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A Prática do Desafeto no Lar

Atualizado dia 5/25/2007 4:32:06 PM em Autoconhecimento
por Carmem Calmon Lacerda


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Em meus trabalhos como voluntária com pessoas mais desprovidas de conhecimentos culturais, até de higiene e costumes, encontrei casos de desafeto no lar que me deixavam arrepiada. Do abuso sexual contra as/os próprios filhos passamos a nos deparar com o abuso dos filhos em relação aos pais, principalmente em relação às mães. Este fato talvez seja explicado pelo fato de quem age assim pode ser normal, mas com certeza é covarde, não vai encarar se for para sair em desvantagem.

Pensava que essas coisas só aconteciam "lá". Nunca parei para pensar onde poderia ser esse lugar que chamamos de "lá", essas pessoas que denominamos como "os outros" e "essas coisas do outro mundo".

Não longe no tempo, narrei em minha casa um atendimento domiciliar que estava prestando a uma cliente com bacia quebrada. Fui até a residência a pedido da irmã. Lá chegando constatei que a história era bem pior. Essa senhora de 57 anos aparentava 70. Declarada “débil” pelos médicos de sua cidade, foi constatado pela família que, o parente que era ir-responsável pela manutenção dessa senhora a havia deixado padecer de fome, de atenção e fazia-a viver num silêncio enlouquecedor.

Muitos são os estudos que comprovam que o silêncio imposto, aquele que esmaga, leva a um desespero muito próximo da loucura. Presos de periculosidade máxima, em alguns países, são mantidos isolados anos a fio, numa tentativa de "queimá-los" como seres humanos e torná-los débeis, logo, inofensivos, objetivo alcançado com louvor.

Mas essa história me colocou mais perto de uma realidade que considerava tão longe. Colocou-me em contato com lares pré-desfeitos de famílias classe A/B, sem a prerrogativa de querer "ficar com o que é da pessoa", nem mesmo o fato que ocorre com pessoas de baixa renda e que abandonam seus bebês para que tenham chances melhores... nada disso. Apenas a falta de tempo e vontade de cuidar, proteger.

Ouvi frases do tipo: "Mas nesse estado em que você está, acha que alguém vai querer te abraçar, te acalentar e dar amor???" Uau! Conclua-se "Querida, para receber atenção e carinho você tem que estar na boa, não vem com problemas que o resultado é o isolamento." Política de cárcere? Tratamento de choque? Cadê a família, meu Deus? Virou "isso"?

Caso recente: mulher, 40anos, dois filhos rapazinhos, um com quem tem enorme dificuldade em se relacionar, apesar de tê-lo tido sozinha - a famosa produção independente dos anos 80; outro filho, ex-enorme companheiro, atual adepto da maldade familiar, marido bacana, ótima pessoa, profissional dedicado e pai muito bom, péssimo companheiro: não conversa NUNCA com ela porque ela não tem interesse nos assuntos dele... (tá bom!!), bom provedor, mas que dita e escreve e guarda cada recibo de durex que compra.
Esta cliente me narrou esta realidade acima. Não sou psicóloga, esses fatos vão surgindo à medida que trabalho os pontos reflexológicos de minhas clientes. No caso dela, por mostrar-se muito assustada, porém silenciosa neste dia, utilizei Óleo Essencial de Cipreste, para que ela soltasse um pouco as palavras presas. Manipulo meus óleos com bases diversas; neste caso utilizei Babaçu Composto com Linhaça e Mamona, pois relatou dores corporais e depressão. E fui fazendo uma reflexologia não específica, sem me deter em pontos; "peguei" todo o pé, e mesmo encontrando uns bloqueios aqui e ali, me concentrei em proporcionar apoio e conforto trabalhando cada parte de seu dolorido corpo e sofrida alma.

