Menu

E eu que torcia pro bandido... Parte 2

Atualizado dia 10/27/2006 11:01:59 AM em Autoconhecimento
por Mauro Kwitko


Facebook   E-mail   Whatsapp

De repente...Tátárátárátárátáráááááá!!! Tátárátárátárátáráááááá!!! A cavalaria! Estão vindo! Os heróis! Os de cavalo branco! O General na frente, a bandeira americana, todos com um sorriso confiante, em nome de Deus, da Justiça, espinha ereta, o semblante firme, os olhos azuis serenos, impassíveis, cumprindo sua missão de salvar os seus, matar os bandidos, aniquilar com o mal, levar o progresso e a democracia a todas as partes do planeta, eliminar os ditadores, acabar com o terrorismo. Ataaaaaaaqueeeeeeemmmmm!!! Tátárátáátárátárááááá!!! E nós todos de pé, gritando, saudando a chegada dos salvadores, cristãos, imaculados, os de olhos azuis, as mulheres dentro das carroças chorando de alegria, abraçando seus filhinhos, os homens energizados, recobrando a sua força, a esperança, o bem sempre vence, o bem é branco, sempre vem em um cavalo branco, com a bandeira americana tremulando, tremulando, povo da minha terra, matem, acabem com eles, bandidos escuros, negros, vermelhos, de cavalo preto, de olhos escuros, de roupa marron... Apenas o nosso Deus é o verdadeiro... Matem! Matem! Em nome de Deus, matem! Arranquem os cabelos deles... não, isso homem branco não faz... no filme. Matem os búfalos deles! Chamem o Búfalo Bill, ele é especialista nisso... Meu pai no jogo, ou dormindo, ou na zona, minha mãe em casa, ou na vizinha, e eu no cinema, gritando: Matem! Matem! Viva a cavalaria americana! Viva o homem branco! Viva os que andam em cavalo branco! Viva os de olhos azuis! Acabem com esses bandidos... Eles andam de cavalo preto! Eles são escuros! Eles são morenos! Eles são feios! E todos nós, crianças do Brasil, no cinema, gritando, gritando, torcendo... pro bandido.

É que eu que torcia pro bandido e não sabia... Ninguém me dizia que aquilo era cinema americano, e que cada um conta a história do seu jeito, segundo seus interesses, que os índios também eram filhos de Deus, que respeitavam a natureza, que amavam a terra, as florestas, as águas, o vento, que falavam com os animais, que os consideravam seus irmãos, que zelavam pelo local onde repousavam seus ancestrais, que também tinham cavalos brancos, que também eram pais e mães, que também tinham filhinhos, que eram índios porque daquela vez tinham reencarnado índios, que já haviam sido brancos em outras encarnações, que estavam na Terra vivenciando essa experiência, que somos todos irmãos, brancos, índios, americanos, brasileiros, árabes, judeus, que somos todos filhos de um Deus só, que se manifesta em todos os lugares, que é Onipresente, que é os seres humanos, os animais, a natureza, a terra, as águas, o vento, que é tudo o que existe no Universo, e que não tem eleitos, não tem uma Igreja, que é de todos, que é todos...

Ninguém me ensinara naquele tempo que os brancos já haviam sido índios em outras encanações, ou seriam, e que, portanto, estavam lutando contra si mesmos... Eu não sabia naquela época que os americanos são Espíritos que reencarnaram americanos e que os iraquianos são Espíritos que reencarnaram iraquianos e que, se hoje lutam uns contra os outros, se, um dia, os hoje americanos reencarnarem iraquianos lutarão contra os americanos e os hoje iraquianos se reencarnarem americanos, lutarão contra os iraquianos...
Eu juro que achava que os índios eram os bandidos, um bando de selvagens, analfabetos, que não sabiam nem ler, nem escrever, sujos, fedorentos, que o legal era ser branco, de preferência loiro, casar com uma mulher branca, de preferência loira, ter filhos lindos, brancos, loirinhos, escutar eternamente aquela música suave ao fundo, tudo correr bem, nada de problemas, deixar a gente civilizar a terra que quisesse, impor a religião de Deus pra quem era pagão, levar nossos trens pra terra dos outros, matar os búfalos, poluir as águas, profanar os cemitérios, derrubar as florestas, fazer o que bem entendesse, afinal de contas somos brancos, os eleitos, os melhores, os únicos, os que são mocinhos nos filmes de bang-bang, andamos nos cavalos bancos, falamos inglês...

