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Processo de individuação

por Silvia Malamud em Psicologia
Atualizado em 28/05/2009 16:04:58


Estudo de caso: Processo de individuação atingindo a trama transgeracional da estrutura familiar.

Como sempre, as histórias aqui são verdadeiras, apenas com os nomes trocados. Pacientes que, embora concordem com a exposição, sabem que estão totalmente protegidos e que situações e lugares são também remodelados, mas não o tipo de ambiente emocional e o seguimento evolutivo dos casos propostos.

Neste relato, a trama familiar revela-se durante e após um longo período de casamento quando um dos componentes conquista o seu processo de individuação.

Rubens, 39 anos, foi criado numa família oriental em meio a moldes bastante austeros. Teve um pai (falecido) extremamente autoritário, uma mãe distante e passiva, uma irmã, três anos mais velha do que ele e um irmão cinco anos mais jovem, que faleceu atropelado por um ônibus quando voltava da escola com sua mãe. Fato marcante, ocorrido ao mesmo tempo em que outros acontecimentos penosos aconteceram na trama familiar. Veremos na seqüência das explanações.

Em seus relatos, Rubens conta que Augusto, seu pai, abandonou a profissão de origem logo que se casou em nome de abraçar a profissão do sogro. Segundo os seus relatos, provavelmente, em busca de sucesso material. Conta também que, aos 10 anos, seu pai perde drasticamente todo o dinheiro acumulado nesses anos de casamento e que a vida da família, antes com muito dinheiro, muda para a situação oposta. Em meio a estas intercorrências, a família vai para um bairro menos favorecido e, todos, após este momento, começam a viver com sérias limitações financeiras. E no apogeu de toda esta mudança de vida é que acontece o atropelamento e morte de seu irmão mais novo.

O pai ainda tenta algumas empreitadas, mas todas acabam por afundar ainda mais a família e, com o decorrer do tempo, todos passam a ser ajudados financeiramente por uma pequena herança que o sogro havia deixado, além da ajuda de alguns familiares próximos do lado da esposa.

Ainda nesse tempo, Augusto teve que ficar com a mãe por que a mesma não conseguia se auto-sustentar e, assim, permaneceu subjugado aos ditames da mesma, até o dia de sua morte. Ele sempre quis demonstrar aos filhos o quanto amava essa mãe e, por modelo, como que deveriam agir para com ele.
Com a chegada da avó paterna, também com personalidade autoritária, a irmã de Rubens se vê obrigada a dormir com a mesma e ele, por falta de espaço, passa a dormir na casa de um vizinho.

Augusto mantém uma relação de idealismo em relação à filha mais velha e de “esquecimento” em relação ao agora filho menor, Rubens. A mãe segue os passos comportamentais do pai em relação aos filhos.

No decorrer das consultas, torna-se evidente o quanto esse pai tinha de sentimento de impotência e de ódio não vivenciado por essa mãe e o quanto que ele idealizava a mulher perfeita em sua filha.
Rubens lembra que certa feita quando adoecido, foi privado de se tratar por um médico especifico em benefício das necessidades sempre mais importantes da irmã.

Ao que toda esta trama indica, Augusto via e projetava a si mesmo no seu filho Rubens, ou seja, alguém não visto pela mãe autoritária e que queria a todo custo ser visto. Augusto queria o amor da mãe e passou uma vida inteira com a sensação que devia favores para a mesma. Por conseqüência, apenas olhou para esse filho quando este se sobressaiu um pouco pela opção da escolha profissional que fez. Na época em que Rubens estava se formando em ciências contábeis, o pai quase que assume o lugar profissional do filho invadindo, inadequadamente, os seus espaços de estudo e de início de trabalho “avisando” a todos de que Rubens era seu filho.

Rubens conta toda a sua história familiar com grande dificuldade de entrar em contato com seus reais sentimentos. Como mecanismo de defesa, apresenta-se dissociado de sentimentos de raiva, magoa desamparo e etc.

Rubens vem de uma família técnica em saber lidar com a realidade, mas com profundas fendas emocionais que são mascaradas pela “exatidão” da conduta austera e linear.

Vamos aos exemplos e desenvolvimentos desta trama familiar...:

- A irmã casa-se com um rapaz promissor e que mais na frente revela-se numa importante alteração emocional. Este rapaz possui um irmão mais velho que recebeu todos os louros e atenção dos pais. O irmão foi e é o filho idealizado e ele sempre foi visto sem grandes pretensões. Este rapaz, ao contrário do irmão venerado pela mãe é rejeitado pela mesma e acaba tendo uma ligação muito forte com a mãe. O lugar para existir desse rapaz é o de não existir e como conseqüência fica grudado nessa mãe o tempo todo na busca de um olhar mais significativo.

Do mesmo modo que o pai de Rubens, este rapaz possui um ódio não vivenciado pela mãe e que, na relação a dois, é altamente projetado na parceira, a irmã de Rubens, isso a ponto dela correr risco de vida. Assustada com os homens, ela resolve se separar ficando “protegida” ao lado do pai, no reinado da filha idealizada. Esta moça fez algumas tentativas infrutíferas com outros homens ao longo de sua vida, sempre porem com a bandeira da idealização do pai, mas ocorre que ninguém suporta uma mulher tão ”especial” e ela acaba ficando no lugar seguro, que é ao lado desse pai.

