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A conquista e o objeto conquistado

por Luís Vasconcellos em Psicologia
Atualizado em 08/06/2009 15:49:07


Os opostos se atraem, sobre isso nada precisa ser feito, pois sob esta lei homens e mulheres se procurarão por todo o sempre. O côncavo e o convexo se complementam.
Cada qual vê o OUTRO como o seu objeto de satisfação e de prazer.
Cada qual vê, no OUTRO, aspectos atraentes e faz o que for exigido para garantir a si mesmo(a) a continuidade do prazer, do encontro, da troca, da relação, da conquista e, claro, acima de tudo e de todos, da perpetuação da espécie. Alguém duvida da força e domínio deste instinto em nosso comportamento de relação e de envolvimento?
Forças poderosas e instintivas estão no domínio quando se trata de relacionamento entre sexos e entre polaridades masculina e feminina...
Para homens e mulheres, no passado e ainda hoje, os papéis e posições no jogo da conquista são geralmente diferentes e até opostos: No passado os papéis eram prescritos e claros: Cabia à mulher, com mais freqüência, o papel passivo, ou seja: ela dava sinais e esperava a iniciativa do homem, ela tinha um "comportamento de conquista" por meios indiretos (vulgo sedução), estimulando o macho a um papel ativo, quase sempre delegando a ele as iniciativas. Sabemos hoje o quanto isso mudou!

Geralmente alguém que decide entrar em um relacionamento depois de responder positivamente a comportamentos e sinais de sedução ou conquista, depois de algum tempo, acaba por ver, com saudade e sofrimento, eles desaparecerem ou se tornarem cada vez mais raros.
Como reagir quando flores não são mais enviadas, poesias não são mais escritas, momentos de encontro são mais espaçados, telefonemas rareiam, datas significativas são esquecidas, bilhetes/ cartas / torpedos / correios eletrônicos não são mais enviados?
Ninguém errará se pensar que o lado feminino anseia muito mais por estes acontecimentos e sofre proporcionalmente mais, pela falta deles... Mas são anseios também do lado masculino.
Há um amor de posse ("toma lá, dá cá") e há um amor de doação ("é dando que se recebe").
As pessoas presas do egocentrismo e do narcisismo não conhecem o amor de doação. Alguém poderá dizer, sem faltar com a verdade, que estas pessoas só amam a si próprias e não ao OUTRO.
O primeiro tipo de amor é muito mais comum e de uso corrente do que o segundo que depende muito mais de que sejam atingidos alguns graus de evolução psicológica.
Pergunta: O que acontece quando o objeto da conquista já está garantido?
Vamos refletir nisto: Todo relacionamento tem fases e normalmente a primeira fase contém componentes de sedução e conquista em grande proporção.
Estas pessoas, quando fazem algo de bom para o OUTRO, o fazem com vistas a obter o que desejam e, uma vez alcançado este objetivo, abandonam os comportamentos de conquista/sedução e, aos poucos vão deixando de dar sinais de interesse ou de carinho pelo OUTRO.
O amor de doação é o ideal a ser atingido, mas o amor de possessividade (típico do predador oculto em nós mesmos) é bem mais comum.
Em cada um de nós (nos homens, mais do que nas mulheres) a "percepção do predador" cumpre um papel dominante (um modo instintivo de lidar com tudo e com todos, dos tempos dos caçadores e nômades que um dia fomos!):
Ora, este modo de perceber, ao mundo e aos outros, seleciona e quer controlar (vulgo possuir) somente aquilo ou aquele que constitua um objeto de desejo; selecionar o que interessa ao ego (o EU, sob o ponto de vista egoísta), controlar o que necessita ser garantido (como uma necessidade, uma carência), garantir o que ofereça satisfação. Para o predador só o que interessa é levar vantagem e obter prazer e realização.
Ele não faz um carinho se isso não fizer parte de uma estratégia para receber ou conseguir algo em troca, ele não dá um presente sem a segurança de que haverá reciprocidade; ele não dá confiança sem a certeza de que o Outro está sob controle. Ora, sabemos que a desconfiança predomina onde há insegurança e medo de se entregar, de se arriscar, de viver... Pois esse é exatamente o caso do predador egocêntrico, macho ou fêmea.
Este modo seletivo de percepção (do predador embutido em nós) se esforça por discriminar e afastar tudo aquilo que possa trazer ou causar dor (ou que constitua ameaça). Em todos estes episódios os inseguros, os desconfiados e os traumatizados por separações e mortes anteriores (reais ou virtuais) sofrem por uma ansiedade diante da perda iminente daquilo ou daquela pessoa que anteriormente “parecia” estar garantida e conquistada...

