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Nossa porção Inteligente

por Maria Aparecida Diniz Bressani em Psicologia
Atualizado em 26/08/2002 18:14:12


Acredito que, como ser humano, somos seres energéticos, que além dessa massa material que nos dá forma, somos, também, constituídos de energia. Quando digo energia, me refiro a esta força que, através de transmutação física, nos dá vida e segue gerando desenvolvimento contínuo, tanto como indivíduos quanto como seres humanos.
Como seres humanos essa força nos leva desde a luta pela sobrevivência até a evolução e aprimoramento da espécie. Como isto acontece? O que temos a nosso favor? Qual a diferença que nos separa dos outros animais?

O ser humano tem a seu favor a inteligência. Inteligência, não apenas em quantidade de Q.I. É claro que se procurou desenvolver um teste que medisse a inteligência das pessoas. Neste caso, os teste de Q.I. nos dá mais a quantidade do que a qualidade de inteligência, pois o teste deixa a desejar na avaliação da complexidade do pensamento humano. A inteligência emocional trata deste aspecto, procura compreender “como” o ser humano faz suas escolhas racionais associadas às suas motivações emocionais, “como” nós usamos nossa inteligência a favor do nosso desenvolvimento e crescimento pessoal.
Então, o grande poder da inteligência que temos a nosso favor, é a complexidade do pensamento; é conseguir toda a espécie de conexão da qual somos capazes enquanto seres humanos. É conseguir colocar os instintos e as emoções sob controle da razão, mas sem sem racionalizar.
Racionalizar seria usar a razão, através de um discurso muito bem organizado, para explicar o porquê de determinada atitude.

Para que fique mais claro o que significa racionalizar, faço distinção entre entender e compreender.
Entender quer dizer ter uma idéia clara sobre o porquê. Entendo e sei explicar porquê tive determinada atitude. Mas o entendimento não me dá o insight sobre minhas motivações interiores. Eu consigo explicar minhas “razões” de forma bastante racional e lúcida, sem ser “tocado” pelas minhas motivações emocionais; consigo até explicá-las, mas não senti-las – não, pelo menos, no sentido amplo e profundo de todas nossas possibilidades.

Compreender uma certa atitude é conseguir “alinhavar” razão e emoção. É ter o insight sobre minhas reais necessidades emocionais que me levaram a agir de tal maneira. É conseguir entrar em contato com as minhas emoções que me conduziram à determinada atitude. Consigo, ao mesmo tempo, explicar e sentir todas as “nuances” (ou pelo menos, a sua maioria) dos meus sentimentos que me moveram à minha ação; contendo os elementos – razão e motivações emocionais (muitas vezes inconscientes) – no mesmo “pacote”.

Na verdade, esta distinção é muito mais “técnica”, pois o nosso “amigo” Aurélio os coloca como sinônimos. Mas, percebo que compreender é conseguir ir mais “fundo” na percepção de determinada questão, enquanto que entender seria ter uma visão mais superficial da mesma.
Então, quando falamos em ser humano, falamos de um animal racional.
Como animal, somos instinto biológico lutando pela sobrevivência da espécie. Nesta luta há o combate com os outros animais, como também com o próprio homem, para a preservação da espécie e demarcação de seu território.
A capacidade de preservar e sustentar a vida é atributo do instinto; que no seu nível mais animal do ser humano é bestial e irracional.

O lado racional deste animal, que somos nós, nos proporciona inteligência, que é a capacidade que o ser humano tem de encontrar significado para sua vida, que vai além da sobrevivência, ocorrendo através da Reflexão e da Religiosidade.

Religiosidade, não no sentido de se ter uma religião, mas na capacidade de se ligar ou re-ligar a uma energia maior, que podemos chamar de Deus, Cosmos... ou seja, à Capacidade Inteligente que rege o Universo, e que o mantém em devida harmonia e desenvolvimento constante. E a Reflexão; eu, como psicoterapeuta, acredito que um dos melhores caminhos é a psicoterapia.
É esta inteligência que nos permite ampliar e elevar nossa consciência, a partir do momento em que conseguimos utilizar mais a nossa capacidade de compreender os porquês das nossas necessidades emocionais - e o que a nossa razão nos dita - e, conseqüentemente, o resultado final: nossas escolhas e nossos comportamentos.
É a nossa porção inteligente que nos faz, enquanto seres humanos, cada vez mais desenvolver tecnologias para que possamos ter conforto e sofisticação para a nossa raça.
Então, temos essa inteligência que quanto mais desenvolvida, mais nos permite compreender a vida e todas as situações, a nós mesmos e aos outros, e ajuda a nos distinguir, enquanto individualidades, nas relações e nas situações da nossa própria vida.
E quanto mais o ser humano aprimorou sua inteligência – com aquelas conexões – dando cada vez mais significados para suas coisas e sua vida – mais ele – ser humano – afastou-se de seus sentimentos. Usando sua inteligência apenas, cada vez mais de forma racional, fria e cortante, sem o calor dos sentimentos.

