/2001

Este é um sonho bastante significativo da situação que vc. está vivendo. Na sua vida vc. chegou a um ponto de se questionar se ela está fazendo sentido ou não.

Vc. sente um vazio existencial, uma falta de sentido, carência sexual e afetiva, sente que há algo que precisa ser preenchido mas não sabe bem o quê:   Seu casamento está morno, seu trabalho não lhe traz realização, só dinheiro, e assim tudo vira uma espécie de rotina sem um sentido maior.  O que pode servir de contraponto é a relação mãe/filho traduzindo um vínculo afetivo, porém, no sonho, vc. está mais ocupada em “namorar” do que em relacionar-se com o filho.
Vamos entender o sentido da presença do seu pai colocando os personagens deste sonho em uma cena arquetípica: ele faz o papel do rei e vc. faz o papel da princesa, assim como o Sydney faz o papel do príncipe em uma história. Então, vejamos: A princesa está passeando pelo reino do seu pai, o rei, esperando por ele para ir para outro lugar no reino. Ela depende da proteção dele, está sob o seu poder e depende de sua autorização ou apoio para tudo, ou seja esta princesa é bem submissa e dependente, parecendo até conformada com o poder absoluto do rei. 

Será que ela só pensa e só faz o que acha que seria adequado aos olhos do rei?   Não, a princesa faz coisas escondidas (condenáveis aos olhos dele), portanto não é tão submissa assim, porém faz “coisas erradas ou proibidas” desde que ninguém venha a descobrir o que ela fez.  Isto ocorre porque ela é imatura, não demonstra ter um senso de valores próprio e se preocupa em excesso com o que aparece ou aparenta aos “olhos dos outros.”

Ela não tem em Sydney um autêntico príncipe  (que teria o poder e a força suficientes para conduzi-la para uma vida longe do pai).  Não! pois Sydney inclusive é casado (e usa umas jóias que lhe causam estranheza, pois não se encaixam na sua idealização de um modelo masculino).

Então, neste sonho, vc. se defronta, por um lado, com a sua imaturidade e dependência das “bases familiares” e, por outro lado, com um envolvimento que não serve para muita coisa, com um príncipe que não sabe nem pra onde está indo, que está em um sitio que vc. só conhece de ouvir falar, que está em uma piscina que na verdade é só um idéia (que não inclui vc. pois ele é casado, lá no reino dele) e vc. quer, por assim dizer apresenta-lo ao seu pai, como se a relação com ele tivesse algum “futuro” (relacionamento dentro da família, amizade com o seu pai etc.). Aí, no sonho, vc. se esforça por forçar um vínculo (irreal) entre este pseudo príncipe e o rei, seu pai, (ele ia comprar casa em Angra, ele fala russo etc.) e depois fica alheia e não entendendo nada quando eles falam russo e eles até parecem russos em uma espécie de “cumplicidade entre homens”!  Ora, veja a sua situação, de completa estranheza e abandono em alguma situação irreal na qual vc. mesma se colocou, tendo um relacionamento íntimo, mas não muito, com este amigo/amante/príncipe. As lendas, contos de fadas e mitos são representações de situações reais vividas por todos nós, mas é preciso saber tirar delas o sentido e o valor da sua mensagem: a moral da história...
O que posso dizer é que nas lendas a princesa chega ao seu amadurecimento e então o rei e a rainha criam uma situação para que ela saia e vá formar seu próprio reino em algum outro lugar mediante uma ligação “insuspeita” com um príncipe eleito (geralmente após ele vencer em alguma prova ou desafio).e nada destes aspectos aparece em seu sonho. Vc. já está casada mas o marido nem aparece no sonho, sabemos que há um filho mas vc. nem se relaciona direito com ele, porque seu foco de atenção/necessidade/carência se dá em outra área, a do namoro, do noivado, do sexo por envolvimento.   Isto traduz uma situação de indefinições na qual vc., de fato, vive: Não saiu ainda do reino do pai/rei.  Vc. já mora em outra casa, com outro homem, mas está psiquicamente presa à família de origem. Tanto é que se importa demais com o que ele pensa ou com a maneira de obter sua aprovação para deslizes seus (que vc. espera manter ocultos aos olhos dele e de todos).   Mas isto não soluciona o seu problema moral, a sua necessidade de sentir-se bem em seu próprio reino (todo o sonho ocorre em área pública e/ou indeterminada / obscura / que está toda desmontando / demolindo / insegura). Não se encontra na companhia de um homem que seja realmente um príncipe-companheiro, que a ame e lhe dê proteção e sustento. Seu casamento não lhe dá isso, seu trabalho está sem um sentido e falta um “motivo” que norteie sua atividade. Vc. se sente perdida, em emio a uma crise de valores e sem ter em que apoiar-se, ao mesmo tempo em que tenta construir algo em cima de “palha e areia” (sem chances de sucesso e sem solidez: com as madeiras caindo e ficando tudo aos destroços, sucateado e aos pedaços, sem um caminho definido) pois assim foi o seu “affair” com o Sydney.

