Quem sou? De onde vim? Para onde vou? (Parte VII)




Autor Ernesto Shima
Assunto Almas GêmeasAtualizado em 6/8/2012 2:42:37 PM
A última semana em Okinawa foi transcendental. Todos os dias, eu ia até a praia e passava o dia ali, sentado na areia olhando o mar. Acordava cedo, gostava de ver o amanhecer. Era lindo demais contemplar os primeiros raios do sol surgindo na linha do horizonte, refletindo seu brilho nas cristas das ondas que vinham em marolas até onde eu estava. Deixava as águas tocarem meus pés.
Havia uma razão para eu estar ali naqueles dias. Tinha um dilema tão profundo que sacudia todo o meu interior, mexia com a minha alma. Teria que voltar para Toyohashi, mas não tinha nenhuma motivação. Só de pensar no que vinha pela frente, no que teria que enfrentar ao longo dos meses, me deixava triste e agoniado. Não era esse o plano que havia traçado na minha vinda para o Japão.
Mais uma vez, as circunstâncias da vida me obrigavam a aceitar situações que me contrariavam. Eram esses os pensamentos que tomaram conta de mim durante toda aquela semana. Tive que rever toda a minha vida novamente, analisar cada aspecto que sempre ocasionaram uma mudança na forma como tinha que viver. A cada guinada, eu via a minha vida girar 180º e não sabia mais nem para que direção estava sendo levado desta vez.
Lembro-me que no meio da semana chorei muito. Estava amargurado. Não conseguia entender o porquê a vida me reservava sempre estas situações surpreendentes que virava tudo do avesso, que deixava tudo de pernas para o ar. Sentia o mundo desabar e o chão desaparecer sob os meus pés. Desde a minha adolescência isso acontecia com tanta frequência que não conseguia compreender como ainda estava de pé e, enfrentando mais vez, como se tudo fizesse parte de um ciclo vicioso. A repetição destes fatos é que me chamava muito a atenção.
Somente pelo fato de ser algo repetitivo eu já sentia o drama que teria que enfrentar outra vez. A diferença agora era que estava totalmente sozinho, sem poder contar com alguém por perto em quem pudesse confiar. E acima de tudo era grave porque estava num país que ainda não me acostumara por causa de tantos transtornos que passei naqueles últimos dois anos.
Sentado, encolhido com os braços envolvendo meus joelhos fitei aquele entardecer cobrindo a minha alma atormentada.
As imagens começaram a surgir diante dos meus olhos. Primeiro, contemplei aqueles quatro rostinhos, de anjos, que sempre tem me acompanhado nesta jornada pelo Japão dia e noite. As cenas de cada rotina. Os momentos que vivemos juntos. Cada nascimento deles, os primeiros sorrisos, os primeiros passos. Nenhuma daquelas crianças conseguia ficar sem a minha presença, nem mesmo eu delas. Eram os meus tesouros... a minha vida!
A nossa história era intensa, maravilhosa e marcada por amor, carinho, compreensão. O momento mais dramático foi quando o meu filho havia nascido. Com a falência da fábrica do meu pai, iniciou-se uma fase de dificuldades tendo que mudar constantemente de casas, justamente porque passei a morar em quartos de fundos por falta de dinheiro. Isso acarretava problemas porque não aceitavam filhos pequenos e mal conseguia permanecer dois meses no mesmo lugar. Desempregado, com advogados e oficiais de justiça no meu encalço, vivia escondido. Isso era humilhante.
Conseguia dinheiro emprestado com amigos para pagar passagens de ônibus, quando ia atrás de um emprego no Plano Piloto em Brasília. Deixava o dinheiro da passagem de volta para comprar leite e pão para as crianças e me aventurava de porta em porta tentando arrumar algum serviço. Na hora do almoço era um tormento. O estômago roncava todas as vezes que passava em frente de um restaurante. Ficava nisto. Continuava até tarde da noite tentando achar algo. E voltava para casa de carona com os motoristas de ônibus. Entendiam a minha situação.
Foram quase dois anos vivendo nesta situação. Fazia bico em bar, mercearia, oficina, gráfica, tentando aprender um pouco de tudo. Tinham noites que chegava em casa desesperado por encontrar apenas farinha e macarrão. Como três crianças podiam viver assim? Dormia com lágrimas nos olhos, com elas abraçadas em mim. Prometia a mim mesmo que no dia seguinte eu faria melhor.
Quando um amigo me avisou sobre uma vaga, imediatamente liguei para a empresa e marquei a entrevista. Naquele dia surgiu a grande oportunidade que ia mudar a minha vida e todo o meu futuro. Conheci não só um patrão maravilhoso, mas um amigo que me ajudou a transpor as maiores dificuldades que enfrentei após a separação conjugal. Cresci profissionalmente neste emprego, encontrei a estabilidade financeira e terminei por fundar a minha própria empresa, sete anos depois.
A segunda imagem era também a de um anjo. E esta trazia um juramento que havia feito. Uma promessa de amor, de sonhos, para ser cumprido depois de um ano e meio após a nossa separação. E já haviam passados 14 anos. A minha indagação era sempre a mesma: Como ela estaria? Estaria ainda me esperando? Não conseguia entender como um sentimento deste podia durar tanto tempo e como isso permanecia intacto até na minha alma.
Seu olhar na nossa despedida. As lágrimas que corriam em sua face quando soube da minha decisão. A promessa dela de me esperar. Um segredo guardado por tantos anos, era a esperança que ainda me restava de um dia poder viver este sonho, realizar este desejo, cumprir a minha promessa de voltar para os braços daquela que me acalentou por tanto tempo. E, antes de viver o drama do meu pai, havia decidido voltar naquele mês para o Brasil.
(continua..)
Paz!
Shima









Terapeuta Holístico, de Regressão e Escritor. É fundador e Presidente da ONG “Grande Fraternidade Humana da Terra”. Realiza atendimentos com as técnicas de Terapia de Regressão, Terapias vibracionais, Massoterapia, entre outras. Facebook: https://www.facebook.com/escritorernestoshima Blog: http://www.ernesto-shimabuko.com E-mail: [email protected] | Mais artigos. Saiba mais sobre você! Descubra sobre Almas Gêmeas clicando aqui. |