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A importância de sonhar

por Luís Vasconcellos em Psicologia
Atualizado em 19/11/2020 20:15:28


O QUE ACONTECE QUANDO, NOITE APÓS NOITE, ADENTRAMOS NO MISTERIOSO E COMPLEXO MUNDO DE MORFEU?

Para chegar ao objetivo de entender a importância do ato de sonhar, precisamos falar um pouco também sobre o sono:
Nesta reflexão não vou me estender muito nos aspectos simbólicos e psicológicos do sonhar e me prender ao que as pesquisas mais modernas "descobriram" sobre o sono e o sonhar. Durante muito tempo a comunidade científica esteve, por ironia do destino, "adormecida" para a complexidade e dinâmica que envolvem o processo do sono.
Várias linhas de pesquisa tentam desvendar o grande enigma dos sonhos. Temos vertentes pragmáticas, esotéricas, filosóficas e trabalhos de caráter mais científico, que estão sendo desenvolvidos em laboratórios de todo o mundo

Com estas bases, vamos derrubar algumas "lendas" que se construíram ao longo de anos de ignorância e de desinformação à respeito do sono e do sonhar:

O SONO É UMA ATIVIDADE PASSIVA E DORMIR SIGNIFICA APENAS DESCANSAR, FAZER NADA...

Ao contrário do que muitos pensam, o sono não é uma atividade passiva. O nosso cérebro exerce uma grande atividade durante este período (especialmente durante o sonhar, mais abaixo você encontra uma pequena descrição disto).
O que se desliga e descansa é a "parte consciente" do cérebro, aquela que domina a musculatura, toma decisões e elabora os pensamentos conscientes e as respostas necessárias aos estímulos do meio ambiente.
O que ocorre é uma mudança na qualidade e finalidade da atividade cerebral, pois é também, neste momento do sono e do sonhar, que estamos "aprendendo coisas", pois já se comprovou que o cérebro, durante o sonhar, vai selecionando o que deve ficar na memória e o que pode ser jogado fora. O mais interessante e revolucionário foi a "descoberta" de que ele faz isso a partir de um critério emocional. E elas são selecionadas por um critério que, a grosso modo, poderíamos chamar de "relevância" ou "sentido". As situações que mais marcaram emocionalmente são fixadas e as demais informações vão para uma espécie de "área de penumbra" de onde acabam descartadas.
É também por isso que aprendemos para sempre coisas nas quais estivemos realmente envolvidos.

SÓ SONHAMOS CINCO MINUTOS POR NOITE

São cinco estágios no ciclo de sono. Só no quinto sonhamos efetivamente.
Para melhor refletir podemos dividir, a grosso modo, em fase de não-sonhar e fase do sonhar. Na primeira são quatro estágios, nos quais a atividade cerebral vai se tornando progressivamente mais lenta, a partir da supressão dos sentidos e do desligamento das relações com o mundo externo. Aos poucos, a onda cerebral medida, vai ficando mais lenta, até atingir um nível de onda delta, que é uma onda de três a quatro ciclos por segundo. Este estágio é chamado, comumente, de sono profundo, quando é mais difícil de a pessoa ser acordada.
No quinto estágio, que é quando se sonha, a onda tem uma aceleração muito grande. Por isso é que se diz que o cérebro fica muito ativo e trabalha muito. A onda cerebral atinge um nível de aceleração praticamente do estágio de vigília, o cérebro trabalha à toda.
É bom ressaltar que DURANTE TODO O PERÍODO DE SONO existe um isolamento sensorial do meio ambiente. O curioso é que, por motivos de segurança, a audição é o único sentido consciente que não é desligado. Estamos protegidos pelo limiar de ruído.
Pode-se então entender o que nos acontece se dormimos em áreas com alto nível de ruído: podemos interromper o sonhar de uma pessoa com um estímulo de alguns decibéis, sem acorda-la de todo, mas suficiente para tirar a pessoa do seu sonhar.
Pode acontecer também de um barulho apenas superficializar o sono. Então, a pessoa de estágio Cinco, passa para o estágio Quatro, depois para o Três e assim por diante. O barulho no estágio Cinco sacrifica o sonho, em detrimento das funções intelectuais e psicológicas da pessoa.
No sentido orgânico, e do ponto de vista físico, o estágio Quatro é o mais reparador.
Depois vem o quinto estágio quando então sonhamos. Neste estágio a atividade cerebral atinge um pico parecido com o pico de atividade cerebral da vigília, ou seja, trabalha tanto quanto se estivéssemos acordados.
Uma coisa que hoje em dia se conhece é que o organismo é todo controlado por relógios biológicos internos. Nós passamos pelos diferentes estágios do sono de quatro a cinco vezes por noite. Depois de mais ou menos uma hora e meia, chegamos ao estágio Quatro. Depois de atingir o estágio Cinco, sonhamos por volta de cinco a dez minutos e voltamos ao estágio Um, recomeçando o ciclo. Os estágios se repetem quatro ou cinco vezes por noite. Só que os estágios iniciais vão se tornando mais curtos e os estágios Cinco vão ficando mais longos. Portanto, na medida em que você dorme, você vai tendo períodos de sonho cada vez mais longos.
Em geral podemos calcular que cada um de nós passa mais ou menos duas horas sonhando, por noite.

