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Atena, a Deusa da Razão

Atualizado dia 5/8/2006 12:23:04 PM em Autoconhecimento
por Mani Álvarez


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Vamos iniciar aqui uma apresentação das principais deusas da mitologia grega relacionadas aos arquétipos mais significativos da psicologia feminina. Vamos começar com a deusa Atena, padroeira da cidade de Atenas, na Grécia. Depois vamos apresentar Artêmis, Afrodite, Deméter, Perséfone, Hera e Héstia. Acreditamos que todas elas podem trazer alguma luz para o nosso auto-conhecimento. E para os homens, também é bom saber um pouco mais sobre o universo feminino, tantas vezes visto como um mistério ou uma incógnita. A leitura das deusas como arquétipo é um excelente recurso para compreendermos as forças inconscientes que nos movem, que nos modelam, que nos influenciam e que, por desconhecimento, têm sido catalogadas como patológicas nos compêndios de psicologia.

Vamos iniciar com a deusa Atena, tão bem representada na modernidade, encontrada nos escritórios de grandes empresas e em universidades, sempre impecável e formal em sua aparência, sociável e inteligente. É o arquétipo da mulher bem realizada profissionalmente, antenada às questões de seu tempo. Uma mulher regida pela deusa Atena é uma guerreira incansável, sempre em busca de causas nobres para defender e de injustiças sociais para combater.

O mito conta a sua história como tendo nascido da “cabeça” de seu pai Zeus, o deus do Olimpo, o que explica porque Atena é uma deusa intelectual, racional, além de sempre ligada ao pai ou às questões patriarcais de nossa sociedade. Analisando a deusa como um arquétipo feminino, vemos que ela tem por característica a independência e a autonomia.

Além disso Atena é sempre uma companheira fiel e leal. Isso coloca a mulher, às vêzes, numa posição difícil quanto aos relacionamentos afetivos, porque sempre vê, no companheiro, um amigo, um pai ou um colega. O papel de amante lhe é desconfortável. Não sabe vibrar na energia do amor erótico ou maternal, apenas no fraternal. Sua couraça de guerreira parece que a protege dos envolvimentos mais ardorosos e da entrega sensual ou afetiva..

Atena é uma deusa cultuada em toda a Grécia e é a padroeira de Atenas, sua capital, por seu espírito de camaradagem ao lado dos homens, seja nos negócios, na política ou na educação. Por isso é considerada uma deusa da “pólis”, ou seja, urbana e cultural. A mulher-Atena hoje é capaz de ser uma excelente política, organizadora social ou empresarial, administradora ou pesquisadora. Seu espírito de luta a coloca sempre na vanguarda, seja em qualquer área da vida social. Sua competência e agudeza da mente racional lhe confere autoridade e superioridade em todos os assuntos.

Sobre isso, a escritora Jean Shinoda Bolen se refere de uma forma bastante significativa. Ela afirma que esse arquétipo feminino, numa sociedade patriarcal, pode levar a alguns equívocos, como a pensar que uma mulher assim, tão independente, pode ser um “macho de saias”. É preciso compreender que uma mulher-Atena se move não por imitação ou competição com o homem, mas conforme atributos que lhes são peculiares. Por exemplo, ela pensa com clareza e é tão batalhadora não porque esteja imitando o modelo masculino, mas porque este é um atributo peculiar à sua energia específica, aquela que deu origem ao mito da deusa Atena.

Numa época de grandes mudanças culturais na Grécia antiga, o povo grego compreendeu que necessitava do símbolo representado por uma Mãe cultural, em oposição à antiga Mãe natural (Deméter), mais ligada à vida agrária e próxima da natureza. Enquanto Mãe cultural, Atena satisfazia a necessidade de coesão social dos primeiros povos da “polis” (Estado) e dava-lhes consciência de seus deveres morais como Mãe do Estado (metrópolis = mater-polis).

Talvez esse anseio por uma mulher idealizada tenha surgido, para o povo grego, em decorrência do lastimável estado das mulheres na sociedade, após o advento do patriarcado. Em sua maioria eram destinadas ao papel de mães, escravas ou prostitutas, nunca líderes ou intelectuais. A poetisa Safo foi uma exceção a essa norma.

Em nossa época, vimos a emergência desse arquétipo inconsciente em grande número de mulheres, dando origem a manifestações coletivas pela emancipação feminina. Acreditamos que o movimento feminista na década de 70 em todo o mundo tenha sido liderado por mulheres com essas características.

Atena, arquetipicamente falando, é uma “virgem”, no sentido primitivo do termo, que significa uma mulher sem homem. Este termo foi deturpado mais tarde pela interpretação religiosa, que o relacionou à falta de experiência sexual da mulher, mais especificamente, por um detalhe anatômico. A libido de uma mulher-Atena é muito direcionada para a mente, restando à sua sexualidade relativamente pouco interesse ou desembaraço. Por não investir muito na consciência corporal, ela poderá vir a sofrer de uma certa frieza no sexo e de distúrbios ginecológicos, como infecções, tumores ou problemas menstruais. Mesmo assim ela tende a negar e a ver tudo isso como distúrbios puramente orgânicos.

Isso se deve à sua excessiva identificação com o pai (ou aos princípios paternos), desvalorizando a imagem da mãe, com suas questões domésticas e maternais. Aliás, tudo que uma mulher-Atena deseja é não parecer com a mãe. Mas, se por um lado, ela pode vir a ser uma filha zelosa e obediente ao pai, poderá também vir a se insurgir contra ele e tornar-se sua inimiga mortal, caso constate nele a ausência daqueles princípios que tanto preza, como a honra, a dignidade, a lealdade, a sabedoria, a sensatez, etc. Quando uma mulher-Atena não encontra esses atributos em seu pai biológico ou no Pai cultural (governantes, chefes, autoridade), ela se sente traída e pode se transformar numa feroz revolucionária.

A identificação de uma mulher com a energia de Atena pode se transformar num sintoma, caso ela não trabalhe suas emoções e não permita a emergência em si dos outros arquétipos representados pelas outras deusas. Desse modo ela está condenada a voltar sua energia infindavelmente para a cabeça, comprometendo a consciência dos outros aspectos da sua existência. Portanto, aquilo do qual Atena está mais distante - de sua mãe - é do que ela mais precisa. Uma Atena ferida pela falta do amor maternal pode se transformar numa Atena enfurecida, radical e agressiva, como existem tantos testemunhos na história do feminismo.

Mani Alvarez
Psicanalista de orientação transpessoal e co-criadora da Oficina das Deusas.

Texto revisado por Cris

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