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AMOR... AFINAL, O QUE É ISSO?

Atualizado dia 2/16/2007 2:42:40 AM em Autoconhecimento
por Maria Antonieta de Castro Sá


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Não tenho idéia de quantos clientes, e quantas vezes, me perguntaram se o que sentiam era amor ou, afinal, o que é o amor? Minhas respostas, como só pode acontecer num intercâmbio terapêutico, eram focadas dentro do contexto de cada pessoa e circunstância.

Em geral, criaturas jovens referem-se ao amor a partir de suas atrações e alcances sexuais. É o prazer imediato que costuma alimentar as relações entre adolescentes, jovens e mesmo entre muitos adultos. É quando a atenção se concentra muito mais no que se recebe do que naquilo que se dá, e quando se dá espera-se uma retribuição, ao menos, razoável.

Mesmo as pessoas maduras têm muito a ver com isso: elas ainda assumem posturas bastante questionáveis e orientações coercitivas, em lugar de discussões abertas e honestas com seus jovens mais próximos. Nossa geração de pais, que nos meios urbanos consideram-se até esclarecidos, ainda cometem o engano de ensinar à geração de seus filhos a negociarem no afeto, da mesma forma que se tenta negociar o respeito deles aos nossos critérios, os quais também deveríamos examinar com mais transparência.

Com muita frequência as expectativas de quem julga amar decorrem de visões distorcidas da realidade, em que se espera encontrar um equilíbrio induzindo-se o outro a responder como se deseja e deixando-se em segundo plano o que o outro de fato é, tem e quer oferecer.

Já se pode perceber, portanto, que não é fácil definir "o que é o amor".

A maioria dos jovens está buscando construir seu próprio universo, compensando nele o que falta no meio de onde se originam... e ainda há muitos adultos que embarcam em idealizações semelhantes. As pessoas buscam o amor porque ele é o principal alimento da vida, mas realimentam, em geral, com suas atitudes dependentes e suas pretensões de posse do outro, os mesmos medos, inseguranças e frustrações que vinham marcando seu caminho anterior. Grande parte das pessoas se envolvem, antes para "serem amadas" do que de fato "para amarem".

Ninguém deveria voltar-se para o amor por necessidade de ter um amor! Este sentimento é a mais preciosa vivência que podemos ter, creio eu, mas ele não se viabiliza verdadeiramente antes que se galgue algum amadurecimento psicológico. As crianças, por exemplo, têm suas preferências e empatias afetivas, mas não são capazes de amar, se não de se aconchegarem e buscarem proteção no calor de quem possa (quem sabe!) dar-lhes provas e exemplos de amor. Relacionamentos de amor real não ameaçam a individualidade de cada um e exercitam, na consideração pelo outro, até os mais difíceis enfrentamentos, na solidariedade que não sufoca e nem despersonaliza.

Mas muitas pessoas imaginam que poderão ser felizes "quando forem amadas", sem a preocupação de serem "aquelas que amam". Na sua inquietação e insegurança esperam, à maneira das crianças, encontrar portos seguros para as embarcações de suas emoções desordenadas, sem o cuidado de se conhecerem melhor para navegarem neste oceano... Não é capaz de amar o outro aquele que ainda não se ama - e não é de vaidade que falo aqui! Refiro-me ao auto-respeito, à consciência do próprio valor e dignidade, àquilo que se costuma chamar de auto-estima. Uma criatura que se ama, compreende o outro e compreende melhor a vida.

O amor verdadeiro também não é acidental, ocasional e não deve ser confundido com gratidão, embora possa acompanhá-la. Ele é espontâneo e é natural. Seu mais belo tempero é a ternura.

Dançando mentalmente entre estas considerações, de uma harmonia já elevada, me lembrei de outras danças bem mais primitivas; afinal, este artigo data de um fevereiro quando no Brasil é tempo de carnaval: o império dos anseios fantasiados de alegria, no estilo tão característico de nosso sincretismo cultural. E me voltei para o outro extremo do cenário no qual transitava.

Lembrei-me de um desfile que assisti, certa vez, da Escola de Samba da Mangueira. Pude estar lá, pessoalmente. Já faz alguns anos. Nem me lembro qual era o enredo da Escola. O que ficou na minha memória, porém, foi o exemplo concretizado de uma história de amor, no desempenho de um artista já idoso, um ícone do nosso cancioneiro, chamado Jamelão. De fato, seria mais apropriado escrever: "Jamelão é o grande intérprete dos sonhos desta sua mulher amada, a Estação Primeira de Mangueira". Eu o vi, então no alto de seus oitenta anos, com o olhar voltado para baixo, porque o tempo curvou-lhe as costas e já lhe era difícil olhar à frente ou para o céu... Mas também o ouvi! E do fundo daquela alma vinha seu vozeirão único, fortalecido pelo amor à sua querida parceira. Aquele olhar não dizia tristeza, embora muitas tristezas devam ter bordado essa sua existência. Era o olhar de quem via a sua amada muito bem alojada dentro dele mesmo.

A Mangueira, contudo, não vive "aprisionada" pelo afeto de Jamelão. Ele a conhece e a ama como ela é, livre e sempre à sua frente, rejuvenescida a cada ano e solta para ser admirada como arte de um povo. Apenas ele a tem plasmada em sua própria afeição, o que não o ameaça de ser jamais esquecido por ela. E ele lhe dá o que tem de melhor: a ternura robusta de sua voz que sempre dirá "Eu estou aqui e meu amor é seu", mesmo quando as circunstâncias não lhe permitirem estar mais, concretamente, junto dela. E ele não cobra nada de sua mais querida. Quando aquele intercurso termina, ele se recolhe silencioso, seguro, e segura a deixa, cada qual no reduto de sua própria realidade. Ele sequer se põe disponível a quaisquer cumprimentos.

Há quem o considere mal-humorado. Não creio. Eu o vejo, apenas, senhor dos próprios sentimentos, sem mais necessidade de retribuições. Creio que ele tenha aprendido a gostar de si o suficiente para não precisar nem mais dos aplausos, talvez.

Quando Jamelão canta: "Mangueira, seu cenário é uma beleza... que a natureza criou...", ele é feliz, com certeza, por dar-se a ela e por faze-la muito mais bonita aos olhos de todos porque enriquecida por sua voz.

Agora está respondida aquela pergunta que tantas vezes me fizeram. Amar é isto: é dar, com a melhor das emoções, o que temos de melhor para a realização e alegria de nossos seres queridos. Está aí o amor de Jamelão por sua Mangueira, para mostrá-lo melhor do que qualquer terapeuta saberia fazer.

Mª Antonieta de Castro Sá
Psicóloga e escritora.
(11)3885.3514 ou 9258.2196

Texto revisado por Cris

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