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Jovens Violentos

por Flávio Gikovate em Psicologia
Atualizado em 27/10/2006 11:21:11


- Quando nos colocamos no papel de vítimas das grosserias e exigências de nossos filhos, esquecemos que eles aprenderam seus valores conosco.

Leio numa revista de Nova Iorque que os jovens ali só falam em dinheiro e em pessoas famosas. As moças gostam de sair com os rapazes mais populares, o que tem significado muito variado e pode inclusive querer dizer que tais moços são mais competentes para assaltar ou para conseguir drogas. No Brasil, são freqüentes as notícias sobre violências cometidas por jovens de boa condição econômica - e não raramente contra seus próprios pais ou parentes próximos. Na maioria dos casos, o que está em jogo é o dinheiro: eles sempre exigem mais, enquanto seus pais decidem regular a quantia a eles destinada. Sentem-se indignados, como se estivessem sendo roubados! Reagem com agressividade a essa impressão que, claro, não corresponde à realidade.

Os pais se queixam de que os moços de hoje são muito diferentes. Eles são apáticos, indiferentes a tudo e a todos, sem garra e com a ambição totalmente voltada para as coisas materiais. Não têm projetos para o futuro. Sonham apenas em ficar ricos e famosos, mas não percebem que tais recompensas representam o futuro de um esforço prévio.

Qual a origem desse comportamento? É preciso averiguar se, de fato, nossos jovens são mais violentos e propensos às transgressões do que os das gerações anteriores. Não creio que nossa espécie venha se deteriorando. Acredito, porém, que somos muito influenciados pelo meio em que crescemos. Somos educados, mais pelo que observamos do que pelo que ouvimos. As pessoas sempre tiveram propensão para levar vantagem e para uma relativa falta de sentido moral - entendido como um freio interno que nos impede de praticar ações que reprovamos.

Acontece que, atualmente, muitas crianças crescem vendo seus pais, seus irmãos mais velhos ou outros parentes se vangloriando do mal que fizeram a outras pessoas e de como isso foi lucrativo. Não podemos nos preocupar apenas com dinheiro e fama e depois querer que nossos filhos se interessem pelo conhecimento e passem as noites tentando desvendar os segredos da Física e Matemática.

Eles ficarão fascinados pelas mesmas coisas que percebem ser relevantes em casa. Os valores dos nossos jovens são os da nossa cultura materialista e incrivelmente voltada para a busca de glórias a qualquer preço. Eles aprenderam conosco a encarar as coisas dessa forma. Depois, como se não tivéssemos nada a ver com a história, nos encontramos no papel de vítimas de suas grosserias e exigências.

Talvez a única característica efetivamente própria desta geração seja a indolência. Não os vejo muito animados nem mesmo para perseguir objetivos sexuais, antes o motor principal da nossa espécie. São passivos, talvez em conseqüência do hábito de assistir TV o tempo todo - não precisam tomar nenhum tipo de iniciativa a não ser a de mudar os canais. Preguiçosos, ambiciosos e materialistas: eis uma mistura explosiva que constitui a maioria da nossa juventude.

Assistimos ao agravamento dos comportamentos anti-sociais, a uma piora na postura moral e à abertura para a conduta delinqüente. Tudo isso é muito facilitado pelo uso de drogas, tão ao gosto dos que já não são muito esforçados. O grau de violência que temos presenciado é ainda pequeno perto do que podemos esperar, dadas as condições em que eles estão sendo criados. É urgente rever os valores que estamos transferindo para os nossos filhos.



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flavio
Flávio Gikovate é um eterno amigo e colaborador do STUM.
Foi médico psicoterapeuta, pioneiro da terapia sexual no Brasil.
Conheça o Instituto de Psicoterapia de São Paulo.
Faleceu em 13 de outubro de 2016, aos 73 anos em SP.

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