Contos: A CASA DA MONTANHA

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Autor Alberto Carlos Gomes Lomba

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 4/3/2005 4:46:12 PM


Seus olhos percorreram todo o ambiente. Vislumbrou de uma só vez, como se fosse magia, o pequenino fogão, a lenha, a mesa, as cadeiras, o guarda-louças. À sua frente, uma janela onde o sol transpunha a cortina florida e, logo abaixo, uma grande cama aconchegante.

Este era o universo de Isabelle, que abandonou a vida urbana, trocando todo sucesso de uma roteirista de novelas, por uma paz litúrgica, entre livros e músicas clássicas.

Olhos negros contrastavam com uma pele clara e cabelos loiros caiam em madeixas até os ombros.

Era conhecida por suas novelas, no vilarejo da Estância, ao pé da montanha, em cujos telhados angulares das casas aparecia a modernidade da TV por assinatura, ainda mais, por se tratar de uma estação termal muito procurada. E para se justificar comentava que trocara o sucesso pela vida.

“Eu já vivi aqui em outras vidas. Esta montanha me é tão familiar como a casinha que reformei lá em cima.”, falava a alguns amigos artistas que iam visitá-la.

Desde que mudara para a montanha tinha sonhos estranhos. Muitas vezes se via ao lado de um belo jovem, cujo sorriso era um sol em sua vida. Acordava, às vezes, de madrugada e ia até a janela observar a bruma que se espalhava pelo vale eclipsando as luzes da Estância, e se sentia observada por alguém, cujos olhos lhe traziam emoções incontidas.

Casou-se jovem e separou-se de Felipe, que não queria ter filhos, embora a adorasse. Um pensamento fugaz a levou àqueles dois longos anos: “Ele não me amava, queria apenas o prazer do meu corpo.”

Para ela, a liberdade aconteceu no dia em que foi a uma agência de viagens à procura de um cantinho para descansar e deu de cara com a foto da Estância e lá no alto, uma casinha rústica. O dèjá vu foi instantâneo, como se houvesse um apelo, algo chamando-a para aquele local. Marcou a viagem, reservou hotel e em menos de 24 horas estava na estrada, praticamente, voando para lá.

Seis meses depois, a casa, adquirida numa imobiliária local, estava reformada e conservava, ainda, o velho estilo. Sua mudança também foi radical. Abandonou a vida agitada dos estúdios de televisão, viagens, correrias em aeroportos, entrevistas, festas, premiações e foi morar no que ela chamava “a Paz do Paraíso”.

Isabelle não vivia uma vida mística e monástica. Sempre que podia pegava o jipe e descia até a cidadezinha para tomar uma caneca de vinho quente e tagarelar com os moradores.

Em seu paraíso, como chamava a casinha, tinha todo o conforto necessário de quem abandonou a metrópole, mas não os prazeres da vida mundana. “Apenas acrescentei paz à minha vida e quero curti-la”, dizia aos amigos em viva-voz.

Escondia, na realidade, seu verdadeiro propósito: encontrar respostas. Sabia que sua parte emocional andava abalada. Algo, alguma coisa a prendia naquele sitio, naquela montanha e ainda não conseguira as respostas almejadas. Seu coração sofria uma ausência. “Tanta paz e nenhum amor”, dizia a si mesma.

O inverno trouxe folhas caídas, muita neblina na montanha e o jardineiro Camilo, que aparentava meia-idade e era misterioso, loiro e de olhos penetrantes. Seu trato com as flores era artesanal. Preparava mudas e sementes para a primavera e comentava: “Sabe, dona Isabelle, este ano a casinha ficará colorida e perfumada, pode esperar.”

Curiosa, a roteirista queria saber mais sobre aquele homem que apareceu em sua casinha e em sua vida. Espreitava-o enquanto tratava do seu jardim falando com as flores e as árvores.

Um dia veio a pergunta crucial: “Camilo, você foi casado, deixou alguém pelos caminhos do coração? Fale mais de você.” Os olhos de Camilo alcançaram aquelas pupilas pretas, penetraram em seu corpo, em sua alma e em todo o seu ser.
“Isabelle, não fujas das rosas por causa dos espinhos. Nós nos amamos em outras vidas. Vim apenas me despedir destas lembranças do passado, do seu amor e lhe dizer que sempre a amarei....”

Atônita, confusa, com o coração acelerado, Isabelle não teve tempo de responder. A figura de Camilo se dissipou na névoa e a jovem ficou ali, parada e estática.

A primavera trouxe o sol e as cores para a montanha. Uma brisa acariciava, com aromas suaves, a face de Isabelle, que sentada na varanda, sentia uma felicidade intensa e falou: “Nossas flores.” Camilo sorria a seu lado.

Texto revisado por Cris

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