UM JOVEM PÁSSARO MULHER
Um dia voei
Ergui-me em vôo altaneiro
Por sobre as ondas do mar...
Nas trilhas dos raios de sol
Vi o verde das matas,
Banhei-me nas cachoeiras
Puras, águas cristalinas:
Verdes, a refletir a natureza,
Rosas, a refletir o meu amor por tudo...
Um dia eu fui pássaro
Que batia as asas, bem forte,
Até que aprendi
Não ser a "força" que move as montanhas...
Aprendi, batendo as asas, o poder da suavidade
E deixei-me penetrar por ela.
Aí, meu vôo ficou mais leve
E eu pude voar mais milhas:
Vi mais montanhas verdes,
Mais cachoeiras de águas brancas espumantes
E nadei no mar azul!
Sequei as penas em um sol dourado,
Que também me abrigou
E protegeu dos ventos do litoral.
Sim... um dia eu fui um pássaro
Pássaro-menina, que voou, livre
E cresceu em meio à paisagem.
Com o crescer, as asas foram aparadas
E os vôos tornaram-se mais rasos e circulares.
Caí uma ou duas vezes,
Mas a juventude me levantou
E segui em frente,
Fechando os ciclos
Que havia deixado abertos.
Explorei alguns mundos:
Escolhi um galho e lá me estabeleci
Formei um ninho,
Mas o vento derrubou minha cria.
Nesse dia o pássaro-mulher-ferido, chorou!
Mas o céu continuou a brilhar azul
E o sol retornou ao amanhecer...
Voei!
Arrisquei vôo solo mais alto, consegui!
Vi os clarões da nova cidade.
Penetrei nela, fiquei feliz,
Era uma cidade rosa, azul, lilás...
Lá eu pude descansar
O corpo do pássaro maduro e já cansado.
A neve chegou e cobriu tudo de branco
E do branco nasceu o frio cinza
Bati novamente as asas,
para procurar abrigo seguro
Para as penas grisalhas e orvalhadas.
Voei baixo, amedrontada,
Encontrei uma última fresta de sol!
Na descida, de mau jeito, quebrei minhas asas:
Jamais voltaria a voar!
Mas... como um presente de
um Deus piedoso e tão doce,
Aquele último raio de sol
Na existência deste pássaro
Penetrou como um convite cálido,
Um abraço morno, afetuoso e adocicado
Que embalou-me até a transmutação.
Agora adormeço.
Mas amanhã serei novamente
um jovem-pássaro-mulher!
Rita Palhares
www.ritapalhareshomepage.hpg.ig.com.br
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