ADEUS À CULPA
LIÇÃO 13 - Parte 2
RETIRANDO A PRISÃO DE NOSSA MENTE
Gostaria de partilhar com vocês a estória de um homem que entrou na minha vida para demonstrar o milagre do amor que tem origem no perdão.
Desde a publicação do meu livro, Amar é Libertar-se do Medo, acostumei-me a receber muitas cartas de elogios de pessoas que acharam que lhes ajudou a viver. Um dia, porém, recebi uma carta de um homem que chamarei de Dave. Dave me falou que tinha acabado de ler Amar é Libertar-se do Medo e que ele era o pior livro que já lera. Continuou me falando que estava numa solitária, numa prisão de segurança máxima e que se eu tivesse sofrido as brutalidades que ele tinha, dos guardas da prisão, também estaria convencido de há coisas que pessoas fazem que são imperdoáveis. Terminou me dizendo que eu devia ser um psiquiatra louco vivendo nas nuvens.
Eu queria muito responder a Dave de uma forma que não fosse defensiva. Não queria achar que ele estava me atacando, mas sim que era um homem desesperado, que sentia-se sem amor em sua vida e que me implorava amor. Tendo isso em mente, lhe escrevi uma carta e começamos a nos corresponder regularmente.
Mais ou menos seis meses depois, descobri que tinham me marcado uma palestra numa cidade que ficava a duas horas de carro de sua prisão. Telefonei para a direção da mesma e obtive uma permissão especial para estar com Dave às oito horas, numa manhã de sábado. Minha intenção era passar um tempo com ele, dando-lhe o amor que ele tão desesperadamente necessitava, aceitando-o exatamente como era, sem lhe impor condições, ou querer mudá-lo.
Dave entrou na sala de espera e nos olhamos rapidamente. Então ele inspirou profundamente e começou a falar sem parar. Seu monólogo se estendeu por mais ou menos cinquenta e cinco minutos. Em quase toda frase ele estava culpando alguém. Certamente, ele estava demonstrando a crença do ego de que se alguma coisa vai errado em sua vida, alguém é culpado por isso.
Culpou seus pais pelo abuso físico e emocional que sofrera quando criança. Culpou seu pai por ser alcóolatra e ter desertado a família. Culpou sua mãe por andar com homens e por ter lhe colocado em lares adotivos e casas de menores abandonados. Culpou a sociedade pelo fato de ter estado na prisão pela maior parte de sua vida.
Ele me disse que agora estava cumprindo uma sentença por desfalque, mas que era inocente. Ele não cometera esse crime; as autoridades prenderam o homem errado. Disse ainda que, por causa de seu mal comportamento, não seria elegível sair sob custódia a não ser depois de no mínimo oito anos.
À medida que nossa hora ira terminando, eu lhe disse que teria que ir me embora em cinco minutos. E lhe perguntei: "Há alguma coisa mais que você queira me dizer?" Ele respondeu, "Sim". Falou-me que queria que lhe mandasse um televisor, quando voltasse para Califórnia, que fosse colorida, não preto e branco. Suas razões por pedir uma colorida eram porque o aparelho colorido parecia obscuro, mas inequívoco.
Quando estava indo embora, me lembrei de lhe dizer que iria fazer uma palestra naquele dia, mais tarde. Perguntei-lhe se poderia ser uma mensageiro para que ele pudesse enviar uma mensagem para a audiência. Sem piscar, ele respondeu, "Diga à sua audiência que, para ter paz de espírito, a coisa mais importante que se podia fazer era procurar as pessoas de quem tínhamos mágoas guardadas e perdoá-las".
A resposta de Dave foi uma surpresa enorme para mim, pois era oposta a tudo que tinha estado dizendo na última hora! Que exemplo perfeito de como nossas mentes podem estar divididas! E que importante prova de que há uma parte de nossa mente que sempre sabe a verdade, mesmo quando o nosso ego está cheio de medo.
Antes de sair, disse a Dave que em nosso Centro de Cura de Atitudes nós acreditamos que nada é impossível. Muito pelo contrário, que nossos pensamentos criam nossa realidade e que aquilo em que acreditamos vai determinar o que vemos. Sugeri que ele, também, poderia mudar seu sistema de crenças e com isso poderia, muito antes, estar elegível para sair sob custódia, muito antes que o seu sistema de crenças atual acreditasse que fosse possível.
Durante minha palestra, naquele dia, partilhei com a audiência a experiência que tinha tido com Dave. Disse que nos curamos quando nos doamos aos outros. Então me ocorreu dar o endereço da prisão para a audiência, com a sugestão de que qualquer pessoa que quisesse, poderia lhe escrever. Quando retornei à Califórnia, enviei para Dave selos postais no valor de cinquenta dólares, ao invés de um aparelho de TV.
Mais ou menos cinco semanas depois, recebi uma carta de Dave, onde ele me dizia, "Poxa, Jerry, há pessoas fora de prisão com problemas piores que os que tenho na prisão". Continou me dizendo que um grande número de pessoas tinha lhe escrito pedindo-lhe ajuda e disse ainda "Quem sou eu para tentar ajudar alguém, quando, na verdade, estou na solitária e nem mesmo na prisão comum posso estar". Com base no seu passado, Dave estava se julgando um dos mais culpados e imperdoáveis pessoas vivas.
Mas disse, também, que ao escrever para os outros, tentando lhe ajudar, sentiu que estava se percebendo, a seus pais e guardas de forma diferente. Estava começando a pensar que as paredes de cimento não eram a sua prisão, mas que ele estava prisioneiro da culpa e do medo que existiam em sua mente e que ele permitira que o imobilizasse. E continuou dizendo que estava admitindo o valor do perdão, que poderia liberá-lo dessas emoções negativas. Muitos meses depois, recebi uma carta de um ministro que visitava Dave regularmente, dizendo-me que estava espantado com a transformação que observava em Dave.
Mais ou menos um ano depois de minha visita, recebi uma carta de Dave me contando que iria ter que se apresentar diante dos responsáveis pela liberdade condicional que gostaria que lhes enviasse uma carta de recomendação sobre ele. Respondi-lhe que não achava que pudesse escrever uma recomendação baseada em apenas uma visita que fizera a ele, mas que teria prazer em escrever aos responsáveis pela prisão, contando-lhes sobre nossa visita e sobre as cartas que vínhamos trocando.
Dois meses depois recebi um telefonema de Dave. Ele está fora da prisão, agora e morando com uma das mulheres que se correspondiam com ele. Ao tentar ajudar Dave, nunca me ocorreu que acabaria bancando o cupido!
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