Jung já dizia que onde há Amor não há Poder e onde há Poder não há Amor.
A inteligência deu ao ser humano o poder de dominar a Terra e todos os seus habitantes irracionais e outros seres humanos tido como mais primitivos.

Em toda a história da humanidade vemos o ser humano subjugando o outro ser humano. E qual foi a arma, realmente potente, que os dominadores sempre usaram – desde os homens da caverna – para dominar? A inteligência. O Poder do ser humano é a inteligência. Sempre, utilizada e aplicada, para subjugar através da imposição das suas verdades e doutrinando o povo vencido. E aí, parece que o ser humano “esquizofreniza”. Parece não ter mais senso de identidade preservado. A violência é apenas “o” sintoma. Em toda situação de violência – que vai desde seqüestros relâmpagos até o atentado de 11 de setembro – podemos perceber o descontrole e desequilíbrio energético que o ser humano vive na atualidade.
E parece ser isso que acontece na história da humanidade. Seja em países diferentes, ou até mesmo dentro do mesmo país – como no caso do Brasil atualmente – há pessoas vivendo em condição sub-humana e outras, vivendo como deuses caídos na terra, esquecendo-se que também são seres humanos. Parece que o desenvolvimento da tecnologia e da inteligência têm levado, mais e mais, o ser humano a um afastamento cada vez maior de si – de suas necessidades e motivações emocionais – como se houvesse um abismo entre sua razão e seus sentimentos.
Vemos a inteligência entendida como sinônimo de Poder, usada em prol da subjugação do forte contra o fraco. O forte “instrumentalizado” pela inteligência e pela tecnologia, e o fraco, deficiente de tais recursos. Esta é a história da humanidade. O que, no princípio desta história, era uma questão de sobrevivência, tornou-se movimento automático, que perdura até hoje, como se fôssemos homens da caverna ou bárbaros da idade antiga.

Mas, o que nos traz grande alívio e perspectiva da salvação para a raça humana é ver os movimentos de “voluntariado”, lembrando-nos que somos, sim, seres humanos e que todos somos um. Aquele que está sofrendo na condição sub-humana é um irmão nosso. Encontramos, aí, o Amor. É o lado saudável do ser humano que quer a cura e reintegração da unidade.
Então, percebemos um maniqueísmo no desenvolvimento do ser humano: essa divisão entre poder e amor, como fosse antagônicos, como o próprio Jung disse.
Então, eu volto a perguntar: O que temos a nosso favor diante deste cenário?
A resposta continua sendo a mesma: a Inteligência – só que, agora, com “i” maiúsculo!

A Inteligência com “i” maiúsculo é a capacidade que nós, seres humanos, temos de nos perceber fazendo parte de um todo maior; onde não existem vencedores e vencidos; onde se um perde, todos perdemos. (Sabe aquela história do microcosmo e macrocosmo?!)
É a Inteligência que nos fará romper com este comportamento “animal”, que acontecia nos primórdios, pela necessidade da sobrevivência.
Então, temos, também, a Inteligência que tem a função de nos fazer perceber toda a dinâmica energética, que organiza o Universo numa integração do seu Todo de forma harmônica e de evolução contínua, da qual, simplesmente, fazemos parte. É essa Inteligência que nos fará conseguir integrar Poder e Amor, num “mix” homogêneo.
Mas, como faremos isso?

Quando se fala que cada um tem que fazer a sua parte (naquela questão do voluntariado, por exemplo), na verdade, é neste sentido mais profundo, de resgate de si enquanto indivíduo – seu senso de identidade. Quando, eu salvo a outra pessoa de sua miséria, estou salvando, verdadeiramente, a raça humana – a mim mesmo.
E, se cada indivíduo – um ser humano – fizer este trabalho consigo mesmo e oferecer à humanidade, elevaremos a vibração energética e a consciência da humanidade. Quando aprendemos a usar a Inteligência (com “i” maiúsculo) no próprio desenvolvimento individual, aprendemos a responder à vida de forma mais evoluída e madura, eliminando de nossas vidas os equívocos e maus entendidos; compreendemos, claramente, o significado das situações em nossas vidas e aprendemos que as situações não existem para que, simplesmente, soframos, mas, sim, que as encaremos e as resolvamos, assumindo, assim, total e absoluta responsabilidade sobre nossa vida.
É para isto que serve a nossa porção Inteligente!
Você a está usando??


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maria
Maria Aparecida Diniz Bressani é psicóloga e psicoterapeuta Junguiana,
especializada em atendimento individual de jovens e adultos,
em seu consultório em São Paulo.


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