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As pessoas

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As pessoas não se envolvem mais com nada nem ninguém. As pessoas são de um egoísmo atroz, só pensam em se dar bem, são individualistas, superficiais, interesseiras. As pessoas se medem pelas aparências, são vaidosas, fúteis, se acham... Não têm escrúpulos nem valores, têm uma ética volátil.

As pessoas se acostumaram com vulgaridade, corrupção, banalizaram o escândalo, não se indignam nem se espantam, são omissas. As pessoas são toscas, não sabem votar, não têm memória, merecem o governo que têm. Estão loucas; exibem-se na internet, expõem-se de forma absurda e acham tudo normal. São tão desinteressantes, tão óbvias, tão previsíveis. Ai!, que preguiça que elas dão...

As pessoas não respeitam as pessoas. Sejam os vizinhos, os colegas de trabalho, os outros motoristas, os pedestres, os idosos, a cidade onde moram. São mal educadas, barulhentas, espaçosas. É incrível, como as pessoas não se conhecem, não se percebem, não se aceitam! São carentes, grudentas, neuróticas...

Falamos coisas assim o tempo todo: as pessoas isso, as pessoas aquilo. E eu, que não sou diferente de ninguém, que vivo me assombrando e criticando as pessoas, de repente me pergunto: quem são elas? Quem são as pessoas, essas entidades, eminências pardas que como vírus nos ameaçam, como insetos nos irritam e como demônios nos assustam? Quem são esses seres sem cara, sem forma, sem nome que nos mostram avessos, fraquezas, desvios que tanto nos repugnam? Quem são esses tipos tão inferiores, vis e repulsivos que nos permitem julgá-los com tanta arrogância, severidade e distanciamento?

Quem são esses indivíduos que não merecem nosso respeito, nossa compaixão, nossa generosidade? Quem são esses que colocamos na berlinda, levamos à forca, pomos de quarentena e desconsideramos como iguais? Quem são esses bárbaros, cidadãos de segunda classe, a quem criticamos de uma tribuna confortável, asséptica, inoculada? Quem são esses espectros, esses arremedos, esses rascunhos que só merecem nosso rigor, zombaria e horror?

Quem somos nós senão as pessoas a quem os outros se referem? As pessoas são os outros, o nosso inferno. E ¨os outros somos nós", como diria um certo senhor francês.
As pessoas são nosso lado B, nosso espelho mágico inclemente, nossos bodes expiatórios, nossas sombras, nossos dedos em riste, nossos algozes, nossos juízes, nossos demônios. Difícil suportá-las.

Nós, os outros... Pertencemos todos à terrível categoria Das Pessoas; somos farinha do mesmo saco, baba do mesmo quiabo, restos do mesmo baile, faces da mesma moeda, co-réus das mesmas sentenças. Assistimos todos ao mesmo espetáculo, somos coadjuvantes do mesmo drama, rolamos ladeira acima a mesma pedra, queimamo-nos, para o bem e para o mal, com o mesmo fogo, sentimos medos idênticos de forma diferente, esperamos milagres distintos com a mesma fé, tememos a vida e a morte em uníssono. Estranhos com as mesmas entranhas. Mesma espécie. Mesma essência. Mesmo barro. Mesmo pó. Criaturas. Irmãos. Semelhantes.

Somos nós. Somos os outros.

Nós, as pessoas.

https://mdemulher.abril.com.br/bem-estar/colunistas/hilda-lucas/pessoas-449929.shtml

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