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Uma Experiência Excitante - com os Monges Tibetanos pela cidade de SP

Uma Experiência Excitante - com os Monges Tibetanos pela cidade de SP
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Sempre me lembro de uma frase de Lama Gangchen Rinpoche do Livro Oráculo Lung Ten, compilado por Bel Cesar:

"A cidade parece estar em guerra. Os sons, a tensão... Você explode se deixar tudo isso entrar na sua mente. O som que entrar, deixe sair. Faça o mesmo com os seus pensamentos. Se um problema vier pela direita, deixe-o à direita. Se vier pela esquerda, deixe-o à esquerda. Se ele ficar na sua mente, e se tornar o centro da sua vida, você vai explodir."

Hoje tive a oportunidade de passar por uma inusitada experiência de aprendizado. Acompanhei dois monges tibetanos do grupo de monges do Monastério de Ganden Shartse (no sul da India), grupo que está realizando atividades no Centro de Dharma da Paz em um giro pela cidade, traduzindo-os numa entrevista para uma matéria do caderno de Cidades, do Jornal da Tarde. A intenção da matéria era acompanhar o olhar de um monge budista para a nossa cidade de São Paulo. O carro do jornal nos deixou na estação Sumaré do metrô. Pegamos o metrô e descemos na estação São Bento. Lá a fotógrafa nos encontrou e descemos a ladeira Porto Geral a pé, percorremos a 25 de março e fomos até a Senador Queiroz. De lá, pegamos o carro novamente e fizemos um giro pela cidade... O motorista do jornal guiava como um louco estressado (chegou a me perturbar...).
O jornalista queria entender a rotina de um monge, compará-la com a nossa e acompanhar suas impressões da cidade. O que primeiro me chamou a atenção foi a característica e sempre presente disponibilidade dos monges tibetanos que, com sua prontidão, espaço e abertura a tudo, sempre nos ensinam como é possível ter um frescor no olhar, para tudo que se nos apresenta. Eles andaram de metrô com a pureza de uma criança; se espantaram com a brincadeira do lojista da ladeira Porto Geral que, por causa do Hallowen, ostentava uma mão ensangüentada e sem um dedo... Foram vistos com olhares curiosos (que inquiriam suas vestes bordô) por todos os ambulantes da 25 de março; presenciaram a abordagem de vários policiais a um ambulante sem licença... os berros de um lojista que parecia segurar um ladrão pelo colarinho, mas sem tocá-lo, imobilizava-o com gritos... Tudo muito movimentado, tudo muito agitado... um mundaréu de gente... enfeites já natalícios... e eles contemplando atentamente, com encanto, cada nova cena. Pareciam imperturbáveis, apesar de tocados. Disseram que na Índia é mais agitado do que aqui, e que o trânsito lá é mais caótico, pois todos cruzam na sua frente de improviso, vindos de todos os lados. Que somos mais calmos e mais tranqüilos que os indianos. Que os vendedores indianos, num mercado de rua puxam insistentemente o comprador e não sossegam enquanto ele não comprar; são ostensivos! Disseram que somos mais silenciosos no trânsito, que não buzinamos... que somos organizados para estacionar. E que em Delhi há muita poluição. Monge Lobsang gosta do vento frio e comentou em meio à multidão que estava feliz por sentir sua pele ser tocada por ele. Curioso alguém fazer esta afirmativa em meio à agitação da 25 de março. Quando chegaram ao país, vindos pela primeira vez, direto do monastério para o ocidente (mais precisamente para cá), estranharam ver que aqui comemos vegetais frios antes da refeição, mas gostaram. Sentiram-se acanhados num restaurante, vendo que todos comiam com garfo e faca. Na índia se come com as mãos. Mas, para eles o mundo interno sempre é mais importante. Percebi que em vez deles se encolherem frente a agitação e violência da cidade, ele têm uma atmosfera estável e tranqüila que contagia tudo à sua volta. Gerando equilíbrio ao invés de desestabilizar-se.
Para mim, foi uma experiência única, pois senti que mesmo mantendo sua presença interna atenta, estável e relaxada, eles se deixam tocar por tudo que os cerca, com o coração aberto. Sua estabilidade protetora não funciona como couraça onde não se sente o sofrimento que nos cerca; ao contrário, de volta para casa comentaram que havia uma mãe com uma criança nos braços e que o olhar dela era de muita tristeza, que ficaram tristes por não ter algo a oferecer-lhe. Infelizmente, procuraram em seus bolsos algo para dar a ela e não tinham. Rezaram internamente para que ela possa ter felicidade. Disseram que vão dedicar a energia gerada pelas suas práticas pela felicidade de todos aqueles que conheceram hoje. Disseram que foi um dia de novas experiências para eles, e que isso causou-lhes também um "stress", "an exciting experience"... e agradeceram pela nova experiência. Tudo com muita delicadeza, tudo com muita gentileza. Tudo com um olhar puro e o coração aberto. Tudo com o frescor de um novo momento. Eu, na rua, olhava curiosa para ver a expressão deles. Há uma estabilidade, mas há o deixar-se tocar. O coração não se fecha; ao contrário, ele se expande. Inevitavelmente, ao ouvir em casa o relato da experiência deles sobre a mãe com a criança e sobre a pobreza (que os meus olhos já gastos não identificaram), eu chorei... mas temos medo de sentir esta emoção. De nos deixar tocar pelo sofrimento. Em geral, nos fechamos e evitamos esse contato, assim como fechamos os vidros do carro no farol. Que bom ter um espaço interno e não precisar defender-se, fechar-se. Que bom não temer os outros. Eles não temiam. Ou, as impressões que sentiam não faziam com que se fechassem à experiência. Quando caminhávamos, o jornalista me disse: "a sensação que eu tenho é de que se fossem levá-los para uma masmorra eles ficariam iguais, estariam bem também". Há algo percebido por nós como "imperturbável" que parece ser sem emoções nos monges tibetanos, ou nos praticantes espirituais orientais (uma crença de que "ser zen" é ser sem sentimentos)... mas a nossa impressão é errônea, na medida em que pensamos que isso significa ser frio. Minha sensação é de que eles têm uma visão e uma prática sólida o bastante que os sustenta e lhes dá o suporte necessário para se abrirem para qualquer experiência que a vida traz sem temer, e para poderem se deixar tocar pela experiência.

ABERTOS E PRESENTES. UMA PAZ QUE NINGUÉM TE DÁ. UMA PAZ QUE NINGUÉM TE TIRA. Estas foram as minhas impressões sobre a experiência. Confiram hoje, dia 2/11 no JT do feriado de finados, a impressão do jornalista.

Um beijo grande no coração e que esta experiência possa servir de inspiração para que possamos cada vez mais nos deixar tocar, de coração e com frescor, pelo que nos cerca.

Isabela Bisconcini - [email protected]
1 Novembro 2005

Aproveito para falar que os monges de Ganden Shartse estarão no Centro de Dharma da Paz até dezembro de 2005.
Informe-se: R. Apinagés, 1718. Telefone (11) 3871.4827 ou
No site Centro de Dharma

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