Menu

Doenças da escrita. Existem?

por Paulo Sergio de Camargo em Psicologia
Atualizado em 08/10/2022 21:25:27


Pronto! Chegamos a um dos assuntos mais complexos sobre a escrita. Todos somos capazes de perceber alterações nas escritas dos doentes; mais ainda: variações na própria escrita quando estamos enfermos - algumas podem ser gritantes. O certo é que qualquer que seja a doença, ela afeta a escrita da pessoa - pois como já dissemos, o traçado gráfico é oriundo do cérebro.

Os primeiros estudos relacionando doenças com determinados tipos de escritas surgiram no final do século XIX, na França e na Alemanha. A maioria dos pesquisadores eram renomados médicos da época.

Até o ano de 1897, todos pensavam que escrevíamos com a mão. Contudo, foi um professor de fisiologia na Universidade de Jena, na Alemanha, Dr. Wilhem Preyer, que demonstrou por meio de suas pesquisas que a escrita é um ato cerebral, não importando o instrumento ou parte do corpo utilizada para escrever: pode ser a mão, o pé ou a boca.
Depois dele, dezenas de outros especialistas fizeram o mesmo em relação a diversas doenças. No entanto, até os dias atuais existem contestações sobre alguns destes trabalhos.

Na mesma Alemanha, Dr. Pophal, neurologista da Universidade de Hamburgo, estudou as correlações neurológicas entre a escrita e o cérebro.
Na França, em 1888, o Dr. Max Simon escreveu um livro chamado "Étude sur le écrits des aliénés"; Dr. Amédée Mathieu "Epilepsia e Escrita" (1889) e Dr. Boucard "La graphologie et la médecine".

E naquela época, alguém no Brasil realizou algum trabalho parecido? Sim, e muito bom, bom mesmo. A grafologia iniciou-se no Brasil no ano de 1900, através do livro "A grafologia em medicina legal", do Dr. A. Costa Pinto, tese aprovada com distinção na Faculdade de Medicina e Farmácia da Bahia. Para os interessados, a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro possui um exemplar de tal livro. Nele o autor, que estudou na Europa e manteve contatos com diversos especialistas, demonstra que o Brasil estava quase no mesmo nível dos europeus. Hoje em dia os estudos continuam.

Agora, mesmo os mais entusiasmados defensores deste tipo de pesquisas alertam para que o leigo não tente achar sinais de doenças na própria escrita. Além de ser muito difícil, não se pode realizar qualquer tipo de conclusão ou diagnóstico com apenas um instrumento de avaliação, mais ainda, algo que necessita de mais comprovação científica e estudos nesse âmbito.

Assim, nas linhas abaixo vamos falar sobre alguns sinais que podem aparecer nas escritas de pessoas com alguns tipos de doenças. Por favor, não tente avaliar, autoavaliar-se ou fazer comparações entre os mais diversos tipos de escrita, pois os erros podem ser grandes. Incalculáveis, por assim dizer.

Ilustro como exemplo um livro em que o autor dizia que pequenas quebras na base da letra T eram indicativas de suicídio. A mãe de uma adolescente chegou desesperada quando viu o dito sinal na escrita da filha. Pois bem, só não contava que o sinal aparecia apenas uma vez e provavelmente era fruto de ranhuras na cadeira escolar.

Os princípios básicos para observarmos doenças na escrita são os seguintes:
-  A escrita é uma manifestação motriz e ao mesmo tempo intelectual: a mão escreve, o cérebro comanda.
-  O exame da escrita se fixa em duas funções essenciais: motricidade e inteligência. Uma criança de dois anos não consegue escrever porque ainda não desenvolveu as condições osteomusculares para tal.
Tanto as alterações físicas quanto as do estado de espírito influem na execução material da escrita. Assim sendo, depressão, delírios, excitação etc., revelam sintomas que se traduzem em gesto gráfico. Todavia nem sempre é fácil observar isto, pois doenças mentais vêm acompanhadas com as físicas; alguns tipos de intoxicações têm sintomas parecidos com o alcoolismo.

