Do Homem Normal ao Homem Natural: o Caminho da Consciência

Autor Paulo Tavarez

Assunto Autoconhecimento
Atualizado em 8/29/2025 8:02:48 AM

O homem moderno já não vive integrado à Natureza como em tempos remotos. Muitos mitos da antiguidade - como o da Expulsão do Paraíso - simbolizam essa ruptura entre o Ser Humano e o Todo, como se tivéssemos sido afastados da Casa do Pai. Essa separação pode ser compreendida tanto pela linguagem espiritual, como uma queda de consciência, quanto pela linguagem científica, como o desenvolvimento da razão e do ego.

A partir desse momento, deixamos de viver de forma espontânea e passamos a nos organizar dentro de normas e regras necessárias para a convivência e a sobrevivência. Porém, nesse processo, muitas vezes nos afastamos de nossa essência.

Deixamos de ser naturais e nos tornamos apenas "normais".

O homem "normal" é aquele que vive condicionado por padrões, obrigações e expectativas sociais, inconsciente de sua verdadeira natureza espiritual. Carrega medos, ansiedades e ilusões, sendo facilmente manipulado por sistemas externos. Como lembra Jean-Yves Leloup, normal é simplesmente "aquele que segue as normas".

Contudo, dentro de cada ser humano existe algo maior: o Homem Natural, expressão da centelha divina, o Self, o Eu verdadeiro. Ele se manifesta por meio da intuição, dos sonhos, da voz interior que nos orienta para além da lógica do ego. É o nosso Cristo interior, a Consciência Superior, que observa silenciosamente o desenrolar da vida, aguardando o momento de se manifestar em plenitude.

Enquanto o homem normal se prende ao mundo material e às memórias de culpas, frustrações e desejos, o Homem Natural permanece conectado ao Todo, representando a Consciência desperta. Ele não destrói o homem normal, mas o transforma - dissolvendo gradualmente as ilusões e abrindo caminho para a verdade interior.

Esse processo, no entanto, nem sempre é suave: muitas vezes o sofrimento torna-se um mestre inevitável, revelando limites e forçando a expansão da consciência. Ao lado dele, práticas como a meditação, a oração e os mantras fortalecem essa conexão com o Eu verdadeiro, permitindo que o Homem Natural se manifeste com mais clareza.

A tradição espiritual nos oferece símbolos para compreender essa passagem. No Evangelho, por exemplo, Zaqueu - o publicano - pode ser visto como o homem comum que, em meio às limitações do ego, busca ver mais alto. Ao subir na árvore, ele expressa seu desejo de se elevar. Mas Jesus, representação do Homem Natural, pede que ele desça, isto é, que abandone a exaltação da personalidade e reencontre a humildade do Espírito. É nesse gesto de abertura e reconciliação que a "salvação entra em sua casa", isto é, em seu ser.

Assim, a verdadeira transformação ocorre quando o homem normal se rende ao Homem Natural - deixando-se conduzir pela Consciência que habita em seu interior e que, pacientemente, sempre aguardou para se manifestar.

Autor Paulo Tavarez
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