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A TIJUCA ENCANTADA...

Atualizado dia 10/18/2007 7:14:57 PM em Autoconhecimento
por Christina Nunes


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Há mais de vinte anos atrás não morava neste bairro, mas noutro, de onde, contudo, de vez em quando me demorava na varanda de casa olhando, meio fascinada, para a distante cadeia de montanhas do Sumaré, ao pé da qual se estende a Tijuca, e por cima da qual sempre se precipitam bolsões maciços de nuvens nas mudanças repentinas de tempo motivadas pela chegada das frentes frias vindas do sul. De modo que já sabíamos: quando aquela fabulosa cadeia de montanhas exibia o espetáculo da cascata monumental de nuvens se despencando por suas matas densas, por elas absorvidas antes de atingir os sopés, era sinal certo de derrubada drástica de temperatura e, provavelmente, de aguaceiros próximos.

Hoje em dia, há mais tempo aqui do que naquele outro bairro da zona norte do Rio que me viu nascer, o Méier, considero-me tijucana nata, como se houvera estado aqui desde o princípio, e de onde, voluntariamente, não hei de sair. Por mais de uma razão.

Desde há bastante tempo, volta e meia me detenho a analisar a curiosa topografia da Tijuca, o que me levou à inevitável e interessante conclusão de que, nos seus primórdios, deveria se tratar este lugar de um belo vale incrustado nas fraldas da imponente cadeia de montanhas que o borda de um a outro extremo, indo desaguar no maravilhoso santuário natural da Floresta da Tijuca - por sinal, a maior floresta urbana do mundo, a menos que tenham se modificado os dados estatísticos de alguns anos atrás. Floresta onde, há pouco mais de uma década, desbravei trilhas adentro, para tudo quanto é lado, subindo e descendo trechos escarpados por entre matas fechadas e trilhas íngremes, indo dar nos cumes mais magnificentes da cidade do Rio de Janeiro. Sentia-me, efetivamente, o próprio personagem dos contos de fadas incursionando nos domínios adentro de elfos, de faunos e de ondinas... De modo que não me deixa nunca esta impressão de que já fora nalguma época, este bairro encantador, uma espécie de gigantesca Vila de Hobbittses* - o que é plenamente ratificado se nos damos conta do volume considerável de ruas arborizadas e ajardinadas que se espalha para todo lado, de moradias que igualmente primam pelos ajardinados maiores e menores, e de moradores que, em vista disso, francamente confessam-se apreciadores natos das expressões exuberantes da natureza na sua melhor forma, afinizados com as energias abundantes espargidas pelo Sumaré nas noites e nas manhãs perfumadas, nas quais se fazem vívidas as lufadas frescas provenientes das montanhas ainda pródigas da vegetação luxuriosa das suas matas.

Há quem diga que a Tijuca não é mais bairro para se morar, devido ao clima de desassossego notório provocado pelo tiroteio constante promovido pela guerra entre traficantes e policiais nas favelas vizinhas. Trata-se de um julgamento injusto. Pois tudo vai muito do foco de cada um.

Tenho dois filhos que amo mais do que tudo nesta vida e, mãe extremosa, recusar-me-ia terminantemente a permitir que crescessem num lugar onde não detectasse um mínimo de qualidade de vida. São indiscutíveis o medo e a insegurança presentes no cotidiano deste como no de praticamente todos os pontos densamente povoados de uma cidade grande; mas, por outro lado, são ostensivos determinados fatores positivos acessíveis apenas à percepção mais sensível, dos que se dão conta desta peculiaridade inerente a uma Tijuca encantada - talvez visível apenas a alguns.

Uma Tijuca onde se depara, nos fins de semana ensolarados, com uma fartura inacreditável de crianças em alvoroço brincando alegremente nas suas pracinhas bem tratadas; de idosos risonhos trocando assuntos ao sol, ou jogando nessas mesmas praças, ou ainda passeando aos pares, numa deliciosa demonstração de que uma união duradoura não era assim tão rara em tempos outros; uma Tijuca de ares puros e perfumados vindos à farta da poderosa cadeia do Sumaré e nos colhendo, balsâmicos, no início promissor de um fim de semana tranqüilo, nada obstante a azáfama alegre do comércio privilegiado para os apreciadores dos shoppings e da agitação das compras; uma Tijuca estranhamente afeita à natureza abundante e às flores, no seu quarteirão das flores da Praça Saens Pena; às árvores e aos canteiros floridos em toda a sua extensão e na dos bairros vizinhos, bem como nas sacadas incontáveis dos seus belos edifícios de apartamentos ornamentados com fortunas coloridas, bouganvilles rosa-choque, flamboyants vermelhos e laranjas, espirradeiras brancas e rosas, azaléias dobradas e papoulas, que se despejam, bucólicas, de edifícios cujos mármores brilham ao sol cálido das manhãs de inverno...

Olho para todo este panorama cheio de aromas mágicos e de climas etéreos e entrevejo nele, oculto, e nada obstante quase visível ao meu olhar, um outro mundo paralelo, no qual não por acaso vim ter. Nada é coincidência e certamente não nasce do nada a nossa profunda afeição por determinados lugares - mais que isso, pelo espírito de determinados lugares...

Era aqui o meu lugar; daqui nasceram meus filhos e meus livros, minhas melhores inspirações. Aqui, sob estes ares élficos, experimentei em plenitude o que significa ser feliz... rodeada por todos os de meu sangue, num lugar ostensivamente sintonizado de forma harmônica com a melhor expressão natural, conservada e bela.

Aqui chego a entrever fadas e faunos brincando e zelando pelas flores do meu jardim e pelas árvores perfumadas e floridas da rua onde resido. E é bom saber que, ao menos nalguns poucos lugares, esta majestosa corrente evolutiva presente na Natureza não se evadiu completamente, por temor dos homens. Ainda é possível enxergar Condados mistos de homens e elementais ao sopé das montanhas, plenamente harmonizados com Deus e com as mais belas expressões da Sua exuberante Criação.

Vida longa à minha amada Tijuca Encantada!

*Hobbitt - personagem de Tolkien, nas suas obras O Hobbitt e O Senhor dos Anéis; é um ser do mundo encantado dos elementais, em vários aspectos semelhante ao homem, segundo os seus legendários contos.

Com amor,

Lucilla

Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Christina Nunes   
Chris Mohammed (Christina Nunes) é escritora com doze romances espiritualistas publicados. Identificada de longa data com o Sufismo, abraçou o Islam, e hoje escreve em livre criação, sem o que define com humor como as tornozeleiras eletrônicas dos compromissos da carreira de uma escritora profissional. Também é musicista nas horas vagas.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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