Nos casos de estados de excitação, a escrita tende a ser movimentada, agitada, o tamanho é grande e desigual, as letras iniciais são extremamente desproporcionais, as palavras, linha e letras se misturam.
Quando ocorrem estados de depressão, a escrita tende a diminuir de tamanho, a velocidade idem, a direção das linhas é descendente, as últimas letras das palavras caem, as barras dos T são fracas ou até mesmo inexistentes. 
No caso de confusão mental, a perda da direção nas linhas é notória, existe grande confusão no traçado; a escrita muitas vezes se torna ilegível, com uma série de garranchos, quando tentamos ler é quase impossível.
A dor quando constante afeta a escrita de modo especial, os traços que deveriam ser retos ou curvos sofrem ao longo do caminho inúmeras torções, ou seja, pequenos desvios, algumas vezes perceptíveis somente com lupas. Isto tem que ocorrer ao longo de toda a escrita.

Em algumas doenças é muito fácil de observar as variações na escrita, como, por exemplo, o Mal de Parkinson. Neste caso, a escrita apresentar torções ao longo de todo o texto, as letras são quebradas em duas ou três partes, as pessoas têm dificuldade para escrever mesmo em cima das linhas. Os tremores se fazem presentes em todo o grafismo.


Mal de Parkinson. A escrita se torna pequena, são visíveis os tremores em todos os traços. As letras ovais (A e O) tomam a forma de quadrado. A lentidão do traçado, assim como sua deterioração são visíveis.

No caso do Mal de Alzheimer, estudos científicos demonstram que a agrafia (impossibilidade de escrever) é precoce. Alguns autores dizem que os sinais podem aparecer na escrita mesmo antes da doença se manifestar completa ou parcialmente. Além das torções existem omissões de letras ou palavras, simplificações anômalas etc. Enfim, a dificuldade grafomotora ocorre em todo o grafismo. Em muitos pacientes é comum a micrografia; ou seja, a escrita se torna extremamente pequena.


Homem, 76 anos. Mal de Alzheimer. A deterioração gráfica é bastante visível em toda a escrita. Muitas vezes a caneta não sai do papel, daí os borrões. A vontade do escritor deve ser destacada, pois o esforço consciente para manter a escrita legível é intenso.

Outro caso em que se notam alterações na escrita é o alcoolismo. O traçado é tremido, as letras fragmentadas, a pressão sofre inúmeras variações, é pastosa ou borrada - a caneta parece que solta tinta demais. Os tremores podem ser constantes e como a pessoa não tem controle os traços finais das letras são bastante prolongados.

Para muitos pesquisadores é certo que muitas doenças modificam a escrita, mas nem sempre podemos relacionar um padrão de escrita com o tipo de doenças. São necessárias mais pesquisas científicas para que isso fique provado.  

Portanto, mais uma vez: leia este artigo como curiosidade e não tente fazer qualquer tipo de avaliação. Mesmo que médico e grafólogo todos tenhamos um pouco, não fazemos diagnósticos.

Marluci Longarez Professora e consultora de redação. Grafóloga e Especialista em Linguagem Corporal. @marluci.longarez


estamos online   Facebook   E-mail   Whatsapp

Gostou?   Sim   Não  
starstarstarstarstar Avaliação: 5 | Votos: 165


foto
Paulo Sergio de Camargo é Escritor, grafólogo, especialista em Linguagem não verbal e RH, consultor de empresas nacionais e multinacionais. Palestrante internacional. Membro de Honra da "Agrupación Grafoanalistas Consultivos en Espanã" (Barcelona) e da SOBRAG, Sociedade Brasileira de Grafologia. Membro de Honra da Sociedade Espanhola de Grafologia e da Sociedade Mexicana de Grafologia Científica.

Deixe seus comentários:



Veja também

As opiniões expressas no artigo são de responsabilidade do autor. O Site não se responsabiliza por quaisquer prestações de serviços de terceiros.


 


Siga-nos:
                 


© Copyright 2000-2024 SomosTodosUM - O SEU SITE DE AUTOCONHECIMENTO. Todos os direitos reservados. Política de Privacidade - Site Parceiro do UOL Universa