Quando o relacionamento está em seus inícios e às vezes por bastante tempo, o “predador” pensa mais ou menos assim: “Há um período de conquista em que o Outro ainda não me pertence, ainda não está garantido e então ele(a) precisa ser seduzido e convencido a ficar, a permanecer, a durar... Para conseguir esta segurança e permanência tenho o direito de partir para o vale tudo, posso lançar mão de qualquer arma, de qualquer estratégia, de qualquer maquinação, mesmo que o Outro tenha que ser enrolado, iludido, pois eu sempre sei (assim acha o egoísta) o que o Outro quer ou necessita; sou capaz de imaginar e de conhecer suas expectativas e sonhos, necessidades e carências.
Quem já viveu ao lado de um egoísta típico sabe o quanto ele erra nas suas quase sempre simplórias deduções a respeito do que desejamos. Um egoísta típico presenteia mais a si mesmo do que ao Outro...

Se alguém for capaz de, realmente, se colocar no lugar do Outro, então será capaz de prever seus passos, antecipar suas necessidades e suprir suas carências. Porém com amor e respeito. Mas um egoísta não faz isso por amor e desprendimento e, sim, por interesse e no intuito (não declarado) de possuir, de ter poder, de controlar e de garanti-lo para si.O predador que se esconde em nós, sempre vaidoso, poderia dizer também: “a meu ver (sob o ponto de vista do meu desejo egoísta de controlar o Outro) ninguém poderá satisfazer o Outro mais do que eu mesmo.“ A pessoa que ama demais a si mesma é cheia de falso orgulho e sustenta com dificuldades uma auto estima frágil. Naturalmente, jamais aceitará tal verdade!

Mas, pensemos juntos: Quando um predador se sente preterido, passado pra trás ao ver o Outro parecer feliz ou satisfeito ao lado de outra pessoa, como sempre, ficará imaginando que tudo o que ele(a) fez de nada serviu! Ele(a) dirá: gastei energia à toa! Ficará com a vaidade pessoal ofendida: o que o enche de raiva e de indignação, pois a auto-estima estará ferida e, ao mesmo tempo, dependente do Outro para se sustentar.
Naturalmente, com legítimo pesar, podemos entender o por quê de tantas separações acabarem em brigas, raivas, ódios, desejos de vingança e assim por diante. Podemos ver aí também os crimes e atentados à liberdade do Outro.
O fato é que o “predador egoísta” detesta ser passado pra trás!!! Sua vaidade pessoal está acima até tudo!
Mas, continuemos acompanhando o pensamento do predador, desta vez de modo mais otimista e positivo, pois vamos imaginar que tudo está bem e o relacionamento entrou nos eixos, já que ele já garantiu a conquista e seduziu o Outro:
Ele(a) pensa, ao sentir-se seguro da conquista: “na medida em que eu (predador) me sinto garantido em minha conquista, o Outro já não exige mais tanto esforço de minha parte, pois já “caiu no laço” e tudo de que necessitarei será de cuidar da manutenção do conquistado. Sendo assim, aos poucos, e também para não dar na vista, posso abandonar aqueles comportamentos de conquista e de sedução. Minha percepção já pode deixar de se ocupar e de se concentrar na procura de garantir o vínculo com o Outro para poder concentrar-se, de novo, exclusivamente, e apenas, em mim mesmo.” Como sabemos, a partir daí o hábito e a rotina começarão a engolir tudo... e a economia de gestos de sedução começará a acontecer.

Parece uma historinha, mas quantos não se encaixam tanto em um lado da história como no outro, tanto no papel da caça quanto no do caçador?

O fato é que, a partir daí uma ESPÉCIE MUITO PARTICULAR DE TRANSE se instala e a rotina começa a comer lentamente as bases emocionais e sentimentais sobre as quais a relação se construiu e frutificou...

Não há nada de errado ou de condenável na busca do prazer e muito menos no esforço de manter e/ou garantir as fontes de satisfação; porém, ter apenas este horizonte em vista, faz com que seja impossível a CONSCIÊNCIA da existência real do Outro (em sua humanidade e complexidade) e esta característica egoísta anula e rouba o sentido do que poderia ser realmente dirigido ao Outro, presenteado ou doado ao Outro, sem qualquer expectativa (a não ser a de faze-lo feliz) e sem a preocupação com o que se vai lucrar.
Hoje em dia está se tornando comum um casal se envolver emocionalmente e, ao mesmo tempo, se relacionar sob um ponto de vista de valores e de conceitos do lucro e da ganância que domina estes nossos dias.
Quantos relacionamentos se tornam “empobrecidos” e se limitam à colaboração em pagar contas e sustentar necessidades?
O Amor autêntico entre os seres humanos e entre polaridades que se complementam não depende em nada destes vícios e desvios e se fará verdadeiro, onde os envolvidos realmente se entregarem, confiarem, arriscarem e se projetarem em seus sonhos... Amar, confiar, se entregar são estados de espírito que dependem de que haja energia disponível e são possíveis onde alguém se arrisque, aposte e se disponha a viver uma fantasia. Nada mudará isso, jamais... Felizmente!
O Amor é energia e não precisa ser inventado... Ele simplesmente acontece e quem conhece a sua força sabe que ela transcende qualquer manipulação ou desejo de poder sobre o Outro. Quem conhece o amor tem gestos e atitudes para com o Outro apenas por ser feliz enquanto age e sente desta maneira... O Amor não é egocêntrico!



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luis
Luís Vasconcellos é Psicólogo e atende
em seu consultório em São Paulo.



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