EU NÃO SONHO! EU NUNCA SONHO!

Esta é uma afirmativa sem nenhuma base. O que acontece é que alguém pode NÃO SE LEMBRAR do que sonhou. Ë muito comum que alguém jamais tenha sido ensinado ou estimulado a lembrar do conteúdo de seus sonhos.
Muitos passam por isso por causa dos distúrbios do sono. Isto vai se refletir na perda da qualidade de vida e no aumento dos problemas psicológicos. É preciso reencontrar o ideal em termos de qualidade de vida. Isto significa um sono mais reparador e sonhos mais plenos de sentido para o sonhador.

SE EU NÃO DORMIR BEM, TUDO BEM!

As pesquisas feitas nos últimos decênios têm mostrado resultados cada vez mais surpreendentes, revelando ser o sono uma das fases mais nobres, porque nela se efetuam importantes etapas da aprendizagem, da criatividade, do equilíbrio emocional etc.
O homem que não dorme bem é um HOMEM MÁQUINA, apto portando para o trabalho físico, mas incapaz de desempenhar bem um trabalho intelectual e SEM ENERGIA para ser criativo ou inventivo.
Levantamentos estatísticos mostram que os adultos dormem entre 5 e 9 horas, sem considerar a sua qualidade e sua saciedade. Sabe-se que a necessidade de sono na pessoa normal e adulta varia com a saúde, tipo de atividade, personalidade ou fase da vida.
Crianças, estudantes, doentes e intelectuais necessitam de mais horas de sono e sonho.
Por outro lado, sabe-se que a regularidade do sono é fundamental para a saúde.
Isto significa que pode ser bom ter hora certa para dormir e para levantar.
Mas, dormir bem significa (principalmente) cumprir adequadamente os cinco estágios pelos quais o sono passa.

SE EU DEIXAR DE SONHAR NÃO VAI ACONTECER NADA, NEM MUDAR NADA!

O sonho tem uma importância fundamental na QUALIDADE de nossa vida e saber compreender o sentido do que se vive neles e analisá-los pode acrescentar muito às nossas vidas.
Experiências feitas mostraram que as pessoas que ficavam, durante uma semana, tendo suprimidas apenas as suas fases do sonho - que acontecem no quinto estágio do sono - ficaram com um humor péssimo, tiveram dificuldade de concentração e mostraram grande dificuldade em tarefas que exigiam atenção e concentração.
Além disso a passagem pelos estágios 1 ao 4 se dava de forma progressivamente mais curta chegando ao ponto em que o cérebro insistia uma vez atrás da outra em sonhar. Nem é preciso lembrar que é assim que nosso corpo se comporta quando somos, por exemplo, impedidos de respirar normalmente.

SÓ O SER HUMANO SONHA!

Os animais também sonham. Eles também têm movimentos rápidos dos olhos enquanto sonham e, neste períodos, por exemplo um cão, poderá latir, fazer movimentos de correr, mexer as bochechas, orelhas, as patas, como se estivesse fazendo um monte de coisas em seu sonho. Do mesmo modo isso ocorre com o gato e com a maioria dos animais de sangue quente. Em alguns animais primitivos constatou-se que a atividade do cérebro durante o sonhar em nada difere da atividade cerebral durante o estado de vigília.

O SONHO NÃO TEM NADA A VER COM A REALIDADE!

O sono obedece a um ritmo biológico regulado, por assim dizer, por um relógio interno, mas sincronizado pelo ritmo de atividade, pelo ritmo diário da pessoa. O sonho, com freqüência exerce uma função COMPENSATÓRIA em relação às atividades e experiências da vida normal.
Contudo, este lado natural de nós mesmos, este mecanismo biológico, é sensível também aos ritmos externos e condições nas quais vive o sonhador.
Modernamente pode-se dizer que há, de fato, uma imposição dos ritmos externos sobre os naturais e isto se reflete no conteúdo e na qualidade, tanto do sono quando do sonhar. Por isso é que as pessoas tendem a recuperar o ritmo próprio nos finais de semana. Só que, vice-versa, quando começa a semana, há o efeito da segunda-feira, marcada pelo choque de ritmos e pela imposição do ritmo industrial, forçado pelas obrigações pertinentes à vida diária.

POSSO MUDAR A TODO MOMENTO A MINHA HORA DE DORMIR E TUDO BEM!

Não é bem assim, ainda que, limitadamente e de forma não continuada, se possa fazer isso: Por exemplo, uma pessoa vive trabalhando em turnos e durante uma semana ela dorme das 00:00 às 08:00; na semana seguinte, dorme das 08:00 às 16:00; em seguida, muda de novo de turno de trabalho e vai dormir das 16:00 à 00:00 hora.
O que ocorre? Há um desequilíbrio progressivo, pois uma única semana não permite a adaptação do cérebro ao ritmo de dormir em horários diferentes e a qualidade de sono cai vertiginosamente. Esta pessoa poderá ter problemas de nervosismo, falta de concentração, irritabilidade e uma propensão a cometer erros em sua atividade, maior do que a normal.

Algo mais ou menos parecido aparece quando alguém viaja de avião e vai experimentar uma diferença grande de fuso horário.


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luis
Luís Vasconcellos é Psicólogo e atende
em seu consultório em São Paulo.



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