PESCADOR DE SONHOS
Era uma vez, um pescador que morava no litoral paranaense. Seu nome, Ubirajara Tarô um jovem que vivia numa deliciosa preguiça vendo a vida passar, sem se preocupar em ter sucesso financeiro. Andava meio desgostoso da profissão é verdade, porque os turistas tinham espantado todos os peixes daquela localidade.
Um dia, caminhando tranqüilamente pela praia, viu três pestinhas judiando de uma tartaruga. Tarô deu uma bronca na molecada e mandou que deixassem a tartaruga em paz.
Mas, as crianças não concordaram porque estavam adorando aquela brincadeira. Ver a tartaruga esperneando desesperada, com o casco da barriga virada para o céu, era melhor que ficar em casa assistindo o programa da Xuxa pela tevê, ou desenho dos Tartarugas Ninjas.
Como a lenda tem tema aquático, Tarô pensou em dar uns cascudos nos meninos, mas notando que por perto haviam dois grandalhões, verdadeiros bois marinhos, que bem podia ser os pais dos garotos, pensou em outra saída, não tão honrosa, mas usual até em Brasília, para salvar tartarugas.
- Eu compro essa tartaruga, - disse Tarô, num gesto humanitário.
- Tá vendido. Passa a grana!
Foi uma negociação tão rápida, que Tarô sequer teve tempo para pechinchar. Então acariciando a tartaruguinha, soltou-a no mar, desejando-lhe mais sorte da próxima vez, até porque, sua grana andava curta e não daria para comprar novamente a liberdade do animalzinho.
A tartaruguinha que normalmente é vagarosa, saiu correndo feito carro de fórmula 1 e mergulhou apressadamente no mar. Enquanto via sua protegida desaparecer no meio das ondas, Taro pensou em ter notado um tchauzinho de agradecimento por parte da tartaruga.
No dia seguinte quando Ubirajara Tarô pescava solitário numa praia deserta, de repente, ouviu uma voz chamando-o. Então pegou o celular e respondeu:
- Alô! alô! Mas o telefone dava apenas sinal de linha.
- Gozado... pensei ter ouvido uma voz... Acho que estou ficando pirado. Preciso parar de assistir novelas na televisão. - Assim pensando, continuou pescando.
Nisso ouviu novamente, aquela a voz que chamava por ele:
- Tarô-san, Tarô-san, sou eu. Estou aqui na água.
O Ubirajara ficou perplexo ao ouvir aquele modo de chamá-lo. “Tarô-san”, era o modo como sua avó japonesa o chamava quando criança. Havia mais de 20 anos que ninguém se dirigia a ele daquele modo. Isso encheu o seu lado japones de seu sangue de emoção. O pescador ficou contente e disse em direção da voz:
- Obaatian onde está a senhora?
- Obaatian é sua vovozinha, - respondeu a voz.
Taro ficou mais perplexo ainda, ao perceber que estava conversando com uma tartaruga.
- Espera aí, tem coisa errada nessa história, tartaruga não fala! - Disse o pescador assustado.
- Como não, isso aqui é uma lenda, e nas lendas não existem preconceitos verbais contra os animais - disse a tartaruga, que perguntou logo em seguida:
- Está lembrado de mim?
- Devo?
- Sim sou aquela tartaruga que você salvou nesta praia dias atrás.
- Mas como cresceu tão de repente, de um dia para outro? Você está enorme!
- Não confunda, eu não cresci nada. Sou a voz que você está ouvindo, o que você está vendo é uma tarataruga-robô made in Japan. Minha voz está sendo transmitida através dela daqui do Palácio de Dragão. Aliás, contei para a Deusa do Mar como você salvou a minha vida, e ela pediu para convidá-lo à visitar seu palácio, pois quer lhe agradecer pessoalmente.
Aquilo despertou grande curiosidade ao pescador, porque sua avó japonesa, contava uma lenda nipônica a respeito desse palácio.
- Então o Palácio do Dragão realmente existe?, -perguntou Tarô entusiasmado.
- Existe sim, mas você é o primeiro brasileiro convidado a vir aqui, os outros preferem o paraíso fiscal. Suba nas costas do robô-tartaruga que ele vai trazê-lo para cá.
Assim que Ubirajara Tarô montou no casco da tartaruga atômica, iniciou uma suave viagem ao alto mar. Depois, a voz pediu para ele abrir um pequeno compartimento nas costas do robô e tomar a pílula de respirar dentro dágua. Assim, a tartaruga atômica mergulhou ao fundo do mar. Foi uma viagem inusitada e maravilhosa. Um caminho sem leito, mas cheio de peixinhos coloridos e estrelas do mar. Pouco depois, Ubirajara chegava a uma enorme e iluminada redoma de vidro que abrigava uma cidade futurista, tendo ao centro um lindo palácio.
Na entrada do palácio o pescador foi recebido por uma linda deusa.
- Você é a Iemanjá? - Perguntou Tarô.
- Não. Meu nome é Toyotama Hime, bem vindo a Ryugyu (Castelo do Dragão) - respondeu a bela divindade de traços orientais.
Tarô sentiu-se no paraíso. Tudo ali era lindo e maravilhoso e muito mais moderno do que os cenários da lenda que sua avó contava. A deusa agradecida por ter salvo a vida de um dos seus súditos submarinos, disse que ele poderia ficar como hóspede quanto tempo quisesse.
No palácio havia festa a toda hora e Tarô encantado com tudo aquilo foi ficando. Em companhia da princesa conheceu toda beleza do fundo do mar, em longos passeios a dois, nadando entre corais, plantas e peixes das mais exóticas cores. Assim, Tarô esqueceu-se completamente de sua casa e do local onde nasceu e cresceu.
Passado algum tempo, Taro começou a ficar enjoado daquela vida de festas e mais festas. Sentiu que apesar de maravilhoso, não tinha muito sentido como modo de vida. Em sua praia, apesar de pobre, podia pelo menos praticar uma boa ação, como salvar uma tartaruguinha e outros bichinhos.
Despediu-se da deusa, alegando que apesar das praias paranaenses não serem aquelas coisas, estava com saudade delas. Ao agradeceu a hospedagem maravilhosa, recebeu da Deusa do Mar, várias moedas de ouro e uma caixinha chamada Tamatebako, com a seguinte recomendação:
- Ubirajara Tarô, como você quer viver entre os humanos, leve estas moedas de ouro, que vai lhe garantir uma vida tranqüila. Leve também essa caixinha, mas nunca a abra. Se o fizer, mesmo que queira, jamais poderá voltar aqui. Adeus.
Com as moedas num saquinho e a caixinha debaixo dos braços, sentado no casco da tartaruga, Ubirajara Tarô, rapidamente retornou a praia onde morava. Assim que se desceu do robô-tartaruga, foi embora em direção da sua casa.
Claudio Seto
Lendas Japonesas
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