Relatou-me, por fim, após muitas lágrimas, que na noite anterior, como em várias outras, "não agüentou e explodiu com os rapazes da casa", inclui-se aí o pivô/marido. O motivo parecia bobo, então, não há porque dizê-lo; o que importa de fato são as entrelinhas e seus efeitos. Após questionar porque ninguém se importava com ela, perguntou-se porque, após ter tido uma notícia tão ruim naquele dia, através do próprio marido, ele não havia chegado oferecendo conforto? Porque após três horas de espera muda em seu quarto, às 23:30, resolve ir à cozinha para demonstrar que queria ao menos dormir sem interrupções e encontrou o Clube do Bolinha reunido conversando e lendo Kardec? "Como, meu Deus?", me perguntou ela, "Como eles podiam estar lá, tão envolvidos em suas próprias filosofias e aprendizados, enquanto eu, a mãe e esposa, estava em pedaços em meu quarto? Krika, o que está acontecendo??"

Putz! Como dizer a alguém que te olha com confiança, com esperança, essas duas palavras tão sem perspectiva de explicar nada: "Não sei!"?

E não sei mesmo. Essa mulher, depois de chorar, quebrar copo, se rasgar por dentro, como ela descreveu, ainda foi empurrada - bom, diz o filho que empurrou a cadeira pra passar, só isso - mas lá se foi a mãe ao chão, bateu todo o seu lado esquerdo - cabeça no móvel, braço na parede, bumbum no chão. Uau! A meu ver, apesar de nada mencionar, uma surra completa, eu diria, mas conforme o próprio filho disse com lágrimas nos olhos: "Mãe, eu não encostei em você! Nós amamos você, sim, mas quando você fica assim dá mesmo vontade de ir embora!"

E foi neste momento que ela mesma respondeu sua triste pergunta: "É, Kri, só sirvo se estou bem, fazendo as coisas legais para eles."

É isso o que acontece nas favelas, não é? Não é isso o que a nossa mídia mostra: pais que espancam os filhos com fios, pedaços de ferro, mães que usam suas colheres de pau, etc? Eles não encostam-se nos filhos. Será que os senhores Juizes levarão esse fato em consideração? Afinal, não houve toque!

Eu, particularmente, vejo assim: a mãe, a verdadeira geradora de vidas, aquela que abdica da beleza fina; sabe, aquela coisa de barriga pra dentro e bumbum pra fora; que deixa tudo "ir pra fora" para gerar uma vida, mas que ainda se perfuma e se cuida pro maridinho, a que sabe que abrirá mão para sempre de alguns de seus sonhos, de algumas metas, mas que traçará outras, que sonhará outros sonhos. A que vai ter o bebê e lá chegando tem que ser cortada, costurada, sangrar e mesmo assim achar linda aquela coisinha enrugada e recoberta por algo: "Meu Deus, o que é aquela meleca em volta de meu bebê?" (foi o que pensei quando tive meu primeiro filho!).

É esta mãe que deveria ser o centro de tudo, mas que ao chegar a suas crises pessoais, não encontra o tal retorno em forma de apoio e carinho, mas apenas a eterna cobrança de "Afinal, onde foi parar a mulher com quem casei? Cadê aquela mãe que tava aqui?”.

Queridos filhos e maridinhos, sinto informar que ela continua no mesmo lugar. É que talvez tenha chegado a hora de receber mais do que dar, pois poço do qual tudo se tira sem nunca repor, um dia seca e pára de prover.

Nessa nossa época de tentar frear o desgaste mundial, tentemos incluir as mulheres desamadas por seus entes mais queridos apenas por não terem mais reservas necessárias que permitam esse dar e doar, sem nada em troca, eternoooooo, mas eterno enquanto dure, e que assim como nosso ar, nossa natureza, só vai durar se houver cuidados, cultivo e manutenção, atenção e amor.

Fiquem com Deus.

KRIKA

Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Carmem Calmon Lacerda   
Trabalho e estudo Aromaterapia, Florais de Bach e Califórnia, Terapia do Barro (GEOTERAPIA) e Shiatsu Emocional. Sou Reflexoterapeuta e Fitoterapeuta. Muito confiante e feliz com o meu trabalho, faço com estudo e amor.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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