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Tolerância Zero

por Maria Aparecida Diniz Bressani em Psicologia
Atualizado em 09/06/2003 13:30:38


O que é tolerância zero? O que gera a tolerância zero? Tolerância zero ou intolerância? Como você percebe que está presente na sua vida? O que fazer para dissipa-la?
Para responder a essas perguntas, primeiro precisamos focar no seu causador e vítima: o ser humano.

Se observarmos o ser humano, veremos um universo em funcionamento – um microcosmo. Cada órgão de seu corpo funciona de forma autônoma, mas interdependente dos demais. Se, por qualquer motivo, um órgão sofre algum mal, afetará também os outros órgãos, comprometendo o funcionamento do todo. Mesmo que agentes imunológicos tentem resolver o problema, se não forem fortes o suficiente, pouco a pouco todo o sistema orgânico do indivíduo sucumbirá.

Podemos perceber o mesmo processo dentro do universo no qual o homem está inserido - a sociedade humana - numa escala de tempo e conseqüências proporcionais, com suas atitudes sendo agentes ativos da qualidade da própria vida e das dos outros, e, conseqüentemente, de suas relações.
Uma pessoa do tipo “tolerância zero” gera em seu meio certo mal estar e por esta razão, as pessoas à sua volta também se sentirão mais indispostas a atendê-la e se relacionar amistosamente com ela, e, como que contaminados por um vírus – pouco a pouco – todos se colocarão indispostos uns com os outros, estabelecendo a “dinâmica” específica nas suas relações do tipo “tolerância zero”.

Essas pessoas sairão de seus ambientes familiares, irão para outros ambientes levando consigo essa indisposição. Teremos, assim, uma rede de relacionamentos intolerantes que apenas tende a crescer e onde a intolerância tudo contamina e acaba se instalando.

A intolerância é a dificuldade de uma pessoa aceitar o outro como este é, simplesmente porque pensa ou sente diferente de si próprio.
Como psicóloga e psicoterapeuta, acredito que tudo começa de dentro para fora, de dentro do indivíduo para seu ambiente e suas relações. A intolerância se desenvolve dentro da pessoa intolerante, porque, na realidade, existe uma grande dificuldade de auto-aceitação, oriunda de uma baixa auto-estima.

Mesmo quando a pessoa intolerante é o outro e você sofra a intolerância deste outro, você o atraiu. Por que? É bem provável que você tenha o “imã” da falta de aceitação para ser “alvo” da intolerância alheia.
A dificuldade de auto-aceitar-se - auto-acolher-se - como diferente e único gera dificuldade de também aceitar o outro em sua diferença. Isso acontece como mecanismo reativo de defesa, ou seja, a pessoa defende-se da própria dificuldade através da intolerância ao outro, mas, de verdade, a maior dificuldade está em tolerar-se, em aceitar-se.

Quando não se aceita qualquer diferença, seja uma limitação ou uma opinião diferente, a pessoa se coloca como “eu estou certo, você está errado”, pois, na verdade, tem medo de estar errado (normalmente isto é um processo inconsciente). Teremos aqui um clima de guerra.

Guardando as devidas proporções, encontramos este clima de guerra, às vezes, até mesmo numa simples discussão (que não é nada simples!), pois a intolerância leva a relações constantes de conflitos e, afinal, o outro é sempre o oponente.
Na intolerância não há cooperação.
Na intolerância não há amizade.
Na intolerância não há paz nem amor presentes.
Na intolerância há uma constante irritabilidade e indisposição de ouvir e aceitar o outro.

Nem sempre é explícito o comportamento do tipo “tolerância zero”.
Às vezes, percebemos em pequenos gestos e olhares a indisposição e a irritabilidade. Às vezes, a pessoa intolerante inverte, jogando para o outro a sua indisposição e incapacidade à cooperação chamando-o de egoísta ou folgado, por exemplo, numa tentativa de impedir que o outro o requisite ou se recuse a cooperar consigo.

A forma de se dissipar a intolerância do planeta Terra, a meu ver, começa pelo individual. Cada um fazendo a sua parte. Primeiramente, gerando auto-amor e auto-aceitação reais. Em seguida, conscientizando-se que o outro é o outro - outra pessoa - diferente e separado de si, mas ser humano como você, que merece seu amor e aceitação por ser o ser humano que é.

Sempre friso que aceitar não significa concordar! E tem mais: discordar não significa ser intolerante.
A partir dessas premissas podemos concluir que todos nós – seres vivos – temos direito a um lugar no universo e que há lugar para todos. Portanto, você pode começar – hoje, agora – a praticar a tolerância, começando consigo mesmo, através do auto-amor e da auto-aceitação.

Como?
Eu digo que se deve começar pelas situações e coisas mais banais, mais simples, da própria vida. Comece parando de se pressionar com os diversos “deveria” e com todos os “tem que” auto-impostos; e, em seguida, tire todos os “deveria” e os “tem que” das suas relações. Vá tirando aos poucos todas as condições – porque no Amor (e no Auto-amor) não há condições; o Amor é criativo, construtivo: ou se ama ou não se ama.

Por não ser possível mensurar o Amor, não importa a quantidade, o que vale é a qualidade. Eis a força para dissipar todo o mal provocado pela intolerância: o Amor (por si e pelo outro).


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maria
Maria Aparecida Diniz Bressani é psicóloga e psicoterapeuta Junguiana,
especializada em atendimento individual de jovens e adultos,
em seu consultório em São Paulo.


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