O exílio dos que veem demais




Quem vê demais, não cabe.
Não cabe na sala, na rua, no corpo.
Não cabe na fala ensaiada, nem no riso coletivo,
Não cabe na moldura que os outros chamam de vida.
Porque ver demais é não conseguir mais fingir que não se viu.
É carregar olhos que queimam, mesmo quando fechados.
Ver demais é abrir o peito até que a carne se torne transparência, e o coração bata no compasso de verdades indizíveis.
Os vínculos antigos afrouxam, os mapas se rasgam, as rotas seguras se desfazem em névoa.
O chão conhecido já não sustenta, e o teto do mundo... desaba.
Então resta o exílio, não aquele imposto por muros, mas o que emerge quando a alma cresce mais do que o espaço ao redor.
E nesse exílio, o frio da solidão, mas também o fogo da lucidez.
Pois quem vê demais, embora só, carrega a centelha da liberdade.
A liberdade de ser margem, de ser penumbra, de ser templo silencioso onde outros, um dia, também chegarão.
Não se trata de superioridade.
É apenas o destino dos que ousaram abrir os olhos, mesmo sabendo que jamais poderiam fechá-los de novo.
Portanto, se você sente que não cabe, se o mundo lhe parece estreito demais, saiba:
não é falha. É sinal!
Sinal de que você já não pertence à caverna das sombras, mas à vastidão do que é real, mesmo quando dói.
Siga.
Sustente.
E brilhe,
Brilhe mesmo que sozinho, mesmo que à margem, mesmo que só reste a noite.
Porque é na noite que os olhos que veem demais aprendem, enfim, a ser luz.



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