A NATUREZA DOS DESEJOS...
Atualizado dia 8/16/2006 1:25:54 AM em Autoconhecimentopor Joäo Virginio Silva
A nossa mente se identifica com o agradável, como oposto ao desagradável. Diante da possibilidade de sentirmos dor e prazer, a mente separa e escolhe, e a escolha cria o desejo, dividindo-o em diversas categorias de atividades e valores.
Embora haja muitos desejos que se chocam e se opõem entre si, todos os desejos são um só desejo. É muito importante compreendermos isso, senão, do contrário, os conflitos criados pelos desejos que se opõem entre si, serão intermináveis.
Este dualismo dos desejos criado pela mente é uma ilusão. Porque não há dualismo nos desejos, mas apenas diferentes tipos de desejos. Só há dualismo entre o tempo e a eternidade. Mas, o que nos interessa agora é percebermos a irrealidade do dualismo dos desejos. O desejo se divide em querer e não querer, mas tanto o evitar de uma coisa como a procura de outra é desejo.
Não existe meio de fugirmos dos conflitos, através de nenhum dos opostos do desejo, porque é o próprio desejo que cria a oposição em si inseguro, e, conseqüentemente o conflito.
É um fato verdadeiro que todos os desejos são um só e um mesmo desejo. E não há como alterarmos este fato, não há como torcê-lo de acordo com nossas conveniências e nossos prazeres, ou simplesmente utilizá-los como um instrumento para nos libertarmos dos conflitos dos desejos, mas, se reconhecermos como verdadeiro este fato, então ele tem força para libertar a mente da criação de ilusões.
Devemos, então, estar bem conscientes de que os desejos se separam em partes distintas e em conflito uma com as outras. Nós somos esses desejos opostos, em conflito; somos todo o feixe desses desejos e cada um deles a puxar-nos numa direção diferente. Sem termos primeiro uma noção do desejo como entidade simples, tudo o que fazemos ou tudo o que deixamos de fazer, muita pouca significação terá, porque o desejo só o que faz é multiplicar-se, e a nossa mente fica presa na armadilha desse conflito.
Somente há libertação do conflito, quando o desejo, que constitui o “Eu” com suas lembranças e reconhecimentos, chega ao seu fim. As necessidades orgânicas são moldadas e expandidas pelos desejos psicológicos. E estamos falando aqui desses desejos psicológicos.
Os desejos tanto são potentes como ocultos, conscientes e latentes.
Os latentes são de importância muito maior do que os evidentes. Não podemos conhecer os desejos mais profundos se os superficiais não forem compreendidos e “domados”.
Não estou dizendo, com isso, que os desejos conscientes devam ser reprimidos, ou ajustados a algum tipo de padrão, mas, sim, que devem ser observados e quietados. Pois, com o acalmar da agitação superficial, vem a possibilidade de os desejos, “motivos” e intenções mais profundas subirem à superfície.
Como fazer? Como experimentar isto?
O experimentador não é separado daquilo que está experimentando. É importantíssimo perceber esta verdade. O “Eu que diz: reprimirei este desejo e seguirei aquele outro. Esse próprio “Eu” é o resultado do desejo. O desejo de ser. Se, no momento em que surgir cada desejo, existir a percepção desta verdade, estaremos então, livres da ilusão do “Experimentador” como uma entidade separada e sem relação com o desejo. Enquanto o "Eu” se esforça para libertar-se do desejo, está na verdade fortalecendo o próprio desejo, para outra direção e, assim, perpetuando o conflito. Se há percebimento desse fato verdadeiro, momento por momento, cessa o desejo do censor, e quando o “experimentador” é a experiência vê-se então que o desejo, com seus variados conflitos, chega ao seu fim.
Mas, tudo isso ajudará as pessoas a alcançarem mais calma e mais plenitude? No começo, com certeza não. Na verdade surgirão mais perturbações e teremos de fazer ajustamentos mais intensos, mas, quanto mais profundo e amplamente entrarmos nesse complexo problema do desejo e do conflito, tanto mais simples ele se torna.
Texto revisado por: Cris
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