Se vc. se sentisse segura na relação com o marido não se aventuraria em procurar soluções para as suas carências fora do casamento e, se isto aconteceu, vc. tem que se examinar e sair da sua passividade e acomodação. Isto é um claro sinal de um ESTADO DEPRESSIVO: não ter mais sonhos ou envolvimento com o seu mundo de fantasia. Onde anda a sua esperança de ser feliz? Desistiu? Acomodou-se a um casamento sem graça? Está se submetendo a um casamento de conveniência? Este sonho está respondendo com um SIM a todas estas perguntas.
Se o seu marido não foi um príncipe pra vc. muito menos o Sydney está sendo e vc. se vê só e sem apoio no mundo, procurando isso no pai/rei porém sabendo que não é mais possível, que isso já terminou e não há mais como acreditar em atalhos ou caminhos obscuros pois eles não oferecem bases seguras diante da necessidade de amadurecimento e de individuação.

Na sua vida, nesta idade, vc. pode ter que tomar decisões, fazer escolhas, sair da passividade e se propor como ser consciente, capaz de responsabilidade e de amadurecimento.  Um ser capaz de errar mas também capaz de aprender com seus erros.

Não se esqueça que para que apareça um príncipe na vida real de uma mulher ela precisa ter feito a parte dela, ela tem que sonha-lo, imagina-lo, deseja-lo e confiar, confiar muito na possibilidade de que a natureza (ou a vontade divina) faça o resto, colaborando para que tudo fique bem. Vc. parece acomodada a uma situação que não lhe serve e isso parece acompanha-la desde há muito tempo atrás, desde a sua vida em família (no passado), da qual vc. não conseguiu ainda desvencilhar-se completamente e à qual mostra-se ainda presa e sem alternativas. Deste modo vc. só vai repetir o passado e poderá acabar insatisfeita ou vivendo uma vida sem sentido ou rumo aos seus olhos, o que constitui o único ponto de vista que verdadeiramente conta.


Comunicação do sonhador para o psicólogo:

22/06/2001

Te agradeço pela análise, que me traz de "fora", a verdade que eu ja conhecia aqui dentro, e que mais do que nunca está bem difícil de ser trabalhada, mesmo em processo terapêutico, pois ainda nao fui "capaz" de expor tal situaçao na terapia.

Te agradeço de novo a ajuda, e gostaria de saber se vc. clinica (em consultório) e como poderia agendar uma consulta com vc.

Moro em SP, capital. Um abraço!

23/06/2001

Oi, Obrigada mais uma vez pelo carinho da sua atenção.

Obrigada por me mandar o numero de seu telefone. Com certeza entrarei em contato com sua secretária para assim que possível agendar uma consulta contigo. Um abraço!



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luis
Luís Vasconcellos é Psicólogo e atende
em seu consultório em São Paulo.



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