Para este pai, a esposa vive ao seu lado como uma sombra sem maiores significados. Projeta nela pelo desprezo, todo ódio que tem pelas mulheres, ou seja, pela própria mãe.

No tempo previsto como correto, Rubens ruma para encontrar uma parceira e mesmo que não tenha consciência plena deste fato, esta deverá ser nos moldes dos desejos e dos desígnios dessa trama familiar.

Rubens conta que, logo de princípio, sente-se apaixonar por Clarissa. Diz que foi como se já a conhecesse. Logo que se casam, porém, entende que ela era exigente como sua mãe... E diz que nunca estava satisfeita com nada, além de estar totalmente despreparada para ser uma boa esposa ou boa dona de casa.

A história de Clarissa: Clarissa vem de um lar emocional e afetivamente ativo. Dissabores e amores são constantemente revelados na trama relacional. Ao contrário de Rubens, antes do casamento Clarissa tem uma vida de construção de patrimônio por intermédio de seu pai e da dedicação da mãe. Clarissa tem mais dois irmãos e é a caçula entre eles.Quando encontra Rubens, numa festa de ginásio, acredita que encontrou o amor de sua vida. Um rapaz falante, cheio de idéias e de verdades que, enfim, faziam sentido. Namoram por cerca de 3 anos e, durante o período de namoro, Clarissa conta que começa a perceber atitudes em Rubens que a faziam questionar se seria realmente feliz com ele. Rubens dizia que nunca admitia um erro porque na “verdade” (dele) nunca errava.

Ambos se casaram e com o tempo a história pessoal dos dois foi se revelando na relação. Rubens, sem opção, foi gradativamente demonstrando a sua identificação com o pai. Ao seu modo, pouco a pouco foi tirando o espaço vital de sua esposa... Era melhor mãe do que ela, cozinhava melhor e etc. Além de tudo isso, agia como o pai... Não a ouvia. Desenvolveu uma relação perversa onde externamente vivia para o mundo e para o pai uma relação de aparências afetivas e, na intimidade da vida do casal, sequer conversava com ela. Desde o início, demonstrou pouco interesse por temas que gerassem qualquer tipo de intimidade afetiva no casal.

Clarissa acredita que pelo fato de não ter muita consciência sobre o que estaria ocorrendo de fato, sentia-se triste e solitária. Revela que não tinha como entender claramente a situação da trama na qual estaria envolvida. Anos a fio, iludiu-se achando que tudo mudaria para melhor nas raras vezes em que Rubens oferecia um olhar mais direto ou mesmo uma nesga de afeto.

Com o passar do tempo e por não agüentar mais a sensação de solidão e de incongruência entre o que acontecia dentro de sua suposta intimidade com o marido versus com o mundo exterior, Clarissa decide encarar um processo terapêutico. Por fim, entende que as pessoas não mudam assim fácil quando não existe um trabalho interior sério.

Rubens, tomado pelos seus assuntos inconscientes foi gradativamente acirrando suas questões emocionais mal resolvidas. Clarissa chega num ponto de insuportabilidade extrema e decide o famoso "ou vai ou racha!" Exige que ambos façam uma terapia de casal para que possam dar alguma chance de serem efetivamente felizes. Rubens, a princípio, não entende o motivo da queixa...
Ambos vão para a terapia. Subitamente, na terapia de casal, Clarissa cai em si mesma e entende toda a trama relacional que vive, os quês e os porquês. A partir daí, Clarissa definitivamente busca por um ponto final naquele ciclo vicioso. Decide que não será como a sogra foi e que sua historia de vida, a partir deste momento, será outra, ou seja, a sua própria...

Inconformado por seu personagem ter sido denunciado, Rubens usa de todas as manipulações possíveis para manter o status anterior. Não sabe ser diferente do que lhe foi “ensinado”. Destila ódio e tenta impor medo, caso sua parceira ousasse sair do vício emocional no qual ambos estavam envolvidos. Tudo em vão. Clarissa já havia acordado e decidira simplesmente ser. Ser indivídua Indivisível e única.

Sua decisão de mudança abalou toda a sua estrutura interna e a de todos os membros da família.- Uma denúncia e uma mudança sem volta.

E, você, companheiro de jornada terrena, tem coragem de revelar a si mesmo a trama emocional na qual está envolvido, ousando promover sérias mudanças existenciais em sua vida? Tem coragem para se desembaraçar e se libertar de algum tipo de vício emocional adoecido onde se vê atado?

Se a sua resposta é SIM, não vacile, sua vida é única e você merece sair da anestesia, ousando apostar em você mesmo. Ousando se diferenciar para efetivamente nascer e ser um. Sentir-se vivo. Com a vida validada não tem preço.

Pense nisso e se for seu caso aja de imediato buscando encontrar a si mesmo. Você deve isso a você mesmo se estiver em alguma situação emocional claustrofóbica. Lembre-se de que sua existência é sagrada. Tenha coragem e se necessário (na maioria das vezes é) busque auxilio terapêutico.



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silvia
Silvia Malamud é colaboradora do Site desde 2000. Psicóloga Clínica, Terapias Breves, Terapeuta Certificada em EMDR pelo EMDR Institute/EUA e Terapeuta em Brainspotting - David Grand PhD/EUA.
Terapia de Abordagem direta a memórias do inconsciente.
Tel. (11) 99938.3142 - deixar recado.
Autora dos Livros: Sequestradores de almas - Guia de Sobrevivência e Projeto Secreto Universos

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