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O eu-para-os-outros é um servidor do mundo

por Luís Vasconcellos em Psicologia
Atualizado em 28/07/2000 14:33:15


Para a maioria de nós o EU-PARA-OS-OUTROS não é, de fato, o centro de governo. Apesar do SERVIDOR do MUNDO ter um grande poder em sua função, exorbitando às vezes os poderes que lhe são delegados, o nosso real centro de comando e de decisões fica em outra posição mais central. Nossa CONSCIÊNCIA constitui um poder mais central no REINO do EU e, de maneira geral, é dela o poder de decisão e a prerrogativa de decidir os rumos das nossas ações. Este poder mais central tem entre suas prerrogativas o papel de executivo e sob seu comando direto a musculatura e as decisões ( no agir de cada um ). Só se pode dizer que há um problema se ficarem evidenciados os excessos, os traços ditatoriais e a repressão ou censura sobre os outros poderes do Reino do EU. Só então se pode verificar que a PERSONA dominou a consciência e isso, sem dúvida nenhuma, tem um preço.
O SERVIDOR do MUNDO quando toma a si o comando dirige os rumos das ações e as escolhas pessoais sempre para os rumos estabelecidos pelo coletivo, em detrimento dos aspectos individuais e pessoais. Infelizmente este processo tem crescido bastante em nossa sociedade e sobre todos nós paira a ameaça de uma excessiva uniformização do homem em geral.
Existem problemas psicológicos mais letais que a própria AIDS: eles matam a pessoa enquanto CONSCIÊNCIA, mas deixam seu corpo vivo, deixam-na existir como uma espécie de zumbi inconsciente de si própria, agindo por programas pré determinados e padrões de toda sorte. A pessoa APARENTEMENTE nada decide, nada escolhe, apenas segue o "mundo" e suas leis, segue os caminhos balizados da cultura e da civilização, mas não todos eles, pois a pessoa em questão sofre geralmente de uma crônica falta de informações que digam respeito a ela mesma, inapelavelmente invalidando-se como consciência livre e autônoma Não se sentindo mais centrada em si mesma, não mais escolhendo ou criando seus caminhos, a pessoa entrega-se ao poder, à vontade de poder ou de ter; sofre uma exteriorização total, com conseqüente esvaziamento do seu íntimo ( que se traduziria paulatinamente no contato com sua natureza essencial ). Neste estado de falta de sintonia consigo mesma a pessoa volta-se para o mundo e procura referências principalmente nos outros, criando um prevalente e prepotente EU-PARA-OS-OUTROS: uma PERSONA todo poderosa que absorve o ego consciente e rouba dele qualquer necessidade de buscar sentido no contato com o mundo inconsciente.

Nesta época, em que o materialismo e o imperialismo da ciência linear de nosso tempo estão tão em voga, fica difícil defender uma alteração significativa dos rumos do desenvolvimento coletivo. Contudo esta é uma confusão frequente e que precisa ser superada por cada um de nós já que os assuntos internos do REINO do EU não pertencem nem são exatamente de mesma natureza dos do reino exterior, portanto constituem uma demanda e uma pressão da qual nenhum de nós consegue fugir, especialmente na meia idade. A CONSCIÊNCIA precisa estar em meio ao aparente abismo que separa os opostos e tomar decisões que satisfaçam sabiamente a ambos os lados de uma questão. Para tanto precisa haver negociação dentro dos limites do EU. Precisa haver silêncio interno para que as escolhas brotem naturalmente; silêncio este que, com freqüência demasiada, é atropelado pela opinião majoritária do meio ambiente, sempre em detrimento da INDIVIDUALIDADE e quase sempre incorporando valores típicos do "status quo" vigente. Sempre será mais fácil ter uma resposta pronta para tudo do que se dar ao trabalho de elaborar as próprias respostas a respeito das coisas, situações e a respeito de si mesmo principalmente. Os atores de talento existem em menor número do que os canastrões que só interpretam a si mesmos e adoram ouvir sua própria voz.

