A Invenção do Sexo Sujo

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Autor Paulo Tavarez

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 9/22/2025 2:03:06 PM


A ignorância é a grande vilã do sofrimento humano. Aquilo que desconhecemos nos assusta, e para lidar com esse desconforto, nos agarramos a crenças. A ignorância é um campo fértil onde criamos sistemas de crenças, e essas crenças atuam de forma decisiva em nossas vidas, pois agimos e reagimos não conforme o que sabemos, mas conforme o que acreditamos.

Um exemplo claro disso é o sexo. Pouco de fato sabemos sobre ele. Tudo o que envolve essa questão está profundamente contaminado por doutrinas religiosas, tradições, costumes e culturas - enfim, por crenças civilizatórias que se solidificaram no inconsciente coletivo da humanidade. Isso não significa que correspondam à verdade. Ninguém pode afirmar, com certeza, se existe pecado ou se o sexo é algo sujo; apenas reagimos de acordo com aquilo que fomos condicionados a crer.

O sexo é um tema em que cada pessoa tem uma opinião. E justamente essa pluralidade revela que, na prática, ninguém sabe nada. Estamos perdidos entre prescrições morais e éticas, vivendo sob culpas, remorsos e martírios por não nos adequarmos a padrões impostos. Assim, o sexo tornou-se fonte de sofrimento, criando psicosferas de culpa, onde nos sentimos perseguidos por vozes internas que se erguem como juízes, apontando dedos, tentando nos convencer de que somos fracos, enchendo-nos de vergonhas e arrependimentos. O que são a culpa, a vergonha, o remorso ou o arrependimento, senão formas de raiva contra nós mesmos?

É isso que fazemos: nos tornamos nosso próprio inimigo quando abraçamos cegamente crenças históricas, culturais e religiosas. Padrões que se instalaram em nossas sociedades e se impõem com uma força aparentemente irresistível.

Em contraste, povos dravidianos e aborígenes da Índia pré-védica realizavam rituais ligados à fertilidade e ao prazer, celebrando a sexualidade de forma natural e integrada ao ciclo da vida. Da mesma forma, em diversas sociedades pré-patriarcais, espalhadas pelo mundo, a sexualidade estava associada à fertilidade, à natureza e à espiritualidade - e não à culpa.

O Tantra, surgido entre os séculos V e IX d.C., constitui um conjunto de textos e práticas espirituais dentro do hinduísmo e do budismo. Diferente de correntes ascéticas que viam o corpo como impuro, o Tantra reconhecia no corpo, no prazer e na sexualidade vias legítimas de expansão da consciência. Os textos tântricos descrevem rituais em que o ato sexual era compreendido como metáfora e prática para a união entre Shiva (consciência) e Shakti (energia). A sexualidade, assim, não era considerada pecado, mas uma ferramenta de autoconhecimento e transcendência.

Por que o patriarcado transformou algo que é natural em algo sujo, pecaminoso e impróprio?

O patriarcado transformou a sexualidade - especialmente a feminina - em algo sujo, pecaminoso e impróprio por alguns motivos principais:

  1. Controle Social e Político: O sexo é a energia mais poderosa da vida, ligada à procriação, ao prazer, aos vínculos afetivos e à criatividade. Para manter o controle sobre herança, linhagem e propriedade, as sociedades patriarcais precisavam vigiar e restringir a sexualidade feminina. Controlando o corpo da mulher, controlava-se também a descendência. O sexo fora de um modelo rigidamente estabelecido ameaçava a ordem social e os privilégios masculinos.

  2. Dominação Religiosa: Com o tempo, religiões patriarcais associaram o sexo ao pecado, à impureza e à culpa. Isso serviu para reforçar a ideia de que só a religião poderia "purificar" o ser humano. O corpo passou a ser visto como fonte de tentação, e a alma, como algo que precisava ser liberto dele. A repressão sexual, nesse sentido, tornou-se ferramenta de poder espiritual e moral.

  3. Supressão do Feminino Sagrado: Antes do patriarcado, muitas culturas veneravam a Deusa-Mãe e cultuavam a fertilidade e a sexualidade como sagradas. O patriarcado substituiu essas imagens por deuses masculinos hierárquicos, relegando a mulher a um papel secundário. A energia criativa e sexual da mulher, antes celebrada, passou a ser vista como ameaça e, portanto, precisava ser controlada.

  4. Medo da Liberdade Sexual: O sexo livre e natural dá autonomia. Uma mulher ou um homem sem culpa, conectado à sua energia vital, é mais difícil de submeter. O patriarcado não precisava de indivíduos livres e realizados, mas de soldados, trabalhadores e servos obedientes. A liberdade sexual desperta força, alegria e autossuficiência - qualidades incompatíveis com a lógica de dominação. A mulher, ao reivindicar seu corpo e seu prazer, desmontava toda a estrutura de poder que a reduzia a reprodutora ou propriedade do homem. Por isso, sua energia foi transformada em tabu, seu prazer em pecado, e sua liberdade em ameaça.

  5. Instrumento de Disciplina Coletiva: O controle da sexualidade não é apenas pessoal, mas coletivo: a sociedade inteira passa a vigiar, julgar e punir. Isso cria uma estrutura de obediência que se perpetua de geração em geração, naturalizando o tabu e garantindo que homens e mulheres reprimam uns aos outros.

Em resumo, o patriarcado transformou algo natural em algo sujo porque precisava controlar a energia vital, o corpo da mulher e a liberdade individual. Ao associar sexo a culpa, estabeleceu uma forma de dominação que se sustentou por milênios. O paradigma criado em torno do sexo sofre a influência dos interesses de poder, que acreditavam que ao demonizá-lo poderiam tornar as pessoas mais fragilizadas e manipuláveis, pois o sexo, ao tornar as pessoas ajustadas e realizadas, comprometia os objetivos e disciplinas que seriam indispensáveis para a consolidação do poder, para as guerras e para as conquistas territoriais.

A cura para a ignorância e a superação das dores não está em abraçar novas crenças, mas em questioná-las. O caminho para a liberdade é o do autocuidado e do autoconhecimento, que nos permitem desconstruir padrões impostos e viver de forma mais autêntica.


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Autor Paulo Tavarez   
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