DISCERNIMENTO
É muito comum,"nesses tempos cabeludos", como dizia o poeta Maior, Mário Quintana, pessoas, pelos mais variados motivos,dos aparentemente banais até os mais trágicos, se perderem de si mesmas, seja por uma decepção, uma perda, uma derrota e se desconectarem com o senso de realidade e equilíbrio.
Fragilizadas, sua capacidade de discernimento se embota e, sabotada , deliram no cumprimento de ritos, adorações, diante de símbolos que se deturparam , intencionalmente, pela sagacidade dos manipuladores de plantão, tornando-se presas fáceis nestas mãos hábeis, que tiram proveito de ignorância momentânea e exercem forte poder atrativo e claramente, dominador.
Muitas vezes, também, mentes carentes vêem deuses onde eles não existem e passam a reverenciá-los, pelo resto de suas vidas, porque anseiam por um significado que lhes permita novamente crer em algo, em si mesmas e mesmo que, deturpadamente, as reconecte com a vida. É por isso que um simples problema de um monge com um gato pode se transformar numa reverência passiva e equivocada que desafia o discernimento sem contestação, por séculos.
Claudette Grazziotin
DA DETURPAÇÃO
Cuidado, porque os símbolos podem transformar-se em armadilhas.
O livro "Cântico para Leibowitz" passa-se num futuro distante, mil anos depois da atual civilização ter sido destruída. Seus habitantes usam antigos fios de computador enrolados no pescoço - porque - diz a tradição - tais fios continham sabedoria.
Jorge Luiz Borges também fala da transformação dos símbolos: a cruz, um instrumento de tortura, virou um instrumento de fé. A flecha assassina agora apenas indica uma direção.
Uma lenda Zen conta a história de um mestre que sempre mandava amarrar o seu gato, que perturbava a meditação dos discípulos. O tempo passou, o mestre morreu. O gato também morreu, e trouxeram outro. Cem anos depois, alguém escreveu um tratado respeitadíssimo, sobre a importância de se ter um gato amarrado durante a meditação.
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