A vida psicológica do Discípulo é sempre mais confortável do que a vida psicológica do Mestre, sempre permeada de difíceis decisões... A ninguém devia faltar a noção de que somos sim, influenciados pelo meio ambiente, mas é inútil torna-lo em único culpado pelo rumo equivocado de nossas decisões, pois ( parafraseando Sartre ) cada qual é o responsável pelo que fez com aquilo que o meio ambiente quis fazer dele...
Este estado de coisas, nas relações entre o Reino do EU e o meio externo ( família, sociedade e pensamento da época ) é muito preocupante, em uma sociedade de massas, como hoje se apresenta a nossa, daí a necessidade de fazer acordar as pessoas para a dinâmica psicológica interna. O descaso para um dos lados ( interior ou exterior ) sempre acarreta excessos e neurose. Somente o descaso para com o mundo interior foi objeto desta reflexão. Não faz qualquer diferença se há pessoas perdidas no "mundo externo", pois as encontramos também perdidas no "mundo interno": sem bons e eficientes PERSONAGENS a desempenhar suas preciosas e importantíssimas funções.

Em caso de desequilíbrio todos pagam o preço: o EU primeiramente, por perder sua qualidade de vida, seu sentido, sua aventura de viver; e a cultura acaba também lesada pela perda da contribuição de um indivíduo que, através de suas ações pessoais, poderia ser valoroso e útil para o crescimento do todo.
A qualidade individual pode somar à sociedade como um todo; já o oposto não é sempre verdadeiro, pois ninguém desenvolve CONSCIÊNCIA por imitação ou apenas por incorporar e "macaquear" valores de cujo sentido não compartilha. Só são "combatentes" confiáveis aqueles que entenderam o sentido da lei, da norma e da moral. O julgamento ( e, portanto, a condenação fácil ) se contenta apenas com as convenientes explicações ( que nunca faltam ) enquanto o juízo e a razão se apoiam na compreensão humana.
Tanto no trânsito entre a CONSCIÊNCIA e o meio externo ( através da PERSONALIDADE ) quanto no trânsito entre esta e o seu meio interno ( o INCONSCIENTE ) um desafio de instigantes proporções se oferece e se apresenta à CONSCIÊNCIA desperta. A qualidade de uma cultura reflete a qualidade dos que a compõem como em uma via de duas mãos, gerando um fluxo contínuo de conflito e aperfeiçoamento, de crise e de evolução, de ódio e de amor.Em caso de desequilíbrio todos pagam o preço: o EU primeiramente, por perder sua qualidade de vida, seu sentido, sua aventura de viver; e a cultura acaba também lesada pela perda da contribuição de um indivíduo que, através de suas ações pessoais, poderia ser valoroso e útil para o crescimento do todo.
A qualidade individual pode somar à sociedade como um todo; já o oposto não é sempre verdadeiro, pois ninguém desenvolve CONSCIÊNCIA por imitação ou apenas por incorporar e "macaquear" valores de cujo sentido não compartilha. Só são "combatentes" confiáveis aqueles que entenderam o sentido da lei, da norma e da moral. O julgamento ( e, portanto, a condenação fácil ) se contenta apenas com as convenientes explicações ( que nunca faltam ) enquanto o juízo e a razão se apoiam na compreensão humana.
Tanto no trânsito entre a CONSCIÊNCIA e o meio externo ( através da PERSONALIDADE ) quanto no trânsito entre esta e o seu meio interno ( o INCONSCIENTE ) um desafio de instigantes proporções se oferece e se apresenta à CONSCIÊNCIA desperta. A qualidade de uma cultura reflete a qualidade dos que a compõem como em uma via de duas mãos, gerando um fluxo contínuo de conflito e aperfeiçoamento, de crise e de evolução, de ódio e de amor.


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luis
Luís Vasconcellos é Psicólogo e atende
em seu consultório em São Paulo.



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