Nuvens que Passam
A manhã chegava devagar e silenciosa, trazendo sopros de luz e suavidade.
Pela janela, os raios de sol entravam lentamente, iluminando seu cantinho, seu semblante tenso e angustiado.
Parecia cansado, sem vontade de ir em busca de um novo começo.
Abria os olhos devagar, para fechá-los em seguida.
Tantas coisas nos acontecem!
Onde está nosso bom Criador nestes momentos de tanta dor?
Não estava interessado em passar pela dor, para aprender o seu real significado...
Levantou-se balançando a cabeça e seguiu para fora do seu pequeno quarto.
Uma brisa atingiu-lhe o rosto com ternura naquela manhã.
Balam continuava inquieto, andando de um lado para o outro no jardim do modesto mosteiro.
Percebendo que estava sendo observado pela sua Mestra, procurou aquietar-se e passou a meditar.
Ao abrir os olhos, após um breve período de tempo, notou que sua Mestra não estava mais a observá-lo, e voltou ao seu estado de inquietude.
Queria descobrir o porquê de tantos sentimentos confusos em sua mente.
Na realidade, só queria sentir a quietude do Grande Espírito em seu coração.
Foi quando sentiu uma pancada em sua cabeça.
E quando se voltou com ferocidade aquele que o batera, percebeu que era sua Mestra.
- Mambo, por que me bateu?
E a Mestra apontou para o céu:
- Vê quantas nuvens passam por este céu? Dia após dia? Elas passam, e o sol permanece a brilhar sobre nós. Perceba seus pensamentos como nuvens, que por poucos momentos podem encobrir a sua luz, mas não podem dissipá-la, porque ela é real, ela lhe pertence. Seus pensamentos não lhe pertencem, deixe que eles possam ir como estas nuvens que passam para que a sua luz volte a brilhar e fortalecer sua paz de espírito.
Abaixando suas mãos, levantou seus olhos e salientou:
- Uma opção, uma escolha e tudo à tua volta se transforma. Tudo em ti depende apenas disso. Estás em tuas próprias mãos e és responsável pelas tuas escolhas. Trata de escolher bem, ouve teu coração.
Thálya Iktomi - Xamanista e Sacerdotisa Wanga da Tradição Radá-canzo
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