Dependência, Independência e Interdependência.
Autor Paulo Salvio Antolini
Assunto AutoconhecimentoAtualizado em 03/09/2012 17:43:10
Dependência, Independência e Interdependência.
Vocês já repararam como as pessoas estão tendo cada vez mais dificuldades de estabelecerem um relacionamento sólido e duradouro? Em quase todas as conversas a respeito desse assunto, tem sido comum o ouvir "Eu não quero, pois não abro mão de minha liberdade". "Agora que sou livre, me amarrar de novo? Nem pensar". Casais quando se unem, após algum tempo um dos parceiros tornou-se "sombra" do outro, ficando então à mercê da vontade alheia. É a clássica perda da identidade, onde a despersonalização vai se instalando e sufocando cada vez mais, a pessoa vai perdendo "ar". Não consegue ver brilho no sol de cada dia.
A vida vai passando, a insatisfação instalada dia após dia, a rotina de quem não tem um porque sorrir, sentimentos sempre sombrios e falta de vitalidade que impulsiona o ser humano às conquistas e realizações.
Num determinado momento, com muito sofrimento e normalmente em processo muito desgastante, a pessoa se separa, voltando então a ter um espaço todo seu, que no início nem sabe aproveitá-lo. O sofrimento é grande, tumulto de emoções, vai-se "rasgando os tecidos" que envolviam a relação e inicia-se uma nova etapa. Por ter sido a convivência muito sofrida, principalmente no final, a solidão propicia uma condição para o encontro consigo mesma. A pessoa vai se reencontrando em gostos, desejos, valores que há muito havia se afastado e que passa a ser resgatado. Começa a se instalar uma paz interior, um estado de harmonia há muito não sentida.
O sentir esta paz é tão bom, viver o direito de pensar, fazer, agir sem ninguém para recriminar ou tentar impedir, estabelece-se um sentimento de independência tão forte, cujo prazer e satisfação pessoal tornam-se enorme, não "há preço que pague". Essa liberdade, esse direito de ir e vir, fazer o que bem entender, de errar e assumir seus erros é grandioso.
Então começa a se estabelecer um comportamento não consciente que é a criação de uma barreira não visível e não perceptível quanto à formação de uma nova relação, estável e duradoura, pois se estabeleceu a generalização inconsciente de que estar vivendo um compromisso é perder a liberdade, deixar de ser independente e lá se vai novamente à individualidade, a duras penas reconquistada. O discurso até diz querer achar essa parceria, esse alguém para conviver, mas isso é apenas o que chamo de "amor de cabeça", controlável, que se desfaz na medida em que começar a incomodar, pois o "amor de coração", aquele que se sente, que desperta todos os tipos de emoções não pode ser manipulado de acordo com a vontade.
Aqui muitas pessoas deixam de cultivar as relações de suas vidas. Aquela pessoa que lhe traria a condição de ampliar sua felicidade, de complementar sua vida.
É preciso saber que, quando alguém torná-se independente e de forma madura, consciente nunca mais o deixará de ser.
Compartilhar com alguém de sua própria vida significa estabelecer uma interdependência que não fere a individualidade e nem tira a liberdade se ser quem se é. Compartilhar significa poder contar com o outro em nossas vidas, participando e desfrutando de todas as possibilidades. Quem tem a interdependência se por alguma razão vier a estar só novamente, não se sentirá perdida e sem rumo, pois mesmo a dois nunca deixou de ser ela mesma.
Há uma visão egoísta e egocêntrica de liberdade correndo por ai. Ser livre não significa poder fazer o que quiser e como quiser. Mesmo sendo só existe a necessidade de se cumprir com as normas da boa convivência.
Saibam que é possível viver uma relação juntos, até dividindo o mesmo espaço e o respeito ao outro existir. O respeito à individualidade não está no ser só, isolado e sim no respeitar-se e fazer-se respeitar, para tanto, também respeitando ao outro. Quando isso for realmente compreendido, todos quereremos ser interdependentes.
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