Como identificar e libertar-se da manipulação: uma reflexão sobre máscaras, verdade e liberdade




Autor Paulo Roberto Savaris
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 9/5/2025 8:40:57 AM
O espelho das ilusões
Há momentos em que nos surpreendemos ao perceber como, diante de fatos claros, somos capazes de viver como se estivéssemos mergulhados em véus de contradição. É como se a realidade fosse distorcida por um espelho invisível, e, nele, criamos nossos próprios factoides para manter acesa a chama daquilo em que desejamos acreditar. Essa chama não se alimenta da verdade, mas da necessidade de preservar um sentido, mesmo que ilusório.
A psicanálise nos lembra que o inconsciente busca narrativas que tragam segurança. Freud desvelou como o ser humano se apega a construções simbólicas para sustentar sua identidade; Lacan ousou afirmar que "a verdade tem estrutura de ficção". Essa constatação nos leva a pensar: quando nos deixamos envolver por retóricas sedutoras, não estaríamos apenas respondendo a um desejo profundo de proteger nossa fragilidade?
O rosto por trás da máscara
Os manipuladores sabem disso. Fazem da palavra um instrumento de poder, exploram medos, oferecem explicações simples para dilemas complexos, moldam ficções que parecem sólidas como rochas.
Jesus, em sua época, denunciou os fariseus - líderes religiosos que, apesar de pregarem a lei, transformavam-na em instrumento de controle, impondo fardos ao povo sem vivê-los em sua própria prática.¹ A máscara da manipulação sempre se apresenta com um brilho de virtude, mas por trás dela se oculta um desejo de domínio.
(¹) Os fariseus eram um grupo influente do judaísmo antigo, muitas vezes criticado por sua hipocrisia e uso distorcido da religião para manter poder.
O teatro dos porões
E como seria o encontro dos orquestradores da ilusão entre si? Não diante do povo, mas em suas salas fechadas, onde apenas cúmplices se reúnem. Ali, entre olhares que se evitam e sorrisos que se dissimulam, não se busca a verdade, mas apenas a melhor forma de contorná-la. A linguagem se torna um jogo de espelhos, uma retórica vazia, ensaiada para soar convincente. É como se existisse um teatro nos porões da palavra, onde se decide o espetáculo que, mais tarde, será apresentado às multidões como verdade incontestável.
O cidadão comum, diante do desconhecimento, é facilmente levado. As ilusões são tão bem construídas que parecem milagres. As massas, como mostrou Gustave Le Bon em A Psicologia das Multidões, reagem mais à emoção do que à razão; buscam líderes que ofereçam segurança, ainda que essa segurança seja apenas uma sombra.
Entre culpa e responsabilidade
Mas há uma distinção essencial: aos que muito foi dado, muito será cobrado. Os que manipulam agem com consciência, usam o saber como arma, e por isso respondem com maior peso por suas escolhas. Já os que se deixam alienar, embora também sofram as consequências, carregam uma responsabilidade menor: são vítimas de uma trama que não percebem por inteiro.
E a grande indagação se impõe: como podemos, em pleno século XXI, discutir como se fossem dúvidas legítimas assuntos já esclarecidos pela ciência, pela justiça, pela experiência histórica? Como rir para não chorar quando vemos alguém distorcer evidências, proclamando como verdade absoluta aquilo que é apenas retórica?
Caminhos para libertar-se da retórica oportunista
Não há respostas fáceis, mas talvez algumas pistas:
- Educar a consciência ? questionar sempre: a quem serve este discurso? Qual é sua intenção velada?
- Buscar fontes confiáveis ? distinguir evidência de opinião, dado de slogan.
- Conhecer a si mesmo ? como sugere a psicanálise, para não cair no fascínio de promessas que alimentam apenas nossas carências.
- Cultivar uma espiritualidade autêntica ? inspirada em Jesus e em tantos mestres, que convida não ao domínio, mas à liberdade: "Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará."
- Exercer a coragem do coração ? enfrentar a manipulação sem ódio, mas com firmeza, mesmo quando o preço seja o desconforto.
Talvez a questão que permaneça seja esta:
estamos dispostos a retirar as máscaras - tanto as que nos são impostas quanto as que nós mesmos criamos - para enfim caminhar na leveza da verdade?
Um Sonhador, Caminhando com Francisco: Paulo Roberto Savaris é autor dos eBooks: Caminho de Francisco, Entre o Céu e o Silêncio e o Segredo da Simplicidade Franciscana na Amazon Série Descubra Caminhando com Francisco e do Blog Caminhando com Francisco, dedicado à educação, à escrita inspirada na espiritualidade e nos valores de simplicidade e amor ao próximo.
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