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A Madrugada

Atualizado dia 8/8/2007 2:49:14 PM em Autoconhecimento
por Marcos Spagnuolo Souza


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Estou sozinho no meu escritório. São três horas da madrugada. Da janela vejo uma antiga mangueira. Gosto de olhar para ela, é muito mais velha do que eu. Não sei quem a plantou, provavelmente uma pessoa especial, porque só as pessoas especiais plantam alguma coisa. Gosto de olhar para o céu e ficar olhando aqueles milhões de pontinhos brancos lá em cima e ficar pensando se lá existe ou não vida, como seriam as pessoas, os animais, os mares, os rios, as flores e as paisagens.

Ligo o rádio bem baixinho e escuto o anúncio do Pai de Santo Tio João do Catité, que cura todos os males do corpo e do coração. Agora, no rádio, um cantor está cantando: “Estou sentindo falta de você, porque não pega o telefone e diga (....) cansei de abraçar a solidão (...) não posso mais viver sem o seu amor (...) a minha boca sente falta de seu beijo (...)” Logo depois, outra música toca: “Estou nas mãos de uma mulher (...) estou vivendo por viver, também busco um caminho para seguir, sinto um passarinho sem asas para voar (...) almas gêmeas condenadas a viver de tanto amor (...) eu e você, presos na mesma saudade”.

É sexta-feira, o lixeiro vai passar e lembro que tenho que colocar o saco de lixo lá fora. Saio do escritório, pego o saco de lixo, coloco nas costas e lá vou eu carregando toda aquela sujeira para deixá-la no passeio, em um local em que o lixeiro possa pegar o lixo e jogar dentro do caminhão. A madrugada está fria, sinto um ventinho gostoso bater na minha pele e junto com a friagem do vento, chega à minha mente uma imagem do passado muito distante. Volto correndo para o escritório com medo de que as antigas lembranças deslizem em minha frente. Algumas lágrimas deslizam pelo meu rosto. Volto ao escritório para fazer um comentário político que será lido na rádio local, mas alguma coisa não me está deixando concentrar, estou inquieto e agitado. Ainda é noite e me sinto muito sozinho, é como se estivesse em uma pequenina ilha, totalmente isolado, onde não vale a pena pensar no que se passou, no agora ou o futuro que ainda não existe. Volto os olhos para a estante, visualizo o Bhagavad Gita. Tomo-o nas mãos e digo que este livro tem me acompanhado por muitos anos, foi um livro muito importante em muitas etapas da minha existência. Acaricio a sua capa e suas páginas sentindo que somos amigos. Parece que suas vibrações penetram em meu ser e sou levado a pensar no determinismo da vida. Pensando em todos os fatos que marcaram minha vida chegando à conclusão que estou sendo levado por uma corrente ou força, sendo que a existência do livre-arbítrio pode ser negada. Não estou me sentindo em paz, sinto-me profundamente magoado comigo mesmo.

Levanto da cadeira, apago as luzes e volto a sentar em um canto do escritório, no chão, encostado na parede. Não sei quanto tempo fiquei sentado com os olhos fechados e a cabeça pendente entre as mãos, deixando as lágrimas caírem à vontade. A minha dor foi ficando tão profunda que o único desejo era desaparecer, me decompor, virar ar e não deixar nenhuma marca na areia da vida. Abri os olhos e, para meu espanto, não estava em meu quarto de estudo e sim em um pequeno aposento, todo construído de pedra bruta. Em um canto, uma lamparina iluminava um pouco o aposento. Vi uma pessoa idosa encostada na parede, na posição de meditação e estava mergulhado em seu próprio interior. Depois de alguns minutos de completo silêncio, o ancião abriu os olhos e convidou-me a sentar à sua frente.

Olhei bem fundo nos seus olhos que transmitiam tranqüilidade, a tranqüilidade que me faltava. O ancião, o quarto de pedra bruta, tudo era muito real. Não escutava nenhum som vindo do exterior. O silêncio era tão profundo que escutava o barulho de minha própria respiração. No quarto não tinha nenhuma cama ou qualquer outro móvel. A lamparina estava em um nicho, formado por uma cavidade na pedra. Sentado no chão, bem em frente do ancião, notei que estávamos nos comunicando por pensamento. Disse que a civilização em que eu estava vivendo havia perdido a sua grande riqueza ao voltar-se totalmente para o mundo dos sentidos, da razão, da realidade e da localidade, esquecendo de perscrutar o universo que existe no interior de nossa própria essência.

Cada alma individual, isoladamente, deveria voltar-se para si mesma. O voltar-se para o interior não deve utilizar a emoção, os sentidos e a razão. A percepção metafísica é concretizada por um sistema próprio da alma. O mundo captado pelos sentidos é apenas uma das infinitas possibilidades do Plano. O Plano é o verdadeiro mundo, o mundo onde os seres existem em consciência. Os seres são fenômenos vivos, constituídos por uma energia desconhecida do cosmo físico. Casa ser possui suas possibilidades e uma das ínfimas possibilidades é se manifestar em um corpo material. Quando se fala em alma estamos nos referindo a esses seres invisíveis aos sentidos. Ao desenvolver a percepção da alma, inicia-se a conscientização do plano, onde tudo possui vida em si mesmo. É um mundo onde nada se assemelha ao universo físico. Não existe no Plano nenhuma manifestação semelhante ao que costumamos captar pelos sentidos do corpo. No universo dos seres não existe atividade racional, que é uma atividade do nível físico. O conhecimento é captado diretamente do sol central, que é uma manifestação de um ser superior, irradiador da sabedoria. Devido à conjunção dos astros, estamos entrando em um período que é imprescindível cada ser procurar desenvolver a percepção da alma e entrar em sintonia com o Plano, com o mundo dos seres.

O ancião disse que a melhor maneira para desenvolvermos a visão do plano é a meditação no vazio, no nada, por causa da ausência de relação com o mundo físico. Disse para eliminarmos todo processo racional e abandonarmos todo conhecimento que temos atualmente, esvaziarmos totalmente, não deixar nada na mente. A mente deve ficar totalmente vazia, sem nada dentro. Escutei uma música, abri os olhos e estava no meu quarto de leitura. Do rádio escutei uma canção que dizia: “O pinto de meu pai fugiu com uma galinha da vizinha (...) não consegue dormir sem uma galinha ao lado (...) o pinto de meu pai vai rolando na coxinha da galinha (...) esse pinto não é mole é safado (...) não consegue dormir sem um cafuné em sua cabecinha (...)”.

Texto revisado por Cris

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