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Carta a uma filha magoada

Atualizado dia 2/6/2008 9:24:19 PM em Autoconhecimento
por Theresa Spyra


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Olá! Respondo sua questão com muito carinho.

Sei muito bem do que está falando. Não é fácil manter um bom sentimento com os pais, principalmente se sentimos tanta carência em relação a eles. E nem estou me referindo àqueles pais que maltrataram literalmente os filhos, mas àqueles que, no momento em que o filho mais precisava de um elogio, simplesmente viraram a cara. À mãe que, ao ver a filha toda orgulhosa com a sua primeira saia mais curta, sem entender a grande transformação que estava ocorrendo naquele momento – o surgimento de uma mulher e o adormecer de uma criança - rude e seca, dispara: "Que pouca vergonha! Minha filha não anda como essas vagabundinhas por aí!" Ah, como dói! O que mais a menina queria é dizer: "Mãe, sou uma moça!" E a mãe não viu.

Mas vou lhe dizer uma coisa: é através desses e doutros obstáculos, às vezes rudes e incompreensíveis, que a vida faz o ser humano se mexer. Não fosse isso, a maior parte de nós permaneceria parado, sem desafiar, sem buscar respostas e soluções. As pessoas procuram mudanças porque algo está doendo dentro delas. E sabe de uma coisa? Isso é muito bom. É o primeiro passo da mudança. Antes que se chegue a esse estágio, é comum permanecer parado, jogando a responsabilidade e a culpa pelas nossas dores em cima de outros.

Vou contar um pequeno caso...

Uma moça costumava culpar a mãe porque não era aceita do jeito como ela era: isto é o que ela me falou. Em cada atitude que a jovem tomava sentia-se contrariada e incompreendida pela mãe. Esta era dura, cheia de razão, uma mulher de gênio difícil. E a filha sentia-se atingida pessoalmente pelas negativas, reclamações, brigas, chantagem emocional e intrigas que ocorriam em seu lar, a seu respeito. Em tudo ela estava errada! O brinco estava errado! As palavras eram deselegantes! O piercing, ridículo! O namorado, um viciado... A roupa, um desastre! As notas, inferiores ao irmão! E mesmo nos momentos em que ela se esforçava deliberadamente para agradar a mãe, surtia efeito contrário. Dava um presente, ao invés do obrigado, vinha uma avaliação. Se era caro: de onde você conseguiu dinheiro pra comprar? Se era barato, a resposta era: humm... Se fazia as tarefas de casa, sempre havia um lugar que não estava bem limpo. Se tirava uma nota acima da média, o questionamento: você andou colando?

Essa moça só queria ser aceita pela mãe, porém, nada dava certo. Nenhum agrado, nenhum sucesso que ela obtivesse, nada era bom o suficiente. Até ao realizar o grande sonho que a mãe, declaradamente, mantinha sobre ela, que era o casamento e filhos, nenhum pingo de aproximação houve entre elas. A dor da rejeição continuou no peito dessa moça e ela não conseguia se livrar desse peso. Por que ela não me vê? Por que ela não me acolhe, não diz palavras bonitas, não me lança um olhar carinhoso?

Os anos se passaram, esta moça já era adulta, e em determinado momento ela quis trabalhar dentro de si o sentimento de não se achar boa o suficiente, não se valorizar perante os outros, tanto nos relacionamentos como no trabalho, e veio procurar a constelação familiar sistêmica. Lá estavam os personagens dispersos na sala: um representante para a mãe, um para o pai, um para seu irmão mais velho, e os movimentos sistêmicos ocorrendo por si só, quase sem a minha interferência como facilitadora.

O pai não estava presente para a mãe. Nem para o filho. Nem para ele mesmo. Buscava algo, identificado com uma dor sistêmica que ele nem tinha conhecimento, o que fez ele não estar presente dentro da própria família, embora convivesse, aparentemente, 24 horas dentro do lar. A mãe, igualmente, tinha uma profunda dor e não estava presente nem no casamento, nem na educação dos filhos. Isso dói muito nela, aumentando mais a sua própria culpa. Ela não desgostava da filha. Pelo contrário, mas por se achar errada, culpada, a mãe afastava a filha, ao invés de acolhê-la. Um pai ou mãe só repele o filho quando não se acha merecedor ou capaz de cuidar dele. Isso é amor, um amor que transcende todas as crenças que os homens criaram a esse respeito! É o amor sistêmico, que busca se reequilibrar dentro do sistema familiar.

A moça desatou num choro silencioso, mas profundo. Era um choro de reconhecimento a esse amor, que antes ela nunca permitira perceber, por estar tão preocupada em ser aceita pela própria mãe. Mas... ela nunca se deu ao trabalho de aceitar a própria mãe como ela era. No íntimo, sempre quis uma mãe melhor, diferente da sua. A dela era errada, não era boa o suficiente. E, é claro, ela merecia uma mãe melhor...

Agora ela entendia tudo, não com a cabeça, mas com o coração. Percebeu que por detrás daquele sentimento duro, de rejeição, havia um amor maravilhoso, restaurador. As feridas da rejeição começaram a se cicatrizar nesse instante. Este breve instante, mágico, onde o insight cura, permitiu a ela enxergar a mãe com outros olhos e se colocar simplesmente como a filha que recebe o que a mãe tem a dar, em vez de exigir o que ela achava que merecia. Ao tirar os olhos dessa dor, percebeu que existia uma vida toda a ser vivida, e muita coisa a ser conquistada, tanto nos relacionamentos, como profissionalmente.

Os pais dão e os filhos recebem. Estes se colocam acima dos pais quando querem determinar o que devem receber e de que forma. E isso é contra a ordem de amor que comanda os sistemas familiares; significa que dessa forma o amor está impedido de fluir dos pais para os filhos, provocando sofrimento para ambos, mas principalmente ao filho.

Tomando a vida dos pais como ela é, o filho se liberta da mágoa e está começando a abrir espaço para viver e assumir a própria vida. Esta é a experiência que a constelação familiar sistêmica proporciona... e é libertadora!

Espero tê-la ajudado. Abraços carinhosos.

Theresa Spyra
Consultora e facilitadora de Constelação Familiar Sistêmica
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Texto revisado por Cris

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Conteúdo desenvolvido por: Theresa Spyra   
Theresa Spyra é alemã, trainer e terapeuta com especialização em constelação sistêmica familiar, organizacional e estrutural. Estudou com a também alemã Mimansa Erika Farny, pioneira na introdução do método sistêmico de Bert Hellinger no Brasil, e aprofundou-se nos sistemas estruturais e organizacionais, com estudos no Brasil, Alemanha e Suíça
E-mail: [email protected] | Mais artigos.

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