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A punição além das grades

Atualizado dia 11/15/2007 6:09:18 PM em Autoconhecimento
por Claudia Gelernter


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“Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito".
Albert Einstein


Acho engraçado reparar nos rostos das pessoas quando comento que estou indo realizar um trabalho de psicologia social dentro de um presídio. Uns entortam o nariz, outros fazem cara de espanto. Existem ainda os que não resistem e me chamam de louca, com todas as letras. Logicamente os que se comportam assim não conhecem nenhum presídio, nunca estiveram por perto dos muros da instituição, sendo que o pouco que conhecem vem dos meios de comunicação ou de comentários de amigos ou parentes. Fica visível o preconceito com relação a este assunto. Parece até que vou ser atacada só por ter a ousadia de adentrar aqueles portões.

Foi por esse motivo que decidi escrever este artigo. Minha intenção é tentar retirar um pouco do mito do cárcere e colocar uma pitada de realidade aos que desconhecem o assunto.

Tudo começou quando fui, junto com uma amiga, levar alguns livros arrecadados para os detentos de uma cidade do interior do Estado de São Paulo. Chegando lá fomos muito bem recebidas pelo diretor que, de forma simpática nos levou para conhecer as instalações, as pessoas, tudo. Qual não foi a nossa surpresa ao adentrarmos o interior do prédio! Corredores limpos, dormitórios ajeitados, paredes pintadas, oficinas de trabalho, salas de aula, biblioteca, horta, sala de informática e refeitório - tudo organizadíssimo! Vale salientar que toda a limpeza e organização do espaço, assim como a manutenção da horta e a produção do alimento fica a encargo dos educandos – presos que cumprem as mais variadas penas, devido aos mais variados crimes (desde pequenos furtos até estupro e homicídios). A maior surpresa foi ver que naquele local eles também reciclam lixo!

Logicamente ali só ficam os criminosos que apresentam características psicológicas específicas, adequadas para a ressocialização (presos considerados de baixa periculosidade) e que se disponham a trabalhar e estudar, constantemente. Saímos de lá contentes com o que vimos, felizes pela oportunidade de podermos re-significar nossos antigos conceitos, também preconceituosos e retorcidos. Foi a partir daquela experiência que decidi iniciar meu trabalho naquele local. Quero saber, através de uma pesquisa mais acurada, o que está dando certo, uma vez que a reincidência daqueles educandos ao crime estacionou na faixa dos 5%, enquanto no Brasil todo temos a marca de mais de 75% de retorno dos apenados às práticas ilícitas. Desejo saber, também, porque tais medidas não são tomadas a nível nacional.

Pouquíssimas pessoas conhecem o trabalho dos Centros de Ressocialização (este é o nome atribuído àquele tipo de instituição). Isso porque eles só existem dentro do Estado de São Paulo e, infelizmente, são em pouco número. A idéia partiu do antigo secretário da administração penitenciária do governo Mario Covas, o Juiz Nagashi Furukawa. Enquanto esteve no governo (por seis anos) a iniciativa foi levada a sério. Mas, como sempre, basta mudar o governo e o trabalho da gestão anterior vai para a ala dos esquecidos ou mal-falados. Uma pena!

Vale lembrar que muitos criminosos de baixa periculosidade são colocados (depositados) em penitenciárias comuns, construídas com capacidade para 800 internos, abrigando mais de 1600 pessoas, de forma sub-humana, sem nenhuma medida eficaz de ressocialização. Na grande maioria dos casos, tais presos são aprendizes do crime, tendo de se adequarem à cartilha das facções, saindo de lá muito piores do que quando entraram.

Um importante sintoma a ser pensado é o fato de que 90% dos presos são pobres e com baixa escolaridade. Não seria isso uma indicação de que as leis são constituídas apenas para punir os já excluídos socialmente e proteger a elite? Juntamente com tal reflexão, peço ao caro leitor que responda a uma outra pergunta, não menos intrigante: Por que será que nós, cidadãos brasileiros, contribuímos para que a realidade se mantenha desta mesma forma, se somos totalmente atingidos por ela?

Ideologia. Esse é o nome do vírus social que nos ataca, sem ser percebido e, portanto, sem nenhuma vacina eficaz. Mas este tema é longo e merece, portanto, um outro artigo.

Contudo não desejo aqui, de forma alguma, desculpar criminosos que realmente agem por maldade. Não tenho a pretensão de desviar o enfoque, escondendo a violência dos crimes executados pelos prisioneiros, mas estou buscando alguma discussão sobre as possibilidades de uma ressocialização do infrator, para daí então se pensar na melhor forma de ressarcimento dos danos que foram causados à sociedade.

Porém, a maioria das pessoas que estão confinadas nos presídios são indivíduos que não tiveram as mesmas oportunidades de muitos, não tiveram base alguma para lhes sustentar nos momentos de necessidades reais. Boa parcela destes, quando auxiliados por técnicas multidisciplinares, incluindo as que tratam da espiritualidade, não apenas deixam o mundo do crime como ainda passam a contribuir por um mundo melhor. Basta que para isso lhes sejam dadas algumas oportunidades. E quem mais poderia fazer isso por eles senão todos nós: cidadãos e o governo que nos representa?

Gostaria que as pessoas pensassem um pouco mais nesses pontos aqui descritos ao invés de mostrarem careta quando comento sobre minhas visitas àquele local, demonstrando com isso muito mais preconceito do que qualquer consciência social.

Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Claudia Gelernter   
Tanatóloga e Oradora Espírita, professora e coordenadora doutrinária
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