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CRIANÇA...ESPERANÇA?

Atualizado dia 10/2/2007 6:37:57 AM em Autoconhecimento
por João Carvalho Neto


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Vivemos dias realmente difíceis, dias em que a hipocrisia caminha de mãos dadas com a insensibilidade sustentando dor e sofrimento entre os abandonados que dormem nas ruas, vítimas de uma sociedade que estertora seus últimos gemidos de um prazer insano.
Estou gritando a desesperança? Não, faço um clamor de alerta.
Claro que, quando permito aos meus olhos percorrerem a trajetória humana desde seu passado, percebo o quanto temos evoluído e só o fato de estarmos aqui, refletindo sobre estas questões, preocupados com a dor alheia, apesar dos que dela sobrevivem, é porque temos evoluído, mas não o necessário para alcançar uma dignidade realmente democrática e justa.
Talvez o que dói mais é ver que entre os desprezados por esta sociedade encontram-se crianças, crianças de muito pouca idade, que vão se tornando profissionais da mendicância nas portas dos macdonald´s da vida, em um contraste aterrador da loucura da miséria com a loucura do hedonismo.
“Vida louca, vida breve, se eu não posso te levar quero que você me leve” poetizava Cazuza.
Pois é, um dia desses caminhava pelas ruas do Catete, no Rio de Janeiro, buscando um local para o almoço, quando me deparo com uma cena que insiste em torturar meus olhos: uma menina, talvez com cerca de uns oito anos, deitada dormindo na rua, muito suja, despenteada, com um pedaço de pão ao seu lado. Não sei se continuo a escrever o texto ou se me levanto para enxugar a vergonha que se me derrama dos olhos.
Caramba! Até quando?
Até quando nossos filhos vão ter família, alimentação, escola, educação mas permanecerão amedrontados pela fúria de uma população marginal que esquecemos de acolher, de alimentar, de educar?
Vamos imaginar que estivéssemos abandonados nas ruas de um grande centro urbano, sozinhos e sem referências. Seria uma situação muito difícil, creio que todos concordam. Mas agora olhemos para o lado, para nossos filhos, para as crianças que circulam em nosso ambiente familiar. São muito menos capazes de se protegerem do que nós. Vivem uma idade em que precisam de cuidados, de encaminhamentos, de acolhimento. Pois são crianças como as nossas, nem mais nem menos humanas, que esquecemos nas ruas, que deixamos à mercê da sorte, sorte quase sempre ingrata na violência com que estupra física, moral e emocionalmente aquelas que lançou à vida.
É um grito de descrença? Também não. Talvez Deus esteja fazendo um apelo para despertar nossa essência mais humana, para esquecermos um pouco do egocentrismo estimulado pelo sistema vigente, para percebermos que família não é somente aquela que divide células de sangue mas também a que compartilha anseios de felicidade, e todos queremos ser felizes. Aquelas crianças abandonadas nas ruas querem ser felizes e estão adoecendo na frustração de suas necessidades. Baterão às nossas portas amanhã, pedindo o remédio do resgate pelas injustiças que sofreram, fazendo derramar o sangue daqueles a quem chamamos família, tomando pela força aquilo que não lhes damos de direito.
As ruas tornaram-se o playground dos condomínios da miséria urbana, onde estas crianças brincam de ser gente grande antes do tempo, de serem soldadinhos de borracha a lutar nas batalhas diuturnos da sobrevivência, assistindo à morte dos sonhos da infância. E uma criança precisa sonhar acordada. Precisa brincar no imaginário de suas fantasias organizando seus conteúdos psíquicos para a construção da maturidade. Não é de estranhar que estas que vivem no deserto onírico do abandono, acabem por despertar em um pesadelo de violências.
Criança... esperança? É, acho que sim; caso contrário não encontraria motivação para escrever estas linhas. Elas ainda são uma esperança, a esperança que devemos alimentar de nossa própria sobrevivência. Porque o caos social é fruto do caos psíquico que vige em nossas mentes. A eterna luta entre prazer e realidade no mal estar da civilização, na descrição de Freud.
Enquanto não percebemos que não é possível viver somente de prazer, sem aceitar a cota de frustração pessoal que se impõe na divisão de direitos e deveres, permaneceremos repartidos entre os que gozam e os que sofrem, sendo que, pelas leis da reencarnação - mais do que nunca comprovada pelos estudos de regressão a vidas passadas - viver uma ou outra situação é só questão de momento. Hora aqui, outra acolá.

João Carvalho Neto
Psicanalista, autor do livro “Psicanálise da alma”.
www.joaocarvalho.com.br

Texto revisado por: Cris

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Conteúdo desenvolvido por: João Carvalho Neto   
Psicanalista, Psicopedagogo, Terapeuta Floral, Terapeuta Regressivo, Astrólogo, Mestre em Psicanálise, autor da tese “Fatores que influenciam a aprendizagem antes da concepção”, autor da tese “Estruturação palingenésica das neuroses”, do Modelo Teórico para Psicanálise Transpessoal, dos livros “Psicanálise da alma” e “Casos de um divã transpessoal"
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