ABRINDO OS COFRES
Quando guardamos coisas valiosas em sacos, cofres e baús atados com cordas ou seguros por fechaduras e aloquetes, estamos a armazenar e a poupar para os ladrões mais fortes.
Porque um ladrão forte pega neles às costas e foge com eles.
E o seu único receio é que as cordas e fechaduras não sejam suficientemente fortes!
Quando um reino está bem organizado com base em leis e em regras bem estabelecidas,
basta derrubar o rei para se poder tomar conta do seu reino.
E rouba-se o reino com as suas riquezas e as suas gentes bem embaladas nas leis e nas regras que as tornam submissas.
E são estas que permitem preservar tranquilamente o seu domínio.
Quem rouba um colar, acaba preso como criminoso.
Mas quem rouba um reino, é feito duque.
E o ensino da caridade e do dever manter-se-á no domínio do duque.
As leis e as regras e os princípios morais permitem aos homens bons manterem a sua influência.
Mas também aos ladrões atingirem os seus fins.
E, como os homens bons são escassos, o bem que elas trazem ao mundo é pequeno.
Duplicar o número de leis é o mesmo que duplicar os lucros dos bandidos.
Se não se der tanto valor ao jade e às pérolas, os pequenos ladrões cessarão de existir.
Se não se usarem contratos de garantia, a integridade primitiva voltará a ter valor.
O desejo que surgiu nos homens de alterarem a sua natureza gerou o caos no mundo.
Os homens esforçam-se por entender aquilo que não conhecem e ninguém se esforça por entender aquilo que já conhece.
Os simples e os sem malícia acabam por ser postos de lado e os enganadores e astuciosos admirados.
A espontaneidade tranquila dá lugar à astúcia, aos sofismas, ao engano e ao desrespeito
e o mundo fica embrulhado na lógica.
É assim que surge o caos e o mundo se desvia do seu verdadeiro caminho.
Chuang Tse- IX
Recebido de Claudette Grazziotin
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