Aí eu fui crescendo, fiquei adolescente, esqueci das matinês de bang-bang, virei adulto, estou ficando velho e, hoje, o que vejo? Os mocinhos continuam nos dizendo que são mocinhos, os outros são todos bandidos, a cavalaria agora não ataca mais com cavalos brancos e, sim, em aviões a jato, as caravanas não são mais de carroças mas de Coca-Colas, Mac Donald´s, Internetes, os xerifes brancos, loiros, sejam Kennedys, Nixons, Bushes, zelando pela paz no mundo, derrubando ditadores, em nome da democracia, o petróleo tem de ser nosso, dos brancos, que andamos nos modernos cavalos brancos, afinal de contas, o que esses selvagens marrons, sujos, pagãos, pensam? Que podem mandar em suas terras? Com o dinheiro sujo do petróleo eles financiam o terrorismo... Nós podemos atacar onde quisermos, podemos matar, derrubar as torres que quisermos, somos os mocinhos. Mas se nos atacarem, são terroristas... As nossas torres, não! A nossa terra é nossa, aqui ninguém entra... E esses novos índios, os terroristas, o que querem? Sua terra? É nossa! Seu petróleo? É nosso! Nós podemos atacar quem quisermos, somos os xerifes do mundo, somos a lei, a ordem. Mas nos atacar? Heresia! Nas nossas cidades, não, só as cidades deles... Nossos civis morrerem? Em nome de Deus, não! Nós somos brancos. Só os civis deles... São morenos, marrons, escuros... Mulheres, velhos, crianças, só podem morrer se forem vietnamitas, palestinos, iraquianos... americanos, não! Nós podemos atacar quem quisermos, somos a cavalaria americana, somos os heróis do cinema e da vida real; mas se nos atacarem, são terroristas! Onde já se viu, que ousadia, esses selvagens, hereges, talvez nem tenham alma... Deus é nosso, Deus é branco.

Então, quando eu era criança, torcia pro bandido... Hoje em dia, torço pra que todos recordem que são Espíritos encarnados, em cascas de cor diferente, em locais diversos, para aprenderem que somos todos irmãos, filhos do mesmo Deus. Hoje eu sei que numa vida reencarnamos brancos. Lá adiante, um dia, viemos numa casca negra... numa vida venho judeu, numa mais adiante, posso vir árabe... hoje sou brasileiro, amanhã posso vir americano, iraquiano, vietnamita...

Não torço mais pro bandido... Meu time hoje chama-se: Deus Futebol Clube.
Gostou?    Sim    Não   

starstarstarstarstar Avaliação: 5 | Votos: 102


estamos online   Facebook   E-mail   Whatsapp

foto-autor
Conteúdo desenvolvido por: Mauro Kwitko   
CURSO DE FORMAÇÃO EM PSICOTERAPIA REENCARNACIONISTA E REGRESSÃO TERAPÊUTICA - Inscrições abertas Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Recife e Salvador
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

Saiba mais sobre você!
Descubra sobre Autoconhecimento clicando aqui.
Deixe seus comentários:



Veja também
© Copyright - Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução dos textos aqui contidos sem a prévia autorização dos autores.


Siga-nos:
                 




publicidade










Receba o SomosTodosUM
em primeira mão!
 
 
Ao se cadastrar, você receberá sempre em primeira mão, o mais variado conteúdo de Autoconhecimento, Astrologia, Numerologia, Horóscopo, e muito mais...


 


Siga-nos:
                 


© Copyright 2000-2024 SomosTodosUM - O SEU SITE DE AUTOCONHECIMENTO. Todos os direitos reservados. Política de Privacidade - Site Parceiro do UOL Universa