SER ACEITO
Por: Artur da Távola
Ser aceito não é receber a concordância.
É receber até a discordância,
mas dentro de um princípio indefinível
e fluídico de acolhimento prévio
e gratuito do que se é como pessoa.
Ser aceito é realizar a plenitude
do sentido do verbo latino "accipio":
- receber,
tomar para si, acolher, perceber, ouvir,
compreender, interpretar, sofrer,
experimentar, aceitar...
Ser aceito é ser percebido antes
mesmo de ser entendido.
E ser acolhido antes mesmo de ser querido.
E ser recebido antes mesmo de ser ouvido.
É ser compreendido antes mesmo de ser conhecido.
É, pois, um estado de compreensão prévia,
que abre caminho para uma posterior
concordância ou discordância,
sem perda do respeito fundamental
por nossa maneira de ser.
Quer fazer alguém feliz? Aceite-a.
E depois discorde à vontade.
Ser aceito implica mecanismos mais sutis
e de longo alcance do que apenas os racionais.
Implica intuição, compreensão milagrosa,
conhecimento efetivo e afetivo do universo interior, cuidado com as cicatrizes e nervos expostos.
Ser aceito revela, renova e faz crescer
a nossa melhor dimensão.
Ser aceito é rememorar um momento de medo
que foi aplacado, um olhar de amor e carência
que encontrou resposta e afago,
uma perda de si mesmo atendida no instante
em que se deu, um exercício de bondade
que não encontrou reprimida,
julgamento, cobrança, medo,
desconfiança ou agressão.
Ser aceito é não ser preciso explicar.
É não ser preciso definir.
É não ser preciso ter para dar.
É não ser preciso agradar.
É não ser preciso embelezar,
dourar a pílula,
contabilizar o afeto ou ficar bem com os outros.
Ser aceito é o milagroso mistério do afeto
dos que não cobram retorno ou gratidão.
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