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Filhos: a difícil arte de pôr limites

por Adília Belotti em Autoconhecimento
Atualizado em 16/08/2007 16:08:44


Tenho 2 filhinhas, uma de dois anos e uma de 3 meses. A primeira apresenta traços de agressividade e nervosismo, como chutes, tapas, cabeçadas, mordidas. Eu converso e quando não consigo mais acabo dando uma palmada nela. O problema é que depois fico me sentindo muito mal. Estou rezando muito para ela. Que conselho você pode me dar?
Rita


Recebi este e-mail e fiquei tentada a responder, não como profissional especializada no assunto, coisa que não sou, mas como mãe de quatro filhos, já grandes, e como mulher...

Uma amiga terapeuta me ensinou que as mães sempre erram, é da natureza das mães errarem porque se elas fossem perfeitas, então os filhos jamais conseguiriam cortar o cordão umbilical e tornarem-se seres humanos independentes e autônomos. O conselho, embora tenha sido dado como piada, tem me ajudado muitíssimo ao longo destes meus "anos de maternagem". Sobretudo naqueles momentos negros em que a gente duvida de si mesma, da própria competência, até mesmo do amor que sente pelo filho...
Sim, porque estes momentos acontecem, acredite. Mãe cansa, tem raiva, quer desistir... algumas, poucas, graças a Deus, desistem, mas não é delas que estamos falando, certo?

Então, a primeira coisa que eu diria para você é: sentir-se culpada por ter raiva e dar uma palmada na sua filha não é realmente nem uma solução para o problema nem muito justo com você mesma.

Só que rezar por ela também não é propriamente uma solução. Uma das grandes estudiosas do desenvolvimento dos bebês, Laurence Pernoud, explica que "dois anos é uma espécie de adolescência". E, se você pensar bem, não é mesmo? Sua filha, com dois anos, já sabe fazer tantas coisas...E dois anos é tão pouco tempo, afinal! Ela já aprendeu a comer sozinha, a caminhar, a falar, sabe reconhecer um montão de objetos e de seres; devagarzinho, começa a separar o ontem do hoje, o antes e o depois. Experimente parar por cinco minutos e fazer uma lista mental de tudo que sua filha teve que aprender desde que nasceu, coisas simples, coisas muito complexas... A lista, não parece ter fim...

De todos os desafios, no entanto, talvez o maior seja aprender que ela é alguma coisa diferente de você e que isso é bom, mas nem sempre... Ora, ela se acha um bebê, ora quer ser "menina grande", ora você a trata como um bebê, ora como menina grande. Pior, tem horas em que ela realmente deseja ser grande, partir para outras aventuras, cruzar a rua sem sua mão, correr sem precisar ouvir "cuidado"... mas tem aquelas outras tantas horas em que sente falta de ser pequena e a valentia toda acaba... Não, nada, nada fácil a vida aos 2 anos! Pena que a gente cresce e não lembra mais...

Entender o que se passa na cabeça da sua filha, ajuda, é claro. Compreender que ela gostaria de fazer tudo sozinha, mas não consegue e que deve mesmo ser horrível ver os adultos rirem das suas tentativas desajeitadas, é sem dúvida, um bom jeito de começar.

Mas você vai precisar de mais que isso. "Limite" é a palavra da moda e os especialistas, as ‘supernannies’, inclusive, não cansam de dizer isso para as mães.
Só para continuarmos com Laurence Pernoud, a recomendação é clara: "não se deixe tiranizar, se ela pedir algo impossível, diga não firmemente e mantenha o não". Fácil, certo?

Não. Primeiro porque mães às vezes exageram no "não". É tãããão mais rápido e fácil amarrar o tênis do filho do que deixá-lo experimentar fazer sozinho... E comer então? Tinha uma amiga que deu comida na boca da filha até os cinco!!! E reclamava que a menina não gostava de comer! Aprender a comer é um treino que no mínimo vai deixar marcas na sua cozinha, na roupa, no cadeirão, mas cá pra nós, a melhor foto que eu tenho do meu filho do meio é uma em que ele exibe o sorriso mais orgulhoso do mundo na carinha toda lambuzada de iogurte!

"Não" é palavra fácil de dizer e difícil de honrar. Para mim, o alerta veio do meu marido: "seu ‘não’ não vale mais nada", ele disse um dia, "você está dizendo não para tudo!" Tinha razão...

Depois, porque ter filhos é um exercício fabuloso de negociação. "Maria, vem jantar?". "Não" (ela me imita). Duas alternativas: "Vem já" e aí, o risco de uma cena começa a crescer perigosamente. Ou "O que você está fazendo?". "Brincando com a Barbie". "Hummm, será que ela está com fome, a Barbie?" As chances da Maria, sentindo-se tratada como "menina grande", concordar que afinal jantar pode mesmo ser uma boa idéia aumentam muito, não parece?

Precisa exercitar a imaginação? Nem sempre você consegue manter o pique depois de trabalhar o dia inteiro? Nem sempre funciona? Tudo verdade, mas, ninguém disse que ia ser fácil. Só que toda mãe, quando chega na minha idade e vê os filhos saírem de casa pelos caminhos do mundo, sente no fundo do coração que cada minuto valeu a pena, porque nada é tão estimulante, tão fascinante e faz a gente se sentir tão viva do que ser mãe de uma criança pequena...

O livro de Laurence Pernoud está esgotado no Brasil, mas existem outros livros excelentes, Compreendendo seu filho de 2 anos, da Coleção da Clínica Tavistock, de Londres, é um deles.



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adilia
Adília Belotti é jornalista e mãe de quatro filhos e também é colunista do Somos Todos UM.
Sou apaixonada por livros, pelas idéias, pelas pessoas, não necessariamente nesta ordem...
Em 2006 lançou seu primeiro livro Toques da Alma.
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