Nietzsche comentado pela teologia cristã

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"Quem vê demais, acaba não cabendo em lugar nenhum." - Nietzsche
O erro fundamental desta afirmação está na pressuposição de que a verdade isola. Na cosmovisão cristã, quem vê verdadeiramente não perde seu lugar, mas encontra seu verdadeiro lar. Aquele que contempla a verdade não se aliena, mas se integra no mais alto grau: no próprio Ser, que é Deus. Como ensina Santo Agostinho: "Fizeste-nos para Ti, Senhor, e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti." Ver demais, na verdade, é ver Deus - e isso não exclui, mas plenifica.


"Essa frase não é apenas uma observação - é um sussurro do abismo."
O abismo não é o lugar da verdade, mas da sua ausência. Este "sussurro" é, na verdade, o eco da modernidade que, ao rejeitar Deus, contempla apenas o vazio. O verdadeiro sussurro que deveria ser ouvido é o do Espírito Santo, que conduz à verdade plena (João 16,13). A visão cristã não flerta com o abismo; ela o transcende, contemplando o Infinito.


"Há um ponto sem retorno... acordamos para verdades que não podem mais ser desvistas."
De fato, há esse ponto - mas ele não conduz à desesperança, e sim à conversão. O despertar cristão não é um mergulho no niilismo, mas uma ascensão ao sentido último da existência. Quem vê a realidade sob a luz da graça percebe que o mundo, o homem e a história têm uma origem, um sentido e um fim em Deus. A verdade não condena à solidão, ela salva do absurdo.


"Nietzsche... sabia que o conhecimento ilumina, mas também queima."
Aqui está o drama do homem moderno: querer conhecer sem amar, querer compreender sem se render. O conhecimento que queima é aquele separado da caridade e da humildade. Na teologia cristã, conhecer não é possuir, nem dominar, mas participar. A luz que emana de Deus não queima para destruir, mas para purificar e elevar. Como disse São João da Cruz: "A chama viva de amor que abrasa, não mata, mas dá vida."


"Ver demais é perder o privilégio da ignorância..."
O cristianismo não chama ignorância de privilégio. A verdade é dom e missão. Jesus afirma: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará" (João 8,32). A ignorância é trevas; a verdade é luz. E aquele que anda na luz não se sente superior, nem deslocado, mas enviado: "Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho" (Marcos 16,15). O olhar que vê sob a ótica da eternidade não é fardo, é graça.


"Aquele que vê muito carrega uma solidão profunda..."
Não no cristianismo. A verdadeira visão não conduz à solidão, mas à comunhão. A Santíssima Trindade é, em si, comunhão eterna de amor. O cristão, ao ver profundamente, não se isola - ele se une. Une-se a Deus, une-se à Igreja, une-se à humanidade. A solidão que o mundo oferece é fruto da rejeição de Deus. A comunhão dos santos é a resposta cristã à falsa solidão do niilismo.


"Os laços antigos afrouxam..."
Sim, os laços do pecado, da mentira, da ilusão, esses afrouxam. Mas dão lugar aos laços da verdade, da graça e da caridade. O que antes parecia segurança, de fato sufocava. O Evangelho rompe as correntes do mundo para abrir as portas da vida verdadeira. Como diz São Paulo: "Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura" (2 Coríntios 5,17).


"É o preço da lucidez."
Lucidez sem Deus é desespero. Lucidez em Deus é bem-aventurança. O preço da verdadeira lucidez não é o exílio, mas o seguimento. E Jesus já advertiu: "Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga" (Mateus 16,24). A cruz não é peso para a alma; é ponte para o Céu.


"Essa solidão... pode se tornar um templo interno."
Aqui há um simulacro da verdade. O cristianismo ensina que "somos templos do Espírito Santo" (1 Coríntios 6,19), mas esse templo não é erguido sobre a solidão autossuficiente, e sim sobre a habitação de Deus. Não se trata de construir um refúgio no isolamento, mas de abrir o coração para o Transcendente que faz morada em nós.


"Ver demais é um fardo, sim. Mas também é liberdade..."
A liberdade cristã não está em ver demasiadamente as dores do mundo, mas em contemplar o sentido último de todas as coisas em Deus. É a liberdade de quem não é mais escravo do pecado, da morte e do absurdo. "Para a liberdade foi que Cristo nos libertou" (Gálatas 5,1). A verdadeira liberdade não é suportar o peso do mundo sozinho, mas carregar o jugo suave de Cristo (Mateus 11,30).


"Se você se sente deslocado, talvez seja porque você enxerga o que os outros ainda não suportam ver..."
De fato, o cristão é um peregrino. Está no mundo, mas não é do mundo (João 17,14-16). Não é deslocado por ver demais, mas porque sua pátria não é aqui: "Nossa cidadania está nos céus" (Filipenses 3,20). O desconforto do cristão não é sinal de maldição, mas de eleição: é o chamado à santidade, que incomoda os que preferem as sombras.

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