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As 3 filhas de Guilherme

Atualizado dia 7/24/2006 1:32:15 PM em Autoconhecimento
por Flávio Bastos


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Os dramas suburbanos na vida do brasileiro, assim como no filme "Dois filhos de Francisco", multiplicam-se aos milhares país afora. A história real que será descrita é apenas mais uma delas, mas que, inevitavelmente, ficará gravada na memória daquelas pessoas que de uma forma ou de outra envolveram-se no "enredo" ou que, à distância, acompanharam o desenrolar dos fatos.

Guilherme era um típico "boa pinta" de subúrbio de cidade grande. Nascera no interior do Rio Grande do Sul, mas vivera e trabalhara em várias capitais do país, além da cidade de Santos, em São Paulo. Comunicativo e sedutor, costumava fazer sucesso entre as mulheres, pois reunia algumas qualidades que atraíam o sexo feminino. Resultado: assim como um "Don Juan dos pampas", por onde foi passando foi mantendo relacionamentos e, destas relações, alguns filhos foram ficando pelo caminho.

A atividade profissional em que atuava, facilitava de vez em quando, algumas negociações ou transações ilícitas. E desta forma, com o suor de seu trabalho lícito ou ilícito, Guilherme foi acumulando algum poder aquisitivo. Mas, assim como ganhava, gastava em farras com amigos ou com mulheres.

A sua última aventura amorosa aconteceu quando retornou ao Rio Grande do Sul, já "quarentão", relação que lhe deu três lindas filhas. No entanto, cansado de aventurar-se na vida, estava resolvido a fixar residência e a viver em paz consigo e com sua família gaúcha. Experimentava pela primeira vez algo diferente e intenso que denominara amor com responsabilidade. E foi com essa mudança radical de atitude que Guilherme deu início a uma nova fase em sua vida: a fase da maturidade e do compromisso amoroso assumido.

Vivia tempos de paz e de felicidade com sua amada e suas três princesas. Trabalhava honestamente e o que ganhava, apesar de pouco, dava para o consumo das necessidades básicas da família. Com o passar do tempo, porém, começou a perceber algo diferente na sua maneira de caminhar e na sua forma de falar. Constantes dores de cabeça e nas pernas o afligiam, assim como a coordenação motora sofria visíveis alterações. Preocupou-se, reuniu coragem e, após enfrentar a fila da previdência social, conseguiu consultar e encaminhar alguns exames solicitados pelo seu médico.

Após essa bateria de exames e uma reunião da junta médica do hospital, veio o resultado que Guilherme, no fundo, já esperava: era portador de uma doença rara chamada Machado-Joseph, originária da Ilha dos Açores e trazida ao Brasil nos genes dos primeiros imigrantes açorianos que aqui chegaram. Guilherme, no entanto, já sabia o que ocorreria consigo com o avanço da doença neurodegenerativa, pois a família de seu pai vivia este drama há dezenas de anos: diminuiria consideravelmente a sua capacidade de trabalho, quando entraria num processo gradual de degradação física e, concomitantemente, numa crescente necessidade de cuidados de suporte para as funções elementares da sua vida diária.

Informada da situação nada promissora de seu parceiro, sua mulher, bonita e ainda relativamente jovem, vislumbrando o futuro que a aguardava, tratou de fugir de casa abandonando o companheiro e suas três filhas ainda menores de idade. Estava selada a sorte de Guilherme, pois começava uma nova fase em sua vida: a fase de grande teste de limites, onde o maior desafio era conseguir associar, sozinho, a situação de saúde precária à responsabilidade da educação das filhas. Seria, a partir de então, pai e mãe.

Passados quatro anos desde a fuga de sua parceira, com muita garra e grande dose de amor às filhas, apesar da doença que avança minando sua saúde, Guilherme consegue forças para administrar seu humilde lar, educar suas filhas de cinco, sete e nove anos, e ainda transmitir otimismo àquelas pessoas que o visitam, pois vivendo de uma pensão irrisória, necessita da solidariedade de vizinhos ou de antigos conhecidos (ele fora funcionário de serviços gerais de um órgão público).

A história de Guilherme impressiona pela marcante mensagem que deixa para todos nós, pois somos também o resultado desta busca muitas vezes neurótica pelo prazer e pela felicidade a qualquer custo em nossas vidas. Esquecemos, na maioria das experiências que, ao irmos atrás do prazer, poderemos deixar pelo caminho, em nós e no "outro", consequências e sequelas desta obstinada busca. Se bem que no caso do Guilherme, relativo ao seu comportamento na mocidade, provavelmente houvesse também a considerar-se o componente "angústia de morte" relacionado à possibilidade futura da manifestação da doença de família.

Contudo, como a vida é um processo de crescimento, Guilherme está sabendo, nem que seja no final desta, aproveitar seus últimos anos ao lado das filhas que ama, com muita dedicação, ternura e afeto. E o exemplo que deixa - que poderia ser tema de filme - é justamente este: o amor, esta incrível energia envolvente que pode superar obstáculos como o sofrimento físico, moral e psicológico.

Apesar de tudo, considerando-se os tropeços pelo caminho, creio que Guilherme esteja prestes a cruzar a "linha de chegada" deste capítulo de sua existência como vencedor. E este é o exemplo mais significativo que fica para a posteridade.

O verdadeiro nome da pessoa foi preservado.

Psicanalista clínico e Reencarnacionista.

Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Flávio Bastos   
Flavio Bastos é criador intuitivo da Psicoterapia Interdimensional (PI) e psicanalista clínico. Outros cursos: Terapia Regressiva Evolutiva (TRE), Psicoterapia Reencarnacionista e Terapia de Regressão, Capacitação em Dependência Química, Hipnose e Auto-hipnose, e Dimensão Espiritual na Psicologia e Psicoterapia.
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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