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Resgate da consciência lúcida

por Silvia Malamud em Psicologia
Atualizado em 08/04/2020 11:35:05


Sua mente tem a capacidade de revelar eventos armazenados em sua memória profunda e que sequer passaram pela sua consciência imediata. Seria como se seu cérebro tivesse, e de verdade tem, a capacidade de guardar uma lembrança de algo que você vivenciou, mas não presenciou conscientemente. Veja o exemplo deste relato:

Certa vez, uma amiga sugeriu que eu trabalhasse uma pequena e recente cirurgia que havia me submetido. Pensamos corretamente que por menos problemas que a cirurgia possa ter tido, de modo geral, só pelo fato de se passar por uma cirurgia, por menor que seja, já é viável se questionar se algo pode ter ficado pendente, meio que "flutuando" pelo inconsciente, como algum trauma congelado.

Quando começou a sessão de EMDR, fui questionada sobre o momento de maior impacto representado pela cirurgia. Como resposta imediata, espontaneamente, surge em minha mente a cena da minha ida para a sala de cirurgia. Confesso que até aquele momento da sessão, estava ativada nesta pesquisa, mas totalmente despretensiosa posto que não relacionava absolutamente nada em minha vida que me perturbasse associado à cirurgia. Tanto a própria cirurgia, como o pós-operatório haviam transcorrido de modo tranquilo e sem nenhuma intercorrência.

O protocolo em EMDR* foi enfim realizado e várias cenas sobre o percurso que fiz até a sala cirúrgica começaram a surgir sob diversos ângulos diferentes, fato que achei interessante, pois nunca havia passado por experiência desse tipo em EMDR*. (É magnífico como o nosso cérebro criativo tem inteligência particular e própria para reprocessar nossas questões). Na sequência das cenas e já com um pequeno desconforto emocional, revivi o instante em que me deram anestesia e num flash de momento pulei para uma situação onde revivi uma cena surpreendente e que até aquele momento nem lembrava que havia existido. Me vi acordando no meio do procedimento cirúrgico. Revivi a cena como se estivesse acontecendo naquele momento, embora soubesse que não. Abri os olhos e o que me lembro é de ter ficado quase cega com as luzes do campo cirúrgico. Encontrava-me totalmente acordada e ciente de que a cirurgia ainda não havia terminado. Não senti dor alguma, apenas acordei e dei de cara com o incomodo do flash das luzes indo diretamente na direção dos meus olhos. Lembro de ter passado alguns segundos durante a cirurgia olhando aquelas luzes e incomodada com a claridade até ficar enjoada e ainda meio atordoada falar que estava acordada. Os médicos e auxiliares ao meu redor certamente me ouviram e sem se dirigirem uma palavra a mim, apenas comentaram um com o outro para que eu fosse novamente sedada. Depois da cirurgia, não houve comentário algum sobre o breve incidente e eu também não lembrei de nada e segui em frente.

Até esse ponto do reprocessamento e com a revelação do evento e sem agora desconforto algum, pensei: "ok, terminou a sessão, interessante!" Na checagem geral do protocolo, porém, ainda havia um resíduo de perturbação. E lá fomos nós com isso! Repentinamente, comecei a ter sintomas de enxaqueca, sensação não muito frequente em mim, mas que ocasionalmente ocorria. Continuei o processo e foram surgindo cenas e mais cenas onde as minhas dores de cabeça ameaçavam disparar. Nunca havia relacionado, mas o fato é que depois do evento cirúrgico, toda vez em que ia à algum restaurante em que havia uma luz de teto focando diretamente à minha cabeça, eu pedia para mudar de lugar. O motivo? Indícios de dor de cabeça e sutil ânsia de vômito. Bingo! Era o lastro do desconforto de ter acordado durante a cirurgia e tudo o que isso significou emocionalmente em minha estória de vida. Luz acima da cabeça, mais claridade focada em mim eram diretamente associadas ao evento da visão perturbadora da luz da sala cirurgia, no momento em que acordei antes do término da mesma.

A partir deste ponto, o reprocessamento se deu por completo indo para lugares do meu psiquismo inimaginavelmente libertadores. Resultado? Isso ocorreu há cerca de dois anos e nunca mais tive nenhum indicio de dor de cabeça. Além disso, quando me pediram para que escrevesse este relato, apesar de todas temos conversado bastante na ocasião sobre a surpresa revelada, já nem me lembrava da enorme perturbação que era para mim ficar olhando em restaurantes, por exemplo, onde que eu poderia sentar para evitar luz forte focada.

Resumindo: a mente humana é a faculdade sensorial da inteligência. Uma das suas funções é a de captar informações advindas pelos sentidos e armazenadas nos neurônios cerebrais. Nossa mente também tem condições de captar e armazenar como memória qualquer tipo de emoção, bem como o que a mesma cognitivamente representou no momento da percepção. Através de um bom procedimento de reprocessamento cerebral, absolutamente todos nós temos total condição de entrarmos em sintonia profunda e levar à consciência qualquer informação que se encontra ali armazenada.



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silvia
Silvia Malamud é colaboradora do Site desde 2000. Psicóloga Clínica, Terapias Breves, Terapeuta Certificada em EMDR pelo EMDR Institute/EUA e Terapeuta em Brainspotting - David Grand PhD/EUA.
Terapia de Abordagem direta a memórias do inconsciente.
Tel. (11) 99938.3142 - deixar recado.
Autora dos Livros: Sequestradores de almas - Guia de Sobrevivência e Projeto Secreto Universos

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