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A vida após você se resgatar de um predador emocional

por Silvia Malamud em Psicologia
Atualizado em 08/04/2020 11:35:12


Sempre comento com meus pacientes que anos após o resgate de si mesmos é que irão se dar conta da real dimensão do que passaram enquanto estiveram sequestrados por tais predadores emocionais.

Os resgatados precisam tomar cuidado redobrado para não ficarem ativados em situações que absolutamente nada têm a ver com os fatos ocorridos anteriormente. Inúmeras vezes situações corriqueiras ainda poderão acionar nessas pessoas aceleração cardíaca, angústia, tremores, sensações de queimação na área do peito, barriga, estômago, entre outras. Tudo isso porque os sistemas físicos e a alma ainda não se recuperaram plenamente dos traumas que esse tipo de relação devastadora promove.

Aqui estão alguns breves relatos autorizados de lembranças traumatizadas que pacientes pós-resgate tiveram durante as sessões de reprocessamento em terapia de EMDR e Brainspotting. Lembrando que essas terapias têm a capacidade de espontaneamente colocar o paciente em várias situações que foram danosas a fim de serem redimensionadas.

Com este tipo de ajuda terapêutica, a inteligência de sobrevivência vai tecendo uma espécie de colcha de retalhos sobre todo o ocorrido, extravasando, ao mesmo tempo em que reescreve as emoções e pensamentos disfuncionais que ficaram nas situações traumáticas. Modifica a compreensão de memórias danosas, fortalecendo e resgatando recursos pessoais até que se chegue na cura emocional.

Cenas que vieram durante o reprocessamento: "Ele sabia como me desestabilizar. Eu tinha uma urgência muito grande para resolver algo que ele dizia que não era bom no momento, o que ativava meu grande mal-estar. A partir daí, a conversa não fluía mais e eu falava sempre sozinha; eu chorava muito e ele nunca falava nada. Se eu quisesse ir embora dava na mesma. Não fazia questão de sequer me acalmar. Quanto mais ele me deixasse desestabilizada, mais ele gostava. O único jeito era ficar ao lado dele"...

"Quando eu queria ir embora, ele vinha tão bonzinho, carinhoso e eu ficava confusa achando que eu poderia ter sido muito severa".

"Frequentemente, ele falava e me acusava de coisas que eu não havia feito".

"No começo me despertou coisas tão boas e depois virou do avesso.
Sua presença, preocupação... marcava as minhas consultas para eu ir ao médico. Eu me sentia cuidada quando me dava remédios, mesmo quando ele era tão ruim comigo. Lembranças de momentos difíceis com ele, sensação de impotência e de desespero, desconforto no peito eram constantes".

"Hoje vejo que ele fazia coisas, às vezes pelo telefone, que eram apenas para me despertar desespero; por qualquer motivo inesperado, ele mudava drasticamente de humor e dizia: agora não quero mais conversar e não dava mais respostas dizendo, "sim", "não", "tá" e isso me colocava numa ansiedade em busca de respostas; eu tentava ficar quieta esperando passar... pedindo-me para não ir na casa dele e, enquanto falava isso, eu ia colocando roupas numa sacolinha e ia lá... e eu chegava na casa dele e ele com aquela cara muito feia me dizia: você veio aqui para conversar? E nessas ocasiões, o que era sempre, ele me dizia: "Você é a santa, né? Você não faz nada"... E falava que se eu o obedecesse, eu seria mais feliz. No começo, quando eu ainda tinha forças, dizia que ele era insaciável, que queria alguma coisa que não existe. Com o tempo, fui me calando, adoecendo mais e mais... Não sei como fui cair nisso"...

Algumas cenas do reprocessamento, quando os pacientes começam a acessar seus próprios históricos pessoais, onde preparavam as redes que facilitam serem presas destes narcisistas perversos:
"Descobri que sempre quis superar expectativas. Quando a pessoa muda estando comigo, o primeiro ímpeto é fugir e o segundo é mudar de atitude, ser mais agradável... e quando funciona tento me adaptar cada vez mais, mas fico magoada. Falo dessa mágoa, mas quando falo é incômodo, eu me adapto e minto para mim mesma. Lembro agora que fazia isso em casa, com a minha mãe... Tentativas de não sentir aquilo que estou sentindo. Ou porque acho que estou exagerando, ou se tenho tanto medo da pessoa escapar, ir embora e não me amar, faço de conta que a pessoa não está fazendo isso comigo. Quando se trata de alguém muito próximo, eu me vejo escrava. Adapto-me ou abro mão?"...

No caso das vítimas desses predadores, é importantíssimo um processo terapêutico para a total recuperação da vida dela. Como se a pessoa voltasse de uma guerra apenas com o próprio corpo. Quem passou ou está passando por semelhante situação sabe o que isso significa e como todo o tipo de ajuda também é importante.

Ocorre que todos nós crescemos, mas a nossa máquina cerebral ainda pode estar enviando informações antigas sobre nós mesmos, fazendo-nos agir do modo que não desejamos; todas as áreas da existência ficam comprometidas quando você não se atualiza.

Quando você atravessa a moldura de algum impacto emocional, que usualmente costuma lhe cercar, reprocessa o tempo que deu início a todo este cabedal mudando toda a configuração deste cenário. Pensamentos, sentimentos e crenças, antes mal focadas, conseguem definitivamente realizar o seu fluxo contínuo como se fosse um rio límpido correndo livre, sem desvios ou quaisquer outros 'impedidores'.



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silvia
Silvia Malamud é colaboradora do Site desde 2000. Psicóloga Clínica, Terapias Breves, Terapeuta Certificada em EMDR pelo EMDR Institute/EUA e Terapeuta em Brainspotting - David Grand PhD/EUA.
Terapia de Abordagem direta a memórias do inconsciente.
Tel. (11) 99938.3142 - deixar recado.
Autora dos Livros: Sequestradores de almas - Guia de Sobrevivência e Projeto Secreto Universos

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